É falso que jornalista Vera Magalhães ganha R$ 500 mil ao ano da TV Cultura

É falso que Vera Magalhães ganha R$ 500 mil por ano da TV Cultura, como afirmam posts em mais de um perfil do Facebook.

O que diz a publicação? Dois posts, publicados nos dias 29 e 30 de agosto deste ano, usam estrutura parecida para apresentar a desinformação. Na descrição dos vídeos é colocada a seguinte frase: "Descobriram tudo! Veja quanto a jornalista Vera Magalhães recebe para atacar o presidente Jair Bolsonaro".

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No primeiro vídeo é apresentada uma fala do deputado estadual Douglas Garcia (na época no PSL e atualmente no Republicanos) durante discurso na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), em 2020. Nele, o político diz que a jornalista trabalha na Fundação Padre Anchieta, que a entidade "recebe dinheiro de subvenção do Estado" e, por isso, o interesse público deve ser tratado "através do princípio da publicidade e da transparência".

O parlamentar mostra uma sacolinha com o logo da TV Cultura e diz que queria ver o que estava dentro dela. Ele tira um papel com a foto da jornalista e diz que "nada mais justo" que o salário da Vera Magalhães "seja público, que essa informação venha ao povo". O político diz que procurou a informação com a ajuda do deputado Gil Diniz (PL).

"Buscamos essa informação que a população do Estado de São Paulo e o povo brasileiro tanto precisa saber. A senhora Vera Magalhães recebe a bagatela de R$ 500 mil pelo contrato com a Fundação Padre Anchieta para falar mal do presidente da República. Meio milhão de reais! Sendo claro que a Fundação Padre Anchieta recebe R$ 100 milhões por ano do Estado pelo senhor João Doria. R$ 100 milhões que saem do seu bolso, contribuinte do Estado de São Paulo."

"Nós temos aqui a senhora Vera Magalhães, que recebe ao mês, o teto do salário do governador do Estado. Para que fique pública essa informação a todo povo do Estado de São Paulo, R$ 500 mil. Muito obrigada, senhor presidente", finalizou o deputado Douglas Garcia.

Já no segundo vídeo, consta inicialmente um pequeno trecho da declaração do deputado Douglas Garcia na Alesp: "A senhora Vera Magalhães recebe a bagatela de meio milhão de reais para falar mal do presidente da República".

Em seguida, é colocada uma fala machista de Jair Bolsonaro direcionada a Vera Magalhães, durante debate presidencial no UOL, em parceria com a Band, Folha de S.Paulo e TV Cultura, no dia 28 de agosto.

"Eu não poderia esperar outra coisa de você, eu acho que você dorme pensando em mim, você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como este, fazer acusações mentirosas ao meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", disse o presidente.

Depois, é colocado outro trecho da declaração de Bolsonaro que, na verdade, foi dirigido a Simone Tebet (MDB).

"A senhora falou uma frase lá na CPI? Frase tua: 'não é porque houve malversação de dinheiro público que devemos investigar'. A senhora foi conivente com a corrupção na CPI. Não achou nada contra mim e escondeu o Carlos Gabas, que desviou R$ 50 milhões e não foi investigado pela CPI. A senhora é uma vergonha para o Senado Federal. E não estou atacando mulher. Não venha com essa historinha de se vitimizar", disse Bolsonaro.

Em seguida, é acrescentada a legenda "Saiba por que razão a jornalista Vera Magalhães, que antes defendia Bolsonaro, agora o ataca".

O vídeo retoma com mais uma fala do deputado Douglas Garcia.

"Senhor presidente, eu gostaria de colocar que eu sou radicalmente contra a jornalista Vera Magalhães de terem divulgado o endereço do seu domicílio, divulgado onde seu filho estuda. Isso é coisa de gente sorrateira, de gente vil, de gente que não tem nenhum caráter."

Na sequência, é utilizado o trecho do discurso dele no qual Garcia afirma que a divulgação do salário da jornalista envolve interesse público.

Por que a informação é falsa? A informação é falsa porque a jornalista Vera Magalhães não recebe salário de R$ 500 mil anuais. A apresentadora do Roda Viva postou no Twitter dela no dia 30 de agosto informações sobre o contrato com a TV Cultura.

O documento mostra que a jornalista recebe R$ 22 mil mensais de salário. A soma anual é R$ 264 mil, não os R$ 500 mil divulgados nos posts nas redes sociais por causa do discurso do deputado

Em nota, a TV Cultura também confirmou que o salário da jornalista não é de R$ 500 mil anuais.

"A TV Cultura repudia os ataques à jornalista Vera Magalhães. Repudia também a mentira sobre os salários da jornalista, que voltou a circular em redes sociais. O contrato de trabalho da TV Cultura com a jornalista Vera Magalhães ainda é o mesmo revelado a dois deputados estaduais bolsonaristas, por força do cargo que exercem, em caráter reservado, pela natureza sigilosa da informação. Na oportunidade, em 2020, os dois políticos mentiram sobre os números tão logo deixaram a sede da emissora", observa a TV Cultura.

"Em verdade, eles divulgaram como sendo mensal o valor somado do salário da jornalista por dois anos (24 meses) de vigência do contrato. Fizeram isso para provocar impacto, já que o salário é compatível com o mercado", complementa a emissora.

A emissora salienta ainda que o contrato de trabalho da jornalista, como de outros apresentadores da TV, não é pago com os repasses de fundos públicos, previstos na Constituição de São Paulo, mas por meio de venda de publicidade.

"Essas informações foram divulgadas à época do ataque dos dois legisladores e nada mais há a acrescentar em resposta à nova circulação da mesma informação no esgoto das redes sociais. A repetição da mentira não a torna verdadeira agora", finaliza a TV Cultura.

Repercussão. Um dos posts teve mais de 1,3 mil reações, 164 comentários e 22 mil visualizações até a manhã do dia 7 de setembro, já o outro teve 15,9 mil reações, 2 mil comentários e 202 mil visualizações até a mesma data.