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Cuba não inventou vacina contra o coronavírus

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/03/2020 04h00

Desde que o coronavírus começou a se espalhar na China, em 31 de dezembro do ano passado, iniciou-se uma corrida internacional para a produção da cura. Nesta semana, uma informação enviesada diz que Cuba teria largado na frente e criado uma vacina contra o Covid-19.

Rapidamente espalhou-se pelas redes sociais que o país latino-americano, que anunciou três casos confirmados na quinta (12), teria achado a cura para a doença.

A informação chegou até a ser compartilhada por portais de notícia e por pessoas influentes, como Guilherme Boulos, que, horas depois, corrigiu a informação.

Medicamento desenvolvido em Cuba não é vacina

A informação usa conceitos errados para falar do Interferon Alfa 2B. O governo cubano realmente anunciou uma droga que a ajudou no tratamento de 1.500 pessoas na China, mas trata-se de um medicamento, não de uma vacina.

O infectologista Plínio Trabasso, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade de Campinas), diz não ter conhecimento específico sobre a produção cubana, mas explica que o Interferon é um imunomodulador.

"O Interferon estimula a resposta imunológica do paciente, a produção de células de defesa, mas de forma inespecífica. Ele altera as citocinas, as células da resposta inflamatória, para que se comuniquem entre si e se autorregulem", explica Trabasso.

"Mas não é vacina porque não causa proteção ativa. Pelo conceito, uma vacina expõe o indivíduo ao patógeno para estimular a criação de anticorpos. Esse é o princípio", argumenta o infectologista.

Rosana Richmann, infectologista do Hospital Emílio Ribas, também diz não ter conhecimento específico sobre o medicamento cubano, mas também diz que o Interferon é um imunomodulador, não uma vacina.

"São diferentes. De um lado, o imunomodulador melhora a resposta imune do paciente, melhora seu estado para combater o vírus. Do outro, os antivirais estimulam a produção de anticorpos para combater o vírus", explica Richmann. "Muitas vezes, usa-se associação de ambos."

Governo cubano não fala em vacina

Difícil saber de onde veio exatamente a informação, mas nem o próprio governo cubano chegou a falar em ter encontrado uma vacina. Nas matérias do "Gramna", publicação oficial do Partido Comunista Cubano, a palavra vacina não é mencionada nem em espanhol nem em inglês.

"A droga, IFNrec, é uma das 30 medicações selecionadas pela Comissão Nacional de Saúde da China para tratar condições respiratórias", explica a nota do "Gramna".

"Ele [o medicamento] tem a vantagem, em situações como esta, de funcionar como um mecanismo de proteção, prevenindo pacientes de piorarem e atingirem um estágio grave, com a morte como resultado", explicou Luis Herrera Martinez, porta-voz da BioCubaFarma, à TV estatal cubana.

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