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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso Silveira é ponta do iceberg do grande embate que Lula terá de arbitrar

O ministro Alexandre Silveira: novo alvo dos radicais do PT  - Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro Alexandre Silveira: novo alvo dos radicais do PT Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Colunista do UOL

02/03/2023 12h27

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Uma parte minoritária do PT decidiu pedir a cabeça do ministro Alexandre Silveira (PSD).

Desta vez, a alegação é de que o titular das Minas e Energia "traiu" o presidente Lula ao nomear para o Conselho de Administração da Petrobras nomes "pró-mercado". A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em entrevista ao portal Metrópoles, chegou a acusar Silveira de tentar cometer "estelionato eleitoral" ao escolher conselheiros que seriam "contra o que o presidente falou na campanha".

O episódio Silveira é a mais nova ponta do iceberg a emergir das profundezas convulsionadas do partido de Lula — chacoalhado, dia sim, dia não, pelo embate entre suas forças de esquerda e seus moderados. Na última briga, a da reoneração dos combustíveis, venceu o campo dos moderados, hoje parco de habitantes: além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a olho nu é possível enxergar nele o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

O ataque de Gleisi a Silveira é a reação da esquerda do PT a essa última derrota e também parte de uma briga que, se hoje se dá à luz do dia, nos bastidores começou bem antes: na campanha e na montagem do governo.

Como o PT nunca apresentou um programa de governo, o cabo-de-guerra entre os polos do partido se fez presente em cada comício de campanha e até o momento em que foi anunciado o último ministro.

Gabinete montado, prevaleceu o grupo capitaneado por Gleisi e pelo atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Mesmo tendo ficado sem ministério, e inclusive por isso mesmo, a presidente do PT terminou por emplacar aliados importantes no Palácio, como os hoje ministros Paulo Pimenta (Secretaria da Comunicação), Márcio Macedo (Secretaria Geral da Presidência) e, na Esplanada, Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). Já Haddad acabou indo desguarnecido para a linha de frente da economia — com Simone Tebet (MDB) no Planejamento, por exemplo, no lugar de um aliado por ele escolhido.

O resultado é o que se vê hoje — e o que se vê hoje não é uma intriga de comadres, mas o reflexo de uma questão fundamental até agora não respondida: que governo será esse?

No campo da economia, irá optar por afrontar os agentes econômicos ou trabalhar para criar um ambiente pacífico para os investimentos? No campo político, vai ampliar a sua base social atraindo a parte do eleitorado que não votou no PT ou seguirá falando para convertidos?

Pesquisa divulgada pela Febraban no início da semana mostra que, por enquanto, o governo não conseguiu avançar um milímetro sobre o o eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que continua do exato tamanho que tinha em novembro — antes do 8 de janeiro, portanto.

Observa um grão-petista que o governo Bolsonaro preferiu passar quatro anos falando para bolsonaristas. Mais tarde, na campanha, trabalhou para agregar o segmento antipetista. "O PT pode seguir o mesmo rumo, mas tem de lembrar que, para Bolsonaro, o resultado desse caminho foi a derrota", diz o político.

Evidentemente, quem irá determinar que rumos tomará o governo não serão nem os radicais nem os moderados do PT e do governo, mas Lula e tão somente ele. A pesar em favor de uma arbitragem rápida do presidente no conflito agora crônico estão dois fatos incontornáveis: o conhecido pragmatismo do petista e a sua pressa em fazer um governo exitoso. Diz o político com longas décadas de intimidade com presidente. "Lula irá deixar a disputa correr até um limite, depois se posicionará. Sabe que se incendiar o barquinho, o barquinho afunda".

Enquanto isso, a tardinha cai. E se ninguém aposta que a grita pela queda de Silveira terá consequências, na Petrobras, ao menos, a barafunda está instalada, e a Assembleia Geral de Acionistas, adiada até que as partes se entendam.