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Onyx ignora limitação de teste para defender veto a demitir não vacinado

8.nov.2021 - Print de vídeo postado no Twitter em que o ministro Onyx Lorenzoni faz alegações incorretas sobre o contágio da covid-19 - Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter Onyx Lorenzoni
8.nov.2021 - Print de vídeo postado no Twitter em que o ministro Onyx Lorenzoni faz alegações incorretas sobre o contágio da covid-19 Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter Onyx Lorenzoni

Do UOL, em São Paulo

09/11/2021 04h00

É falso que um exame PCR negativo para o vírus da covid-19 impeça uma pessoa de transmitir a doença nas 72 horas seguintes ao teste, como afirmou o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni (DEM), em vídeo publicado em seu Twitter na última quarta-feira (3).

Segundo especialistas entrevistados pelo UOL Confere, um resultado negativo para o novo coronavírus não serve necessariamente como garantia de que a doença não será transmitida, já que o Sars-Cov-2 pode ainda não ter se multiplicado em quantidade suficiente para a detecção no teste ou não ter sido devidamente coletado.

"Se a pessoa quiser, ela apresenta o certificado de vacina. Se ela não desejar se vacinar, que é um direito que ela tem, então ela vai ter que fazer teste. E quando a gente compara o grau de eficácia para a sanidade do ambiente de trabalho ou para a sanidade da comunidade, vacina não é garantia. A pessoa pode estar com todas as vacinas feitas e pode contrair a doença, todo mundo sabe disso. Agora, não há relato de PCR feito, teste feito, e contaminação dentro das 72 horas posteriores. Ou seja: é muito mais seguro.", disse o ministro, sem levar em conta as limitações deste tipo de exame para identificar o coronavírus.

Onyx Lorenzoni deu a declaração em um vídeo no qual critica sindicalistas contrários à portaria assinada por ele proibindo que empresas exijam comprovantes de vacinação para contratar ou manter funcionários, ou que demitam por justa causa devido à falta do documento.

Coleta pode afetar resultado

O exame PCR é feito por meio da introdução de um cotonete específico (swab) nas narinas e na garganta para coletar a secreção a ser analisada.

Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que o PCR negativo não é suficiente para descartar o contágio no prazo citado pelo ministro.

"O teste ainda tem 20% a 30% de falsos negativos, tendo como motivo o próprio limite do exame, que não tem 100% de eficácia, e que pode ter tido uma coleta inadequada, ter coletado pouca secreção. Ou seja, eu posso transmitir mesmo com o PCR negativo. Diminui a chance, mas ainda pode acontecer", diz.

Segundo ela, "quanto maior a quantidade de vírus [carga viral], maior a probabilidade de você transmitir a doença. E ela transmite não só por 72 horas, mas também já transmitia por 48 horas antes da aparição dos sintomas."

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Guimarães Fonseca, a qualidade da coleta e o intervalo de tempo do exame podem afetar os resultados.

"A coleta tem que ser feita de maneira adequada para você conseguir realmente recuperar material genético da pessoa e do vírus", explica. "Se a coleta é mal feita, por exemplo, se não é profunda o suficiente, não vai haver material genético identificado na amostra."

Segundo Fonseca, a precisão do exame também varia com o tempo. O recomendável é que o teste seja feito quatro ou cinco dias após o contágio, quando o vírus já se multiplicou "em quantidade suficiente para que tenha material genético nas células e nas regiões respiratórias que são raspadas".

"Por fim, o PCR é um exame muito específico e sensível, mas ainda assim não existe exame infalível. Por isso, não se pode dar uma certeza absoluta de que, mesmo com o PCR negativo, a pessoa não está infectada. Mas se ele for feito no tempo correto, de forma adequada e com todos os reagentes dentro da validade, a chance dele dar certo é bem perto de 100%", diz o virologista.

No mesmo vídeo, Onyx também disse que a contaminação pela covid-19 é possível mesmo com a vacinação, o que é verdade. No entanto, o ministro não explica que a vacina ajuda a evitar casos graves da doença.

"Nenhuma vacina tem 100% de eficácia", diz Fonseca, lembrando que todos os imunizantes contra o novo coronavírus dificultam os casos graves e praticamente neutralizam a chance de óbito pela doença após a conclusão do ciclo de vacinação.

Raquel Stucchi, da Unicamp, também reforça a importância da vacinação contra a covid-19.

"Foi a vacinação, sim, que possibilitou à Europa ter um verão como se nada tivesse acontecido", diz. "Mas também a gente já sabe que a vacina, depois de seis meses para alguns grupos, você perde a proteção. Por isso, temos que manter os cuidados e o uso das máscaras, para depois ir abrindo isso, e a dose adicional também é fundamental."

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