Cidade mineira não registra homicídios há 54 anos
Uma pequena cidade na Zona da Mata de Minas Gerais é motivo de orgulho para os moradores. Paiva, que fica a 225 quilômetros da capital Belo Horizonte, não registra homicídios há 54 anos.
A Polícia Militar do município, de pouco mais de 1.600 habitantes, levantou os dados sobre ocorrências junto ao Cartório de Registro de Notas e Tabelionato da cidade, depois que o comandante da 13ª Região da PM viu uma reportagem sobre uma cidade paulista que não registrava homicídios há dez anos. Logo pensou que encontraria cidades mineiras com marca superior. Ele tinha razão. Além de Paiva, também foram descobertas Santana do Garambéu e Casa Grande, ambas no sul do Estado, que não registram assassinatos há mais de duas décadas.
Veja onde fica a cidade
O último assassinato em Paiva aconteceu em 1957, curiosamente ano em que o prefeito, José Dias Brandão (PDT), nasceu. Ele lembra que naquele ano um homem foi ferido durante uma briga. O canivete atingiu a perna da vítima, que, segundo o prefeito, morreu por falta de atendimento.
O sargento reformado da Polícia Militar, Elson Batista Fernandes, 68, é cidadão paivense. Saiu da terra natal com 19 anos e voltou para a região depois da aposentadoria. Ele lembra do dia em que aconteceu o último homicídio no município e conta detalhes da prisão do suspeito.
“Quando houve esse crime eu era garoto. Na época, aqui em Paiva passava um trenzinho, que cortava a cidade. O acusado foi preso e levado de trem para Santos Dumont [cidade vizinha a 30 km de distância]. Depois fiquei sabendo que ele seguiu para Barbacena [a 55 km de Paiva], onde ficou detido”, disse Fernandes.
Atualmente, o município conta oito militares para rondar as áreas urbana e rural. A corporação tem um carro e, quando há necessidade, recebe ajuda da patrulha rural da cidade de vizinha de Santos Dumont. Mesmo assim, o prefeito acredita que a baixa criminalidade é resultado de ações preventivas de segurança.
Cidade família
O sargento Raimundo Antonio Ferreira trabalha em Paiva há mais de vinte anos. Segundo ele, a cidade não tem um histórico muito agitado de ocorrências policiais. Nos últimos anos, disse ele, o crime de maior repercussão foi o assalto a uma agência dos Correios, no qual ladrões cariocas levaram cerca de R$ 20 mil. Os suspeitos foram presos e o dinheiro recuperado. Isso já faz quatro anos e, desde então, nenhum outro grande crime aconteceu.
O funcionário público e morador da cidade, Ricardo Alberto de Souza Paiva, garante, por isso, que o lugarejo é uma boa terra para viver. O sobrenome dele não é uma apenas uma coincidência --Ricardo é trineto do fundador da cidade João Ferreira Paiva, cuja família ocupou, no início do século 20, os primeiros terrenos da região e deu nome ao município.
Hoje, vivem ali muitos membros da histórica família. “Paiva é muito pequena, mas também muito tranquila. Raramente acontece furto ou roubo de grandes proporções. Aqui todo mundo é uma família e isso interfere na convivência. Falando por alto aqui é quase todo mundo parente”, afirma Ricardo Paiva, numa tentativa de explicar os baixos índices de criminalidade da cidade.
De acordo o Mapa da Violência 2010, divulgado pelo Ministério da Justiça, pelo menos 200 cidades mineiras tem taxa zero de homicídios. O cálculo leva em consideração o número de ocorrências e a população da localidade. A maioria desses municípios tem menos de 10 mil habitantes e não registrou assassinatos entre 2003 e 2007.
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