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Para especialista, petroquímica que teve dois acidentes em 32 horas levou região de Maceió à falência

Aliny Gama <BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Maceió

24/05/2011 07h00

Os dois acidentes ocorridos na Unidade Cloro Soda da petroquímica Braskem em Maceió, na noite do último sábado (21) e na madrugada desta segunda-feira (23), reacenderam a discussão sobre a localização da indústria em plena orla marítima da região sul da capital alagoana. Por conta da instalação, o eixo de desenvolvimento urbano mudou em três décadas. Especialistas ouvidos pelo UOL Notícias são unânimes em dizer que a empresa não deveria ter se instalado em área residencial de Maceió, chegando a defender, inclusive, a remoção da empresa para outro local.


Em 1976, quando a empresa se instalou, o bairro do Pontal da Barra era considerado ponto de expansão urbana, cercado de desenvolvimento urbano. Porém, após chegada da empresa, hotéis fecharam, e as residências das classes média e alta do Trapiche da Barra foram dando lugar às casas simples. Hoje, favelas dominam a região ao lado da empresa, e os hotéis e apartamentos de luxo migraram para a região norte.

Para o consultor ambiental Alder Flores, a empresa poderia se mudar para o distrito multifabril de Marechal Deodoro, na grande Maceió. "Não adiantaria tirar as pessoas que moram próximas à indústria, pois também há risco para o meio ambiente. O local não é adequado para o funcionamento seguro daquela empresa, por isso o poder público deveria pensar em sua transferência", sugere ele, que é autor de um livro, escrito na década de 90, que relatou os problemas causados pela Braskem ao meio ambiente e à população.

Para Flores, a instalação da Braskem levou a região à falência, desvalorizando imóveis e afastando projetos turísticos na região sul de Maceió --o que tornou a região então rica em uma área de periferia pobre. "Quem quer morar num local onde corre risco de acidentes? Ninguém. Só mora ali hoje quem não tem condições de viver em outro local seguro. Antigamente não era assim", disse.

Flores afirma que a instalação da Braskem na região do Pontal foi um erro de planejamento e de falta de legislação. À época, segundo relata, "não existia nenhuma lei que barrasse a fixação da empresa naquele local, apesar de ser habitado por pessoas e composto por uma região de restinga", aponta.
 
"Sem escolha"
Segundo relata o professor e historiador Jair Barbosa Pimentel, a Braskem decidiu se instalar no Estado após a descoberta de sal-gema no sub-solo alagoano, no início da década de 70.

A escolha do local exato de instalação, porém, foi imposta pelos donos da empresa. "A norte-americana Du Pont e o empresário Euvaldo Luz criam a Salgema Indústrias Químicas e exigem do governo do Estado um amplo terreno no Pontal da Barra para construção da fábrica", conta. "Não tinha escapatória: ou aceitava a exigência, contrariando os defensores do meio ambiente, ou Alagoas perderia mais uma vez para Sergipe, ficando como mero fornecedor de matéria-prima. O então governador Afrânio Lages, aceitou a proposta da multinacional."

O ambientalista Alder Flores destaca o risco constante de acidentes, que sempre estará presente nas comunidades vizinhas às fábricas químicas. "Não existe empresa química que não tenha problema. Ele sempre existirá, seja em escala maior ou menor. Qualquer acidente pode ser fatal tanto para funcionários quanto para a população, pois o material que a Braskem produz é altamente inflamável e venenoso", relata. Hoje, a Brakem é controlada pelo grupo Odebrecht, que comprou as ações do Estado em 1997.
 
"Erro já consolidado"
O presidente do IMA (Instituto de Meio Ambiente de Alagoas), Adriano Augusto, concorda que a fábrica está em local "não apropriado", mas afirma haveria dificuldades para transferir a empresa de local.

"Pelo tipo de  empresa, de atividade química, poluidora e potencialmente de risco elevado de acidentes, jamais deveria ter sido instalada naquela região", diz Augusto. "Tanto pelas habitações que existiam quanto por estar muito próxima a região lagunar. Em caso de acidentes, um dano a população ou ao meio ambiente pode ser irreparável."

Augusto destacou ainda que a instalação da empresa é um "erro já consolidado". "Hoje, a Braskem não teria conseguido liberação da área para se fixar. Mas, hoje, essa questão deveria ser levantada no âmbito judicial", disse, citando a aprovação da nova planta industrial, que foi liberada para o distrito industrial de Marechal Deodoro.
 
Braskem descarta transferência
O gerente de relações institucionais da Braskem, Milton Pradines, descartou a possibilidade da transferência da empresa do Pontal da Barra para outro local. Segundo ele, a instalação da empresa é um "fato consolidado" e não vê justificativa para a mudança entrar em pauta de discussão.

"Não existe essa possibilidade. A empresa está instalada há três décadas. Somos rigorosos no controle de acidentes, bem como prestando orientação aos funcionários e à população vizinha. Fazemos reuniões mensais na Igreja Batista para orientar os moradores. Não vejo justificativa para a população pedir a nossa saída", disse, destacando que a Braskem segue com concentração máxima para descobrir a causas dos dois rompimentos de tubulação.