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Mesmo com frio intenso, trabalhadores "migram" para o Sul para colheita de batatas

Para driblar o frio, trabalhadores naturais de Estados como PE e MA, que atuam na colheita de batatas em São José dos Ausentes (RS), usam lata de tinta para improvisar um braseiro - Alexandro Auler/UOL
Para driblar o frio, trabalhadores naturais de Estados como PE e MA, que atuam na colheita de batatas em São José dos Ausentes (RS), usam lata de tinta para improvisar um braseiro Imagem: Alexandro Auler/UOL

Lucas Azevedo<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em São José dos Ausentes (RS)

05/07/2011 07h02

Carro-chefe da economia de São José dos Ausentes (233 km de Porto Alegre), a produção de batata atrai, a cada ano, um exército de homens e mulheres que chegam para trabalhar na colheita da safra na região. No entanto, o frio intenso dessa época faz com que muitos abandonem seus postos mais cedo.

Durante a temporada –que vai de fevereiro a julho–, a população da cidade aumenta de 500 a mil habitantes. A maioria dos trabalhadores vem de São Paulo e Minas Gerais, mas muitos são naturais das regiões Norte e Nordeste do país.

Ainda fazia calor na cidade quando os primeiros trabalhadores começaram a desembarcar, como o maranhense Adão da Silva Costa, 23. Vindo de São Paulo em um grupo de mais de 40 trabalhadores, ele encontrou no sul do país a possibilidade de garantir seu sustento num trabalho que lhe rende o dobro dos rendimentos que encontraria em sua terra natal.

Adão está vivendo com outros coletores, até o fim de julho, em uma casa na região. Eles são em sua maioria jovens, que evitam circular pela cidade nas horas de folga. Perto dali, outras duas moradias reúnem o resto do grupo. Um envergonhado homem de 20 anos, que se identificou apenas como Lucas, natural de Uberlândia (MG), conta que, no começo, eram 40 pessoas, mas hoje, em pleno inverno, apenas 20 continuam na lida.

Um uma casa de madeira ali perto, Luiz Carlos da Silva, um pernambucano de 45 anos, afirma que vive trabalhando em lavouras pelo país. Para driblar o frio do Sul, Silva apela para o vinho e para a lareira improvisada no quarto que divide com Sandro Aparecido Benedito, 24, e Carlos Henrique da Silva, 20. Em segundos, eles transformam uma lata de tinta cortada ao meio em braseiro.

A escassez de mão de obra local faz com que os produtores arregimentem em outros Estados trabalhadores acostumados com a roça. Para quem atua em São Paulo, por exemplo, cada saco de 700 kg de batata custa cerca de R$ 9. Em São José dos Ausentes, o valor sobe para R$ 14. 

“Eles trabalham o dobro da gente. Aqui, forçando muito, carrego uns 6,5 ou 7 sacos por dia. No mesmo tempo, eles fazem uns 9 ou 10 sacos. E começam de manhã, vão até as 18h, e só param para o almoço. E mesmo assim, vão comendo e trabalhando”, afirma Ronaldo Silva Padilha, 37, que nasceu em Ausentes.

Um dos trabalhadores que não desistiu da colheita por causa do frio, Adão da Silva Costa parece não se importar com o termômetro marcando - 5ºC na noite do último domingo (3). “É minha obrigação trabalhar. A gente tem que aguentar algumas coisas, mas quem vem do Maranhão para trabalhar no frio, aqui no Sul, já tem o futuro prometido”, finaliza.