Topo

Com falta de UTIs neonatais, Defensoria Pública orienta gestantes de alto risco a deixarem Alagoas

Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL Notícias

Em Maceió

15/04/2011 14h02

A falta de leitos nas UTIs (unidade de terapia intensiva) neonatais em Alagoas está causando preocupação às mães e levou a Defensoria Pública Estadual a orientar as gestantes de alto de risco a dar à luz em outros Estados. O maior hospital alagoano está com o setor interditado por conta de mortes causadas por uma superbactéria -- com a morte de um bebê nesta sexta-feira (15), já são nove mortes em Alagoas.

"Quem tiver em Alagoas com uma gravidez de risco, e tiver condições, deve buscar uma maternidade em outro Estado, e assim não correr o risco de precisar de um leito de UTI neonatal e não ter disponível. Hoje a situação em Alagoas é essa”, disse Ricardo Melro, responsável pelo núcleo de saúde da Defensoria Pública.

A crise das maternidades de Alagoas teve início no dia 30 de março, quando o HU (Hospital Universitário) fechou a maternidade e a UTI neonatal por conta da morte de três bebês por conta da superbactéria Acinectobater. Por conta do risco de um surto, a direção da unidade fechou os setores e acarretou superlotação da maternidade Santa Mônica, também em Maceió, que passou a ser a única pública do Estado a receber gestantes e bebês de alto risco. Nesta sexta-feira (15), morreu o quarto bebê na unidade contaminado pela superbactéria. Das nove mortes, foram quatro bebês e cinco adultos.

Segundo o defensor público, a solução definitiva para o problema da falta de leitos seria a ampliação do número de leitos da UTI neonatal da Santa Mônica. “Já existe um projeto pronto para ampliação, mas nunca foi executado, o que nos preocupa”, disse, sem descartar a possibilidade de ingressar com uma ação civil pública para obrigar o Estado a aumentar o número de leitos.

Faltam leitos na rede privada

Com a falta de leitos, como revelou o UOL Notícias na última quarta-feira, as secretarias de saúde do Estado e de Maceió buscaram vagas na rede privada. O problema é que a falta de leitos, antes exclusiva do setor público, atinge agora também os hospitais particulares.

A reportagem do UOL Notícias ligou, no início da manhã desta sexta-feira (15), para quatro dos cinco hospitais particulares de Maceió com UTI neonatal para saber da disponibilidade para receber uma gestante de alto risco em trabalho de parto, e apenas um informou que possuía leito disponível. Os demais aconselharam as gestantes a buscarem outra unidade.

O Sindicato dos Hospitais de Alagoas disse existem cinco hospitais particulares com leitos de UTI neonatal para atender à demanda, em Maceió, mas praticamente não há mais vagas disponíveis. “As maternidades ou estão cheias, ou com mais de 90% de sua ocupação”, disse o presidente o sindicato, Humberto Gomes.

Ainda segundo os dirigentes hospitalares, por conta da rotatividade de entrada e saída de bebês, esse quadro de superlotação pode ser alterado – para melhor, ou para pior - a qualquer instante.

Estado nega crise

O superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria da Saúde de Alagoas, Vanilo Soares, negou nesta sexta-feira que exista uma crise no atendimento às mães e bebês de alto risco. “Assim como qualquer emergência do mundo, em algum momento há um problema de superlotação. Houve uma situação pontual na Santa Mônica [na quarta-feira, quando gestantes estavam no chão], mas o sistema respondeu satisfatoriamente, e nenhuma mãe ou bebê deixou de ser atendida. Não há crise. Estamos fazendo a regulação de leitos para a rede complementar”, disse.

Sobre a afirmação da Defensoria Pública, oreientando as mães que terão parto de alto risco a deixarem Alagoas, Soares afirmou que “não existe necessidade alguma disso”. “A mãe que precisar o parto deve ir à Santa Mônica. Lá ela será atendida e, se houver necessidade, haverá a transferência”, garantiu.

Porém, segundo o diretor da Santa Mônica, Telmo Henrique, a situação maternidade é “extremamente grave" e precisa de soluções, já que a demanda aumenta no fim de semana, quando unidades básicas fecham as portas. "A única solução que vemos seria a reabertura do HU para desafogar a Santa Mônica Enquanto isso não ocorrer, ficaremos sobrecarregados”, afirmou .

O HU informou que ainda não possui data para reabertura da maternidade e da UTI neonatal. Para amenizar o drama das gestantes de alto risco que estavam nos corredores e chão na maternidade Santa Mônica, o hospital começou a receber nesta quinta-feira pacientes internadas, e que não estejam em trabalho de parto, para realização exclusiva de tratamento clínico. Porém, em caso da necessidade de parto, as mães terão que ser novamente transferidas, já que ainda há o risco de infecção pela superbactéria na maternidade.