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O que acontece com o voto depois de apertar 'confirma'?

Após o eleitor apertar o botão "confirma", voto passa por ao menos cinco processos diferentes - SOPA Images/SOPA Images/LightRocket via Gett
Após o eleitor apertar o botão "confirma", voto passa por ao menos cinco processos diferentes Imagem: SOPA Images/SOPA Images/LightRocket via Gett

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL

09/09/2022 04h00

Nas eleições do dia 2 de outubro, os 156.454.011 eleitores brasileiros vão registrar nas urnas eletrônicas cinco votos: para presidente, deputado federal, estadual, senador e governador — em todo o país, há 29.086 candidatos na disputa. Após o eleitor apertar pela quinta e última vez o botão "confirma", o voto passa por cinco etapas até chegar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em Brasília, onde acontece a totalização. Confira abaixo o passo a passo do processo.

1º - Armazenamento na urna

Os votos de cada eleitor são armazenados gradativamente na urna eletrônica, ao longo de todo o dia de votação. O sistema interno de cada urna vai gravando as informações em um arquivo chamado RDV (Registro Digital de Voto).

No momento do registro no RDV, cada voto passa por um processo de embaralhamento para evitar que se descubra a escolha de cada eleitor. O registro no RDV também permite a totalização dos votos de cada urna e a recontagem eletrônica, se necessária.

2º - Arquivo recebe uma assinatura

À medida que cada voto vai sendo registrado, a urna gera uma assinatura digital —uma espécie de carimbo— que permite ao TSE ter certeza de que ninguém alterou o conteúdo do RDV.

A assinatura digital, explica Wobeto, é diferente de uma criptografia. "Na criptografia, o sistema embaralha o conteúdo de forma que ninguém consiga ver o que tem lá dentro. Quando eu quero proteger uma informação para ninguém ver, eu criptografo, quando eu quero garantir que ninguém altere, eu só assino."

Além de cada voto, cada urna tem uma assinatura digital. Se houver tentativa de alteração dos votos, ela pode ser verificada por técnicos do TRE (no momento da transmissão) ou do TSE (no momento que os dados chegarem à Brasília), pois a assinatura digital será inválida, e emitirá um alerta de erro de integridade.

3º - Boletim de urna é impresso

Após o término da votação, às 17h, o presidente da seção eleitoral encerra a coleta de votos e, em seguida, a urna eletrônica imprime o BU (Boletim de Urna).

Parecido com uma longa nota fiscal, o BU é um extrato que informa o total de votos de cada candidato e cada legenda, sem fazer nenhuma correspondência entre o eleitor e o voto. Ele também informa qual seção eleitoral o emitiu, qual urna e ainda o total de eleitores que compareceram e votaram.

De acordo com o Manual do Mesário, são impressas cinco vias do BU, que são assinadas pelo presidente da seção eleitoral e por representantes ou fiscais dos partidos políticos presentes:

  • Uma das vias é afixada na porta da seção, de forma a tornar o resultado público;
  • Uma é retida pelo presidente da seção para conferir o resultado da seção no portal do TSE;
  • Duas são juntadas à ata da seção e encaminhadas ao cartório eleitoral;
  • A última via é entregue aos representantes ou fiscais dos partidos.

Caso seja necessário, é possível imprimir até cinco outras vias do BU.

O resultado da eleição surge a partir da totalização dos votos, ou seja, a soma de todas as BUs.

Assim como o Registro Digital de Voto, os Boletins de Urna também recebem duas assinaturas, observa Wobeto.

"Uma assinatura é geral da eleição naquele estado e uma outra assinatura é gerada por cada urna eletrônica. Cada urna eletrônica tem sua chave de assinatura própria, então quando chega no TSE, o tribunal consegue reconhecer que aquele boletim de urna veio daquela urna e é assinado que aquela urna é válida"
Daniel Wobeto, secretário de tecnologia da informações do TRE-RS

4º - Transmissão dos votos

O RDV é gravado numa espécie de pen drive, chamado Memória de Resultado, de uso exclusivo da Justiça Eleitoral. Esse "pen drive" de cada urna é levado por um fiscal para um ponto físico com acesso ao sistema do TSE. A transmissão dos votos pode ser feita de três maneiras:

1º - O "pen-drive" (ou Memória de Resultado) é levado até a junta apuradora, que pode ser o próprio cartório eleitoral, que recebe todos os materiais dos presidentes de mesas. Dali, se faz a transmissão direta dos votos para o TSE. Esse é o método mais comum que os TREs do Brasil têm usado.

2º - A transmissão dos votos ocorre no próprio local de votação por um mecanismo chamado JE Connect. Neste método, é usado um computador do próprio local —como do laboratório de uma escola— para fazer o envio dos dados. É utilizado apenas o hardware do equipamento, que é a parte física do computador — o conjunto de aparatos eletrônicos, peças e equipamentos que fazem o computador funcionar.

"Não se usa os programas, nada do que está instalado naquele computador, tanto para preservar a integridade daquele equipamento como para evitar que tenha algum tipo de contaminação nesses equipamentos que venham a comprometer o processo", explica Wobeto.

O envio dos votos dessa maneira pode variar em cada estado. O Paraná usa essa opção em larga escala para ganhar tempo e agilizar o processo, segundo o secretário de TI do TRE-RS. Já no Rio Grande do Sul, esse processo é usado especialmente naquelas localidades onde o deslocamento do local de votação até a junta apuradora passa de duas horas.

3º - Diferente das outras duas opções, a transmissão dos dados ocorre via satélite e não pela internet. Essa opção é utilizada em localidades remotas, como comunidades ribeirinhas no Amazonas. Para a transmissão são usados equipamentos próprios do TRE.

5º - Cálculo dos votos

Na sede do TSE, em Brasília, os votos vão sendo recebidos por um supercomputador que faz a totalização — a contagem geral.

Wobeto explica que o próprio software que vai transmitir os votos tem um certificado digital. No momento que as informações chegam ao TSE, é feita uma autenticação para garantir que, de fato, é um programa da Justiça Eleitoral que fez o envio dos dados.

A totalização é feita em um prédio anexo ao TSE, em Brasília. Ao contrário do que dizem publicações falsas na internet, o processo não acontece em uma sala secreta, mas em dois espaços distintos.

Um deles é a Seção de Totalização e Divulgação dos Resultados, uma sala onde trabalha uma equipe de 20 pessoas responsáveis por desenvolver o programa de totalização dos votos e fiscalizar o funcionamento dos softwares antes da eleição e no próprio dia da votação.

O outro espaço é uma sala-cofre onde ficam armazenados os supercomputadores que fazem a totalização dos votos. Só três pessoas têm acesso à sala, que conta um forte esquema de segurança, e entram para fazer a manutenção das máquinas quando necessário.

A contagem dos votos é pública e auditável. Todos os boletins de urna são expostos em cada seção eleitoral do país e o sistema das urnas eletrônicas passa por testes que garantem sua inviolabilidade e são acompanhados por entidades fiscalizadoras. O processo de auditoria das urnas das eleições de 2022 começou no ano passado.

Uma série de matérias do UOL Confere explica a contagem de votos, a auditoria das urnas e outros detalhes do processo eleitoral. Confira:

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