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É falso que governo Bolsonaro tenha implantado scanners de veículos na PRF

12.nov.2019 - Post traz informação falsa de que scanners da PRF foram comprados no atual governo - Arte/UOL
12.nov.2019 - Post traz informação falsa de que scanners da PRF foram comprados no atual governo Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em São Paulo

12/11/2019 19h37

Resumo da notícia

  • Vídeo compartilhado em redes sociais é trecho de reportagem da TV Globo exibida em 2013
  • A Polícia Rodoviária Federal informou que não foram comprados novos scanners em 2019
  • A verificação do conteúdo falso foi feita pelo Comprova, coalizão de 24 veículos de imprensa brasileiros da qual o UOL é integrante

É falso que scanners veiculares para uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenham sido implantados no governo Bolsonaro. Postagens que circulam nas redes sociais pelo menos desde o dia 2 de novembro utilizam um vídeo que é parte de uma reportagem do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, veiculada no dia 4 de março de 2013. Os vídeos viralizados trazem títulos como o seguinte: "Olha o brinquedinho novo que o governo Bolsonaro implantou na PRF!!!"

A matéria do Bom Dia Brasil recuperava parte de uma reportagem especial exibida no dia anterior pelo Fantástico apresentando a novidade e como funciona essa tecnologia. O equipamento é capaz de fazer um raio-x em veículos parados e em movimento e identificar drogas, armas e mercadorias fora do padrão.

Além do vídeo ser antigo, a Polícia Rodoviária Federal informou ao Comprova que não foram comprados novos scanners em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PSL). O órgão não confirmou se eles ainda são utilizados. Segundo a PRF, por motivos de segurança.

O Comprova identificou várias publicações com o mesmo trecho do vídeo e legendas idênticas que foram compartilhadas no Facebook, YouTube e Twitter. Até a tarde desta terça-feira (12), quatro dessas postagens no Facebook somavam quase 12 mil visualizações.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais.

Como verificamos

Ao assistir o vídeo, o Comprova identificou que se tratava do trecho de uma reportagem da TV Globo a partir de três elementos facilmente encontrados: a marca d'água da emissora no canto direito da tela, o microfone com os símbolos da Globo e da RPC TV, sua afiliada no Paraná, e pela grafia do telejornal Bom Dia Brasil que aparece junto dos créditos do inspetor da PRF Wilson Martines, que foi entrevistado na reportagem.

Buscamos palavras-chave do vídeo no Google, como "scanner", "raio-x" e "PRF" e as reportagens do Bom Dia Brasil e do Fantástico, ambas de março de 2013, apareceram nos primeiros resultados da busca.

Ao assistir ambas as reportagens, confirmamos que o vídeo se tratava do trecho de uma reportagem do Bom Dia Brasil veiculada no dia 4 de março de 2013. O vídeo original, que tem 1min52seg, foi recortado e teve utilizado nas publicações que viralizaram apenas o trecho entre 0min13seg e 1min09seg.

Comprovado que se tratava de um vídeo antigo, o Comprova procurou a Superintendência da PRF no Paraná, estado onde foram implantados os primeiros scanners - que aparecem na reportagem de 2013 -, e a Polícia Rodoviária Federal, através da sede do órgão em Brasília (DF).

Em resposta ao Comprova, por e-mail, a PRF informou que não foram feitas novas aquisições de scanners neste ano. O Comprova também fez uma busca na lista de licitações de 2019 feitas pelo DPRF, entre 1º de janeiro e 6 de setembro - data da última atualização. Não foi localizada qualquer licitação para compra de scanners.

Foi procurado ainda o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que informou que o tema deveria ser tratado com a PRF. Por telefone, foi procurada ainda a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), responsável pela compra de 38 equipamentos em 2013, que também direcionou a equipe à PRF, em Brasília.

Bolsonaro implantou scanners na PRF?

A tecnologia de scanners veiculares capaz de fazer um raio-x quando os veículos estão em movimento não foi adquirida no governo Bolsonaro. Na verdade, esse tipo de equipamento já havia sido testado em 2012, ainda no mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT).

De acordo com uma publicação no site oficial do Ministério de Justiça e Segurança Pública, no ano de 2013, o governo investiu US$ 66,5 milhões, sendo US$ 1,75 milhão por scanner. Essa quantia equivale a compra de mais 38 scanners que foram distribuídos, na época, para polícias de todas as unidades da federação, 22 entre os 11 estados de fronteira e 16 para os demais estados e o Distrito Federal.

O ministério reforçou em nota publicada em seu site que cinco desses equipamentos já eram utilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) desde 2012.

O uso de raio-x móvel fazia parte da Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron), para coibir a entrada de drogas.

A assessoria de comunicação da PRF informou que não houve compra de novos equipamentos de scanner este ano. Portanto, o governo Bolsonaro não chegou a investir, pelo menos por enquanto, nessa tecnologia, como diz o boato verificado pelo Comprova.

Sob alegação de questões de segurança e eficácia, o órgão não informou se os equipamentos comprados anteriormente continuam em uso pela PRF e em quais locais.

Como esses equipamentos funcionam?

Os scanners veiculares ou automotivos são aparelhos que fazem uma 'radiografia' do interior de veículos parados ou em movimento. O equipamento, que se assemelha a um computador, captura imagens de objetos através da carroceria dos carros. Eles geralmente ficam dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e funcionam como se fossem um radar.

Os scanners começaram a ser utilizados pela PRF principalmente para apreensão de cargas contrabandeadas e de drogas vindas do Paraguai pela fronteira com o Brasil, cobrindo uma área de 16 mil quilômetros de extensão. Além disso, o scanner também é útil para inibir a circulação de quadrilhas organizadas que explodem caixas eletrônicos e fazem assaltos a agências bancárias.

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o aparelho tem capacidade de operação de 8 horas seguidas, o que possibilita o flagrante imediato. As imagens obtidas são gravadas e armazenadas num banco de dados que serve como base para investigações das Secretarias da Segurança Pública dos Estados.

Repercussão nas redes

O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.

O vídeo verificado foi compartilhado por pelo menos 80 perfis no Facebook a partir do dia 2 de novembro de 2019. Quatro postagens somavam, até a tarde desta terça-feira (12), quase 12 mil visualizações. Também foram encontrados compartilhamentos por perfis no Twitter e no Instagram a partir de 2 de novembro e no Youtube, a partir de 9 de novembro.

A postagem mais antiga encontrada pelo Comprova foi feita no Twitter pelo perfil @joanklis, mantido desde o dia 11 de outubro por um usuário que faz postagens a favor do governo Bolsonaro. O mesmo conteúdo foi compartilhado por um perfil com o mesmo nome no Facebook. O Comprova entrou em contato com o usuário através do Facebook, mas não obteve retorno. Não foi possível fazer contato no Twitter, uma vez que o envio de mensagens estava bloqueado.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.