Thiago Herdy

Thiago Herdy

Reportagem

Bancos defendem operação que beneficiou assessores de Silveira e Pacheco

Bancos envolvidos na operação financeira que permitiu a assessores do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), assumirem a gestão de um empreendimento de R$ 114 milhões no interior de Minas Gerais defenderam a legalidade da operação.

Bradesco, Votorantim e Santander eram os donos dos fundos de investimento que no início deste ano transferiram o empreendimento Parques do Vale, em Caratinga (MG), a uma pequena empresa ligada ao advogado José Júlio Costa Neto, braço direito de Silveira, conforme mostrou ontem o UOL.

Por pelo menos quatro meses, uma assessora de Pacheco, Bruna Godinho, trabalhou no empreendimento recebendo apenas o salário de funcionária do gabinete do senador.

Os dois políticos negam envolvimento com o empreendimento.

Originalmente dona do negócio, a construtora Egesa cedeu suas ações no empreendimento aos bancos como forma de quitar dívidas bancárias.

Ela não conseguiu finalizar as obras de infraestrutura necessárias à conclusão do projeto, fato que motivou o ministro Alexandre Silveira, dono de lotes no empreendimento, a ingressar com uma ação judicial contra a construtora e os bancos, novos donos do negócio, cobrando a finalização das obras.

Silveira desistiu da ação judicial no início deste ano, poucos dias depois de os bancos decidirem entregar o controle do empreendimento a uma empresa ligada a seu braço-direito e assessor, José Júlio Costa Neto, a Genesys Participações.

Por nota, o ministro negou haver relação entre os dois episódios.

"Desistir da ação por avaliação exclusivamente jurídica, inclusive para evitar risco de sucumbência", informou.

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Sucumbência é quando a parte perdedora de um processo é obrigada a pagar honorários aos advogados da parte vencedora.

O Santander especulou a mesma razão para a desistência do processo por parte da empresa do ministro.

"A extinção da ação judicial não guarda relação com a venda, e pode ter sido motivada pelas baixas chances de êxito do autor, bem como pelo risco de condenação em honorários de sucumbência", informou, por meio de nota.

Registrada em nome de um laranja, a Genesys assumiu o empreendimento com a anuência dos bancos. Eles tiraram R$ 14,2 milhões do caixa do empreendimento antes da operação e deixaram outros R$ 14 milhões em caixa para os novos donos concluírem as obras de infraestrutura.

A nova empresa que assumiu o negócio passou a ser proprietária de 240 lotes, que estão avaliados entre R$ 114 milhões e R$ 190 milhões. Por outro lado, a firma assumiu o passivo judicial de compradores que processam o empreendimento pelo atraso nas obras.

"O Santander esclarece que o negócio jurídico está em conformidade com as normas aplicáveis e condizente com as práticas de mercado para esse tipo de operação. A Ibiporã era deficitária e a avaliação foi que a melhor solução era sua venda, o que foi feito considerando a melhor proposta ofertada", informou.

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O Banco Votorantim também defendeu a operação.

"As transações questionadas ocorreram em observância às normas aplicáveis e em condições usuais para operações desse tipo. A deliberação pela venda das ações da Ibiporã foi realizada ao vencedor de um processo competitivo e ocorreu de forma independente à extinção da ação judicial promovida pela CAS", informou, numa referência à empresa do ministro Alexandre Silveira que é dona de lotes e processava os bancos.

O banco Bradesco informou que não comentaria o assunto.

Responsável por realizar a gestão dos fundos que entregaram o Parques do Vale à Genesys, a corretora Oliveira Trust informou que não se manifestaria sobre o tema, por entender se tratar de "operação sigilosa e restrita".

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