Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Por voto das mulheres, Bolsonaro se "veste" de Lula
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Esta é parte da versão online da edição desta segunda-feira (25) da newsletter da Thaís Oyama — um radar das pesquisas: o que está por trás dos números que apontam os rumos dessas eleições. Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista conta, com base em estudo do cientista social Felipe Nunes, do instituto Quaest, como Bolsonaro tenta reproduzir o milagre da multiplicação do voto feminino obtido pelo PT no passado. O texto traz ainda a coluna "Em off", que conta outro milagre: Luciano Bivar conseguiu convencer os três principais candidatos à Presidência de que eles podem fechar uma aliança com o seu União Brasil. Inscreva-se para receber a newsletter e conheça outros nove boletins exclusivos do UOL.
********
Lula, como Bolsonaro, já foi preferido por homens
Pesquisas eleitorais são unânimes em atestar que o eleitorado feminino é o ponto fraco do presidente Jair Bolsonaro (PL) nestas eleições.
Na outra ponta, como era de se esperar num pleito polarizado, o voto feminino é hoje um dos pontos fortes do ex-presidente Lula. Segundo o último Datafolha, o petista tem 49% das intenções de voto neste segmento contra 21% de Bolsonaro.
Ocorre que, até a sua reeleição, em 2006, Lula era largamente mais votado por homens do que por mulheres.
A partir daquele ano, o cenário mudou.
Segundo estudo feito pelo cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes (*), a vantagem numérica dos eleitores petistas sobre as eleitoras do partido já era dois terços menor quando Dilma Rousseff foi eleita em 2010.
Em 2018, quando o candidato do PT era Fernando Haddad, o sinal se inverteu e, pela primeira vez, o eleitorado feminino da sigla superou o masculino, por 2 pontos.
Agora, em 2022, novamente com Lula candidato, as mulheres já estão 11 pontos à frente dos homens entre os eleitores do PT.
Por que as mulheres passaram a votar mais no PT
Tanto Lula quanto seu partido, quando surgiram, "falavam" mais com os homens do que com as mulheres. "Eles formavam a maioria da base da militância petista nos anos 80", lembra Nunes.
A partir do momento, porém, em que o ex-metalúrgico e líder sindical se tornou presidente em 2003, e focou seu governo na implementação de políticas sociais, essa relação se alterou.
"Programas como o Bolsa Família colocaram a mulher no centro da política pública", afirma o cientista social.
E o fato de serem elas (e não seus maridos, companheiros ou filhos) as titulares do cartão de acesso ao benefício é apenas um exemplo desse protagonismo.
Pesquisa Ipespe encomendada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e divulgada no último mês de maio mostra que em 56% dos lares brasileiros são as mães as responsáveis por gerenciar o orçamento doméstico: pagar contas, fazer compras, administrar o que entra e o que sai.
"Por causa dessa centralidade das mulheres no ambiente doméstico, o impacto de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, para o PT, foi muito maior entre o eleitorado feminino", diz Nunes.
Bolsonaro: em busca do milagre da multiplicação do voto feminino
Quase 30 pontos percentuais atrás de Lula nas intenções de voto das mulheres, Bolsonaro usa a profusão de benefícios sociais que criou a poucos meses da eleição para tentar repetir o fenômeno da multiplicação do voto feminino vivido pelo PT, numa tática conhecida na ciência política como "triangulação".
O termo, cunhado por Dick Morris, estrategista eleitoral do ex-presidente americano Bill Clinton, descreve a situação em que um candidato se apropria de propostas bem-sucedidas do seu oponente alegando que elas, por sua oportunidade ou urgência, devem estar acima de divisões ideológicas.
O termo "triangulação" vem da ideia de que esquerda e direita ocupariam as extremidades de uma linha imaginária —a base do triângulo—, enquanto a proposta "roubada" seria o vértice da figura geométrica, por estar "acima" e no "centro" da linha que opõe os extremos.
O que o democrata Bill Clinton fez com sucesso nos anos 90 ao adotar pontos das reformas econômicas defendidas por republicanos é o que tenta fazer agora Bolsonaro — que no passado classificou de "voto de cabresto" o Bolsa Família.
Mas, no caso do brasileiro, pode ser, como dizem os americanos, muito pouco e muito tarde.
(*) A partir de dados do padrão de votação do eleitorado nos segmentos de gênero, renda familiar e região, o estudo comparou o tamanho da vantagem histórica que os candidatos do PT obtiveram nas pesquisas Ibope de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018 e na pesquisa Genial/Quaest (2022) neste momento da campanha.
********
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.