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Investigações do caso Bruno mudam rotina em bairro de Belo Horizonte

A porta do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais está cheia de curiosos  - Paulo Assis/Futura Press
A porta do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais está cheia de curiosos Imagem: Paulo Assis/Futura Press

Rayder Bragon*<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Belo Horizonte

09/07/2010 14h01

O bairro de Lagoinha, na região noroeste de Belo Horizonte, onde está localizado o Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, experimenta uma mudança em sua rotina após os desdobramentos do caso do desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza. Ela lutava na Justiça por ter seu filho, Bruninho, de 5 meses, reconhecido pelo atleta, e desapareceu no início de junho. A polícia trabalha com o fato de ela estar morta, após depoimentos de envolvidos no caso.

Desde que o goleiro e demais suspeitos passaram a “frequentar o local”, não só a porta, mas também as imediações da delegacia vivem cheias de curiosos, à procura de informações, fotos ou simplesmente uma oportunidade de olhar para os suspeitos.

Luiz Henrique da Silva, 45, vendedor, morador do Jardim Laguna, em Contagem (na região metropolitana de BH), conta que deixou de ir ao trabalho hoje e decidiu passar na delegacia para matar a curiosidade. Na opinião dele, a história é muito triste, principalmente, porque um dos suspeitos é uma pessoa muito conhecida no país.

Já José Aparecido Vieira, 45, aposentado, morador do bairro Lagoinha, tem uma opinião mais forte. “Dinheiro não é tudo nesse mundo. Ele [Bruno] tem que pagar pelo que fez. A opinião pública já está detonando ele”, defende.

A técnica de controle de qualidade e moradora do bairro Floresta, Fernanda de Assis, 37, afirmou que fará plantão na delegacia para acompanhar o caso. “Estou muito indignada, nunca tinha visto uma coisa parecida com essa. Fiquei impressionada com a frieza dele, parecia um psicopata chegando ai”, disse.

Um outro morador da região, que não quis se identificar, também disse que faltou ao trabalho nesta sexta-feira para acompanhar o caso na porta da delegacia. “Estou estarrecido pelo fato de ter sido montado um circo para atrair Eliza e fazer toda essa maldade com ela”, desabafou.

Suspeitos se negam a fazer exame de DNA
O delegado Edson Moreira, do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, em Belo Horizonte, confirmou em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (9) que o goleiro Bruno, seu amigo e funcionário Macarrão e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos – conhecido como Bola ou Paulista – foram instruídos por seus advogados a não coletar material genético para exame de DNA, que tem como objetivo descobrir de quem é a mancha de sangue encontrada no carro que pode ter transportado Eliza para a execução. 

Os advogados também impedem os suspeitos de prestarem depoimento, além de dar declarações à imprensa. Bruno, Macarrão e Bola estão no DI em salas separadas. Eles chegaram ao local mais cedo algemados e vestindo uniformes do presídio de segurança máxima de Contagem, onde passaram a madrugada.

Segundo o delegado, a decisão da defesa de não colaborar com a polícia certamente “vai dar um atraso na investigação”, mas “nós temos 30 dias para interrogá-los, e ainda podemos prorrogar por mais 30”, que é o prazo da prisão temporária que foi decretada pela Justiça de MG. "É irrelevante eles cooperarem ou não, diante do conjunto das provas", afirmou.

Sobre a chegada de Bruno à delegacia na noite de ontem, Edson Moreira disse que apenas deu boas-vindas ao atleta, e que ainda não teve oportunidade de conversar melhor com ele.

O delegado retrucou as acusações do advogado de defesa de Bruno e Macarrão, Ércio Quaresma Firpe, de que está sendo feito de “idiota” pela polícia mineira. “Estamos sendo bombardeados (...) Estamos aqui para investigar e defender a população. Essa é nossa função. A dele é de defender seus clientes”, limitou-se a dizer.

Moreira mostrou à imprensa um notebook de Eliza Samudio que será submetido à perícia ainda hoje. Ele foi entregue à polícia por uma amiga da ex-amante do goleiro Bruno, e pode conter mensagens e fotos reveladoras. Além disso, também serão periciados o carro que supostamente teria levado Eliza para a execução (Ecosport) e o carro que foi apreendido na casa de Bola, em Vespasiano, onde foram achados vestígios de sangue no porta-malas (Citroën).

Para o delegado, a motivação do crime foi a luta de Eliza pela paternidade de seu filho, Bruninho, de cinco meses, e também a vingança de Bruno, tendo em vista a denúncia feita por ela contra o jogador sobre a tentativa de abortar a criança.

Buscas são retomadas
O Corpo de Bombeiros de Minas retomou nesta manhã as buscas pelo corpo de Eliza. Segundo a Polícia Civil, as buscas estão concentradas no sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), e nas proximidades da residência. Ao todo, quatro equipes estavam no local por volta das 10h.

Em depoimento, dois suspeitos afirmaram que Eliza, que está desaparecida desde o início de junho, está morta.

 

*Com UOL Notícias, em São Paulo, e Folha.com