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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


É mentira que governo bloqueou WhatsApp por causa dos caminhoneiros parados

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/05/2018 11h00

Os grupos nas redes sociais parecem estar um tom acima do normal com a greve dos caminhoneiros. Além de servir de canal de comunicação para os manifestantes nas estradas, o WhatsApp tem sido o principal meio de espalhar boatos sobre a paralisação.

De bloqueio do aplicativo pelo governo e plano de intervenção militar a supermercados saqueados e opiniões de celebridades, notícias falsas tomaram as redes sociais e aplicativos de mensagens desde que a greve começou, no dia 21.

FALSO: WhatsApp não será bloqueado pelo governo

Uma corrente circulou pela internet na última sexta-feira (25) para alertar que o governo federal havia determinado o bloqueio do aplicativo WhatsApp durante a tarde daquele dia com o objetivo de "atrapalhar a comunicação dos caminhoneiros". O bloqueio, previsto pela mensagem para as 15h, não aconteceu.

O texto, no entanto, voltou a circular na segunda-feira (28), com o horário marcado para as 23h. "Seu aparelho vai pedir atualização, pois não atualize, ele vai bloquear de imediato", dizia a mensagem.

Ao UOL, o WhatsApp negou que haja qualquer atualização do serviço ou que o bloqueio tenha acontecido (ou vá acontecer).

Além disso, de acordo com o estipulado pelo Marco Civil da Internet, o governo não tem autonomia para bloquear o aplicativo sem o auxílio da Justiça.

Suspensões como as que ocorreram em 2016 foram por ordens de juízes federais e derrubadas em poucas horas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O Planalto não respondeu aos pedidos de comentário feitos pela reportagem.

General Villas Bôas, comandante do Exército - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

FALSO: Exército produziu áudio a favor da intervenção militar

Dois áudios distintos circulam pelos aplicativos de mensagem com uma corrente antiga: em breve, haverá uma intervenção militar no país. De acordo com um deles, que pede confiança nas Forças Armadas, o Congresso e o STF serão substituídos por um Tribunal Militar.

"Eles já sabem o que vai acontecer e já estão borrando as cuecas", afirma o homem, que agradece a amigos do Exército.

No outro áudio, um homem afirma que não haverá eleições e que as chances de o governo "implantar uma ditadura comunista" acabaram.

Nenhum dos áudios informa, no entanto, quando a intervenção acontecerá.

Procurado pelo UOL, o Exército Brasileiro, que tem auxiliado o governo durante a greve dos caminhoneiros, disse que "prefere não comentar notícias falsas".

Seu comandante, o general Eduardo Villas Boas, já afirmou publicamente que a solução não se dá por meio da força.

"Nas ações, o foco prioritário é a resolução da crise sem conflitos", publicou o militar em seu Twitter no último sábado (26).

A declaração vai de acordo com um vídeo do Comando Militar do Sul (CMS), que diz esperar resolver o "problema" causado com a greve de caminhoneiros na região pela negociação, e não por intervenção. "Você, com o seu suor do seu trabalho, traz conforto ao povo brasileiro", diz o vídeo. "Pedimos a você que colabore."

O Planalto não se pronunciou.

FALSO: Helicóptero da PRF toca o Hino Nacional em apoio aos manifestantes

Um vídeo postado no YouTube mostra um helicóptero da PRF (Polícia Rodoviária Federal) sobrevoando um grupo de caminhoneiros ao som do Hino Nacional.

Segundo a corrente que acompanha o vídeo nas redes, isso seria uma manifestação de apoio à greve por parte dos policiais.

Há alguns "furos" nessa história. Em primeiro lugar, os helicópteros da PRF não são dotados de caixa de som, conforme diz a mensagem.

Além disso, a corporação informou ao UOL que seus policiais não estão autorizados a fazer manifestações políticas, contra ou a favor algum movimento, enquanto estiverem fardados.

"O helicóptero da PRF sobrevoava uma manifestação, como forma de patrulhamento, enquanto os manifestantes tocavam o Hino Nacional, mas [o som] não vinha do helicóptero", afirma o porta-voz da corporação.

"O helicóptero não se mostrava nem em apoio nem contra aquele grupo, apenas acompanhava."

Marun - Walterson Rosa/FramePhoto/Estadão Conteúdo - Walterson Rosa/FramePhoto/Estadão Conteúdo
O ministro da Secretaria do Governo, Carlos Marun (MDB-MS)
Imagem: Walterson Rosa/FramePhoto/Estadão Conteúdo

FALSO: Áudio sobre greve não é do ministro Carlos Marun

Outro áudio que circula pelo WhatsApp diz revelar o "real motivo" de a greve ainda existir. Atribuída ao ministro Carlos Marun, da Secretaria do Governo, a declaração aponta uma combinação entre o governo e a Rede Globo para "empurrar [a greve] com a barriga" até as eleições para favorecer o pré-candidato Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro de Michel Temer.

"Nas eleições, quem vai ganhar é o Meirelles. Claro que vai, porque as urnas são fraudadas", diz a mensagem.

Segundo a fala, este seria o plano original, mas, como os caminhoneiros não aceitariam os acordos propostos por Temer e o Exército estaria contra ele, "até domingo o governo cai".

O presidente Michel Temer anunciou um acordo para tentar pôr fim à greve dos caminhoneiros e obteve relativo apoio.

Temer disse, nesta segunda, ter "absoluta convicção" de que a paralisação será resolvida após o pacote anunciado. "Tenho certeza de que tudo isso trará muita tranquilidade."

Procurada pelo UOL, a assessoria do ministro Marun disse que ele chegou a ouvir o áudio, mas não comentou. Em entrevista à rádio CBN nesta segunda, Marun disse que a greve "não tem mais razão de existir".

O Exército novamente não quis comentar notícias falsas. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) publicou no início deste mês uma nota em que afirma que a urna eletrônica "extinguiu ocorrências de fraudes em eleições".

FALSO: Governo não deverá cortar energia

Outra pessoa ligada ao governo foi alvo de declarações falsas. Ricardo Soares, diretor da distribuidora de energia Elektro, foi creditado como o suposto autor de retaliações aos grevistas.

"O presidente Michel Temer, junto com todos os deputados federais estaduais, assinaram uma liminar que é para gente que tem distribuição e fornecimento de energia para todo país, cada um na sua região. No meu caso eu sou aqui do Mato Grosso do Sul, então é Elektro, mas em São Paulo tem Eletropaulo. Todos, todos receberam uma ordem de cortar se não acabar a greve dos caminhoneiros até segunda-feira", diz o homem no áudio de quase dois minutos.

"Eu, como diretor da Elektro, recebi essa ordem e, infelizmente, se eu não fizer, eles podem cassar o meu mandato."

A distribuidora negou tanto o áudio quanto o corte de energia por meio de nota divulgada no site e no Facebook. "Informamos que jamais recebemos qualquer determinação que pudesse prejudicar nossos clientes e recomendamos cuidado com falsas notícias que circulam pelo WhatsApp sobre a greve dos caminhoneiros", afirma a empresa. "Comunicaremos qualquer reflexo da paralisação em nossos canais oficiais."

O UOL também não conseguiu tratar desta corrente com o Planalto.

Fabio de Melo - Reprodução/WhatsApp - Reprodução/WhatsApp
Boato sobre greve dos combustíveis usa suposto post do padre Fábio de Melo
Imagem: Reprodução/WhatsApp

FALSO: Padre Fábio de Melo não apoio publicamente a greve

Assim como outros famosos, o padre Fábio de Melo teria expressado apoio público à greve dos caminhoneiros na última quinta-feira (24).

"Hoje eu aprendi a olhar para o senhor caminhoneiro, reconhecer como é importante o seu trabalho e quero agradecer por estarem fazendo o que eu não fiz, lutar pela redução do combustível!", diz a mensagem.

A corrente, apesar de levar seu nome, não foi escrita por ele, mas por uma página em sua homenagem no Facebook, a "Padre Fábio de Melo Trechos", na última quinta e já foi apagada.

Em sua conta de Twitter oficial, o cantor só tem se expressado sobre a greve de forma cômica sobre o assunto. "Pesquisas indicam que o galão de gasolina e os bujões de gás serão os presentes mais procurados para o Dia dos Namorados", publicou na última sexta-feira (25).

Argentina - Reprodução/WhatsApp - Reprodução/WhatsApp
Imagem de problema na Argentina diz que saque é no Rio
Imagem: Reprodução/WhatsApp

FALSO: Saques a supermercado não aconteceram no Rio

Diversas correntes trataram do problema de abastecimento nas gôndolas. Uma delas mostra fotos de um supermercado sendo saqueado e informa que estas imagens seriam deste fim de semana em Bangu, no estado do Rio de Janeiro.

As fotos não foram tiradas no Rio de Janeiro nem mesmo no Brasil. As imagens, na verdade, são de dezembro de 2013, quando uma greve geral da polícia provocou diversos arrastões na Argentina.

Os registros compartilhados se referem a um saque a uma rede de supermercados na província de Tucumán, no noroeste do país, no início daquele mês, conforme noticiado pelo jornal "Clarín".

Outros boatos já desmentidos

O UOL já desmentiu o boato sobre um protesto na Somália —outras correntes dizem que foi na Alemanha— que teria cancelado o aumento dos combustíveis. Era mentira. A foto registrava um engarrafamento na China.

E o Vem pra Rua também foi atingido com um vídeo viral defendendo a intervenção militar. A "Folha" ouviu o movimento, que confirmou a falsidade do conteúdo.

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