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É falso que varíola dos macacos é derivada da vacina contra covid

Posts compartilhados nas redes sugerem que a varíola do macaco estaria relacionada à vacina contra covid - Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter
Posts compartilhados nas redes sugerem que a varíola do macaco estaria relacionada à vacina contra covid Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Twitter

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

09/06/2022 16h59

É falso que a varíola dos macacos seja um efeito colateral das vacinas contra a covid-19, como afirmam posts nas redes sociais. Também não é verdadeira a atribuição da doença à vacina da AstraZeneca, que tem entre seus componentes um adenovírus de chimpanzé. No entanto, o adenovírus do imunizante foi modificado geneticamente para não se reproduzir no corpo humano, e não pertence à mesma família do vírus causador da varíola dos macacos.

Uma mensagem que circula nas redes sociais, porém, afirma o seguinte: "A varíola do macaco é efeito colateral da vacina contra a covid. Alguém tem dúvida? Aguardem as outras pragas surgirem".

Outra publicação diz: "Ahhhhh que 'legal'! Usaram adenovirus de CHIMPANZÉ pra fazer a "vacina" de Covid. Aí 'aparece' a tal 'varíola do macaco'!". A grafia da publicação foi preservada.

O adenovírus usado na vacina "é de uma família totalmente diferente da família do vírus que causa a varíola do macaco", diz Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Na vacina da covid, o adenovírus usado é não replicante, ou seja, não há risco de provocar nenhuma doença nos humanos", adiciona.

Roedores, e não macacos, são os verdadeiros reservatórios do vírus

Fora isso, de acordo com Stucchi, o nome "varíola do macaco" foi escolhido porque a doença foi diagnosticada pela primeira vez em macacos de laboratório, mas os reservatórios do vírus são, na realidade, roedores.

"O macaco adoece assim como nós podemos adoecer. Não existe nenhuma relação de um vírus com o outro, ou [a possibilidade] de uma vacina que contém adenovírus poder transmitir a varíola do macaco", explica.

Outro fator é que a vacina de Oxford, apesar de ter origem nos chimpanzés, é purificada em laboratório, avaliada e analisada pelos órgãos regulatórios. Sendo assim, uma partícula viral desse tamanho jamais passaria despercebida num lote de vacina de adenovírus.

Além disso, o adenovírus é utilizado na vacina como vetor para transportar instruções genéticas até as células do vacinado, que passa a produzir sua própria resposta imunitária contra a covid.

Os meios de transmissão das doenças, segundo a especialista, também são diferentes. "O adenovírus se transmite principalmente por meio da via respiratória de uma pessoa para outra. O que nós sabemos da varíola do macaco é que a principal forma de transmissão é o contato de pele com pele, de quem tenha a lesão, ou contato com a roupa de uso pessoal, toalha e lençol que esteja sujo com a secreção da bolha", explica Stucchi.

De acordo com a OMS, novos casos de varíola dos macacos têm sido relatados desde 13 de maio de 2022. A doença já se espalhou por pelo menos 27 países. No Brasil, o primeiro caso foi reportado ontem (8).

Como funciona a vacina de Oxford?

A estratégia usada é a de um vetor viral não replicante. Isso significa que os cientistas usam um vírus diferente do coronavírus como uma espécie de "cavalo de Troia". No caso da vacina da Universidade de Oxford, é utilizado o adenovírus.

Esse vírus é geneticamente modificado para se tornar fraco, ou seja, não infeccioso e incapaz de se replicar no corpo humano. Os pesquisadores inserem neste vírus uma parte do coronavírus também modificada e não infecciosa, uma proteína.

Quando essa vacina é injetada no corpo, o sistema imunológico promove uma resposta imune a essa proteína que estava escondida dentro do vetor, levando à produção de anticorpos.

Esse conteúdo também foi checado pelo Fato ou Fake e pela AFP Checamos.

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