Wálter Maierovitch

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Opinião

Por que Putin precisou de Kim Jong-un?

Para os especialistas europeus em direito internacional público, a Coreia do Norte, tecnicamente, declarou guerra à Ucrânia.

O país norte-coreano, sob ditadura de Kim Jong-un, efetivamente tomou partido. Enviou contingente militar em auxílio aos russos. Assim, entrou nela como participante.

Dos cerca de 12 mil combatentes norte-coreanos colocados à disposição de Putin, e que já teriam sido treinados pelos russos, muitos estariam pisando solo ucraniano.

Cerca de 3.000 norte-coreanos, segundo os serviços de inteligência de Kiev e dos EUA, já estariam a combater em Donbass. Zelensky ainda não tem nenhum prisioneiro norte-coreano a exibir. E nem cadáveres.

Tal situação fática, presença em solo ucraniano, consoante o direito internacional público, o popular direito das gentes, significa declaração de guerra, que não precisa ser escrita, formal.

Para o ministro de relações exteriores russo, caberá a saída de estarem os norte-coreanos em território de maioria russa e declarado russo, embora unilateralmente e sob contestação de Zelensky.

Putin em apuros internos

Os cidadãos russos não sabem quantos soldados morreram na guerra decorrente da invasão da Ucrânia. Tal informação é censurada pelo governo Putin.

Nos cálculos dos 007 da inteligência ocidental, mais de 250 mil militares russos morreram em combate na Ucrânia.

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Putin, em razão disso, ficou na chamada "sinuca de bico", pois os russos não atendem às convocações ao recrutamento, ou melhor, fogem dele. E ter forças ucranianas ingressando em território russo mostrou grande fragilidade.

O russo, quando da invasão, terceirizou a guerra ao usar 20 mil mercenários do Grupo Wagner, do seu conterrâneo Yevgeny Pregozhin.

Dada a passeata de tipo reivindicatório de mercenários organizada em Moscou por Pregozin - ele queria a queda do ministro das Forças Armadas -, houve rompimento contratual.

Dias depois do fim do contrato e do rompimento de amizade de infância nascida em São Petersburgo, o avião comercial no qual Pregozin viajava caiu e ele morreu, em 13 de junho passado. Apenas parte dos mercenários aceitaram ingressar, embora com soldo alto, nas forças regulares russas.

Putin terceirizou a guerra, e a razão é conhecida. Quando morrem mercenários, os espólios corporais não precisam ser entregues aos familiares, como acontece com os combatentes russos. E entregar restos de corpos às mães russas causa, pela difusão boca a boca, desprestígio político a Putin.

As mães sempre protestam, e o recrutamento torna-se problemático.

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Diante desse quadro e com os russos ainda não sentindo a elevação nos preços dos alimentos, Putin apelou ao ditador norte-coreano. Foi atendido de pronto e ainda levou munições e bombas para uso na Ucrânia.

O problema, como constou em relatórios de 007 da inteligência ocidental, é serem de baixa qualidade e eficácia as munições e bombas: não deflagram. Na fabricação norte-coreana não existe o chamado "controle de qualidade", só o controle de quantidade.

Papa Francisco

Na quarta-feira (23), o papa Francisco, perante uma multidão de peregrinos, falou da sua preocupação com o crescimento do número de mortos na guerra da Ucrânia.

Bergoglio avisou estar na posse das estatísticas sobre o número de mortos e usou o termo italiano "terribile" (terrível).

O Vaticano já chegou a colocar-se à disposição como Estado pronto a liderar uma missão de paz. Bergoglio até manifestou-se por ocasião do encontro de paz ocorrido na Suíça, para o qual, por incrível, a Rússia não foi convidada.

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A China tenta promover um outro encontro, com a presença da Rússia.

Por outro lado, tanto a proposta de Zelensky, presidente ucraniano de mandato presidencial prorrogado pela impossibilidade de realização de eleições, como a de Lula foram consideradas pelos especialistas em direito internacional e pela diplomacia europeia como inviáveis.

Zelensky, na sua proposta de cinco pontos, coloca a aceitação condicionada ao ingresso imediato da Ucrânia na Otan. Putin, a respeito, não quer a Otan próxima às suas fronteiras.

Lula, com proposta feita a quatro mãos com Putin e bênção da China, desmoralizou-se internacionalmente. Não é mais o Lula admirado do primeiro mandato.

A proposta de Lula, com Celso Amorim abraçado no papel de Bismarck tupiniquim do governo Lula, foi dada como risível. Isso por cogitar de a Rússia ficar com territórios conquistados da Ucrânia. E os territórios são estratégicos, a ensejar maior proximidade russa com a conquistada Crimeia, com controle de parte do mar e do território ucraniano.

Segundo muitos da diplomacia europeia e norte-americana, Lula ficou inconfiável e é visto em panos de "pária internacional", como aconteceu com o seu antecessor, o golpista Jair Bolsonaro.

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Eleição americana: fiel da balança

A solução da guerra, frise-se, na visão dos especialistas em direito internacional e de respeitáveis estudiosos da geopolítica, dependerá do resultado da eleição americana de 5 de novembro próximo.

Como sabem até as pedras do solo ucraniano, Trump, caso eleito presidente e no exercício das funções, não mais ajudará a Ucrânia. Já insinuou isso diversas vezes.

Trump é cético com relação à Otan e crítico da Europa ocidental.

Numa síntese, Zelensky, com Trump, terá de buscar um acordo de paz urgente e o seu Estado-nação, invadido em face do imperialismo russo, sairá prejudicado.

Com a eleição de Kamala Harris, o presidente Putin terá dificuldades, pois a Ucrânia continuará prestigiada, mantidos os apoios de União Europeia e Otan.

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Mais ainda, o presidente Putin, ao sentir a manutenção dos bloqueios econômicos, o isolamento internacional e os problemas do recrutamento pelo elevado número de soldados russos mortos, deverá abrir-se para uma paz, com poucas vantagens.

O seu plano expansionista, que levaria à invasão da Moldávia para apossamento da região da Transnístria, também iria para o espaço e com o sabor amargo da frustração.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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