Reduzir velocidade evita acidentes? Veja mitos e verdades sobre o trânsito
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tem realizado grandes --e polêmicas-- mudanças no trânsito da capital em sua gestão. Além de promover o uso de bicicletas e ampliar as ciclovias na cidade, realizou em julho uma redução de velocidade máxima nas marginais Pinheiros e Tietê, que tiveram seus limites alterados de 90 km/h para 70 km/h, sob o argumento de reduzir a quantidade de mortos e feridos no trânsito.
A prefeitura anunciou ainda que até dezembro todas as vias arteriais terão seu limite de velocidade reduzido para 50 km/h. Vias arteriais são as ruas e avenidas que fazem ligações entre bairros, têm semáforos e acessos a ruas secundárias.
Mas essa medida é mesmo eficaz nesse sentido? O UOL levantou esse e mais alguns lugares-comuns divulgados sobre o trânsito com o objetivo de confirmá-los ou desmistificá-los. Para isso, foi consultado Luiz Vicente Mello, pesquisador de mobilidade urbana e professor de Engenharia Automotiva da universidade Mackenzie (SP), além de obter as respostas oficiais da própria CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo).
Verdades ou mitos sobre trânsito
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Reduzir o limite de velocidade melhora o trânsito e reduz acidentes?
VERDADE - Luiz Vicente Mello: "Ao diminuir a velocidade, você reduz o número de veículos na via. No caso das marginais de São Paulo, não vejo um impacto grande para horários de pico, pois a grande quantidade de carros deverá manter o fluxo naturalmente mais lento. Fora do pico, a velocidade menor aumenta o tempo de reação dos motoristas e, assim, tende a melhorar mais a segurança do que a fluidez". De acordo com CET, "algumas experiências mostram que também há impacto positivo no fluxo de veículos, pois a redução da velocidade máxima pode aumentar a velocidade média dos carros", complementou o órgão.
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A presença de bicicletas nas ruas leva à piora do trânsito?
MITO - Diz a CET: "O uso de bicicleta é um modal de transporte que contribui para reduzir o fluxo de carros, melhorar a segurança no trânsito e a qualidade de vida na cidade. As ciclovias são alinhadas a faixas de rolamento, faixas exclusivas e corredores de ônibus, o que ajuda a reorganizar o desenho das ruas e o fluxo dos veículos". Mello concorda. "Não vejo como [as bicicletas] influenciem negativamente, pois cada ciclista é um carro ou moto a menos na cidade. O que é preciso, porém, é que as faixas sejam mais utilizadas para levar a essa redução gradual de veículos".
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A presença de radares aumenta a incidência de multas?
DEPENDE - Tanto o especialista Luiz Vicente Mello como a CET concordam: os radares em si são apenas instrumentos de medição e fiscalização, e as multas vêm do erro dos motoristas. "O que aumenta o índice de multas é o desrespeito dos condutores às leis de trânsito previstas no Código de Trânsito Brasileiro. (...) Todos os equipamentos implantados na cidade de São Paulo são periodicamente aferidos por órgãos de medição competentes, como o Instituto de Pesos e Medidas no Estado de São Paulo", diz a CET. "Com um trabalho educacional maior, você minimizaria a rejeição do motorista ao radar. Sem educação, cresce a incidência de multas por causa do radar, mas as pessoas ficam sem saber o porquê da multa", analisa Mello. Leia mais
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Criar mais faixas exclusivas para ônibus piora o trânsito?
DEPENDE - A criação da faixa de ônibus deve vir com outras medidas para reduzir seu impacto no restante do trânsito. A CET afirma que os ônibus que trafegam em faixas ganham até 40 minutos nas viagens. Para os demais veículos, o órgão diz que adotou adequação da sinalização, readequação geométrica das faixas para acomodarem carros e ônibus e revisou os limites de velocidade das vias. Já Mello alerta: "A faixa tende a reduzir o número de carros se for muito bem implantada, levando as pessoas a migrar para o transporte coletivo. Quando não, não consegue mobilizar as pessoas a usar o ônibus".
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Semáforos sincronizados melhoram o trânsito local?
VERDADE - Luiz Vicente Mello, pesquisador de mobilidade urbana, explica: "o semáforo é o principal causador do trânsito ao interromper o fluxo e acumular carros no local. Quando os semáforos são sincronizados, claro que o fluxo fica muito melhor, respeitando o tempo de aceleração da via em questão. Mas isso [a sincronização] não pode ocorrer em só uma via, tem que ser generalizado".
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O rodízio de placas e a restrição a caminhões reduzem o trânsito na cidade?
DEPENDE - A CET informou que o rodízio de veículos existe em São Paulo desde 1997 com o principal objetivo de diminuir a poluição do ar, mas estudos dizem que a medida também ajuda a reduzir 20% do congestionamento na cidade. Para Luiz Mello, o impacto do rodízio de carros comuns já foi maior. "Hoje as pessoas compram um segundo veículo com outra placa ou usam mais o carro nos horários permitidos pelo rodízio. O próximo passo para restringir o trânsito deverá ser o pedágio urbano. Já para caminhões a medida é sim eficaz, pois a ausência deles no horário comercial melhora a fluidez".
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A Lei Seca reduziu acidentes e melhorou o trânsito?
VERDADE - No primeiro ano de vigência da Lei Seca mais rigorosa, com multa maior, as mortes em acidentes de trânsito caíram 10% em todo o país no ano passado em 2013, segundo dados do governo federal."Atualmente, o trânsito em São Paulo mata menos do que os homicídios dolosos", diz a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Mello concorda, mas com ressalvas. "A mensagem da lei é muito positiva, mas tem crescido o aprendizado negativo, com formas de burlar a lei, como aplicativos e perfis de redes sociais que informam a localização de blitze e radares". Leia mais
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Radares intimidam os motoristas a ultrapassar a velocidade permitida?
VERDADE - Luiz Vicente Mello afirma que o motorista costuma reduzir a velocidade ao saber da existência do radar, mas avisa que muitas vezes essa redução vem em forma de uma freagem brusca. "Isso aumenta o risco de acidentes e pode aumentar a incidência de colisões nas traseiras dos veículos."
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Vias mais estreitas tendem a acumular mais trânsito do que avenidas amplas?
MITO - A CET declara que a incidência de congestionamento não está ligada à largura das vias, mas sim à capacidade das faixas de rolamento quanto ao volume de veículos em diferentes horários. A ligação com outras vias também pode influenciar este cenário. "Para diminuir os impactos, a CET faz a manutenção do conjunto semafórico, revitalização da sinalização horizontal para ordenação do trânsito e implantação de sinalização vertical com placas". Mello completa: "Hoje não dá mais para aumentar o tamanho da via. Temos é que mudar o modo de se locomover na cidade, fazendo do transporte público uma forma efetiva de locomoção".
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O pedestre sempre tem preferência no trânsito?
DEPENDE - Diz a CET: "Nas vias e nos cruzamentos com semáforo, o pedestre deve respeitar a sinalização e atravessar somente quando o sinal estiver verde para ele. Já nas faixas para travessia de pedestre sem semáforo, o cidadão deve sinalizar com a mão que pretende atravessar e cabe ao motorista respeitar a orientação e parar para dar passagem". Mello acha que o problema também é educacional. "Isso [a prioridade ao pedestre] é uma verdade, mas culturalmente a gente não consegue fazer isso. Claro que na marginal Tietê será difícil alguém tentar atravessar, mas o poder público sempre tem que criar formas de viabilizar a proteção ao pedestre".
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