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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Por voto das mulheres, Bolsonaro se "veste" de Lula

O presidente Jair Bolsonaro: seguindo a cartilha de Dick Morris - Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro: seguindo a cartilha de Dick Morris Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

26/07/2022 04h00

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Esta é parte da versão online da edição desta segunda-feira (25) da newsletter da Thaís Oyama — um radar das pesquisas: o que está por trás dos números que apontam os rumos dessas eleições. Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista conta, com base em estudo do cientista social Felipe Nunes, do instituto Quaest, como Bolsonaro tenta reproduzir o milagre da multiplicação do voto feminino obtido pelo PT no passado. O texto traz ainda a coluna "Em off", que conta outro milagre: Luciano Bivar conseguiu convencer os três principais candidatos à Presidência de que eles podem fechar uma aliança com o seu União Brasil. Inscreva-se para receber a newsletter e conheça outros nove boletins exclusivos do UOL.

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Lula, como Bolsonaro, já foi preferido por homens

Pesquisas eleitorais são unânimes em atestar que o eleitorado feminino é o ponto fraco do presidente Jair Bolsonaro (PL) nestas eleições.

Na outra ponta, como era de se esperar num pleito polarizado, o voto feminino é hoje um dos pontos fortes do ex-presidente Lula. Segundo o último Datafolha, o petista tem 49% das intenções de voto neste segmento contra 21% de Bolsonaro.

Ocorre que, até a sua reeleição, em 2006, Lula era largamente mais votado por homens do que por mulheres.

A partir daquele ano, o cenário mudou.

Segundo estudo feito pelo cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes (*), a vantagem numérica dos eleitores petistas sobre as eleitoras do partido já era dois terços menor quando Dilma Rousseff foi eleita em 2010.

Em 2018, quando o candidato do PT era Fernando Haddad, o sinal se inverteu e, pela primeira vez, o eleitorado feminino da sigla superou o masculino, por 2 pontos.

Agora, em 2022, novamente com Lula candidato, as mulheres já estão 11 pontos à frente dos homens entre os eleitores do PT.

Por que as mulheres passaram a votar mais no PT

Tanto Lula quanto seu partido, quando surgiram, "falavam" mais com os homens do que com as mulheres. "Eles formavam a maioria da base da militância petista nos anos 80", lembra Nunes.

A partir do momento, porém, em que o ex-metalúrgico e líder sindical se tornou presidente em 2003, e focou seu governo na implementação de políticas sociais, essa relação se alterou.

"Programas como o Bolsa Família colocaram a mulher no centro da política pública", afirma o cientista social.

E o fato de serem elas (e não seus maridos, companheiros ou filhos) as titulares do cartão de acesso ao benefício é apenas um exemplo desse protagonismo.

Pesquisa Ipespe encomendada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e divulgada no último mês de maio mostra que em 56% dos lares brasileiros são as mães as responsáveis por gerenciar o orçamento doméstico: pagar contas, fazer compras, administrar o que entra e o que sai.

"Por causa dessa centralidade das mulheres no ambiente doméstico, o impacto de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, para o PT, foi muito maior entre o eleitorado feminino", diz Nunes.

Bolsonaro: em busca do milagre da multiplicação do voto feminino

Quase 30 pontos percentuais atrás de Lula nas intenções de voto das mulheres, Bolsonaro usa a profusão de benefícios sociais que criou a poucos meses da eleição para tentar repetir o fenômeno da multiplicação do voto feminino vivido pelo PT, numa tática conhecida na ciência política como "triangulação".

O termo, cunhado por Dick Morris, estrategista eleitoral do ex-presidente americano Bill Clinton, descreve a situação em que um candidato se apropria de propostas bem-sucedidas do seu oponente alegando que elas, por sua oportunidade ou urgência, devem estar acima de divisões ideológicas.

O termo "triangulação" vem da ideia de que esquerda e direita ocupariam as extremidades de uma linha imaginária —a base do triângulo—, enquanto a proposta "roubada" seria o vértice da figura geométrica, por estar "acima" e no "centro" da linha que opõe os extremos.

O que o democrata Bill Clinton fez com sucesso nos anos 90 ao adotar pontos das reformas econômicas defendidas por republicanos é o que tenta fazer agora Bolsonaro — que no passado classificou de "voto de cabresto" o Bolsa Família.

Mas, no caso do brasileiro, pode ser, como dizem os americanos, muito pouco e muito tarde.

(*) A partir de dados do padrão de votação do eleitorado nos segmentos de gênero, renda familiar e região, o estudo comparou o tamanho da vantagem histórica que os candidatos do PT obtiveram nas pesquisas Ibope de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018 e na pesquisa Genial/Quaest (2022) neste momento da campanha.

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