Desorganização "rouba" até 30% do tempo de viagem do usuário de metrô em São Paulo
Vagões invariavelmente abarrotados nos horários de pico, assentos “especiais” ocupados por gente bastante comum --mas completamente estranha à finalidade do adjetivo-- e um treinamento diário de paciência e resiliência para suportar aquela pisada doída, a mochila na cara ou, simplesmente, o trem que empaca, no meio do caminho, porque precisa aguardar a “movimentação do trem à frente”, a despeito do relógio.
Usar o metrô de São Paulo em dias úteis --segunda a sexta-feira-- é um pouco de todas essas experiências acima descritas, embora o meio de transporte seja ainda mais rápido que os carros e ônibus que inundam o trânsito mais intenso do Brasil.
O que nem sempre o usuário percebe é que uma série de entraves no fluxo das estações pode ser capaz de roubar até um terço de todo o tempo que se percorre no interior do vagão. Foi o que uma equipe do UOL Notícias constatou durante uma semana de acompanhamento das quatro linhas do sistema –a 1-azul, a 2-verde, a 3-vermelha e a 4-amarela, a mais nova.
Durante cinco dias úteis, de 17 a 21 deste mês, três repórteres fizeram seus trajetos ao UOL, na avenida Faria Lima (zona oeste), de metrô e em horários diferentes. Dois profissionais acompanharam o dia-a-dia do sistema nos horários das 9h e das 10h, ainda na faixa de pico, e um fora dela, na faixa entre as 14h e as 15h.
Com embarques nas estações Chácara Klabin, Santos Imigrantes (ambas, na linha 2 e na zona sul da capital) e Brás (linha 3, região central), as equipes realizaram transferências na Sé (linha 1) e na República (linha 4) e na Consolação (linha 2) com a Paulista (linha 4) antes da chegada à estação Faria Lima –junto com a Paulista, das primeiras inauguradas pela Via Quatro, em maio de 2010.
Em média, nos três percursos avaliados, o tempo médio gasto em deslocamento nas estações representou 30% do consumido em todos percursos. O curioso é que grande parte desse percentual destina-se exclusivamente à conturbada travessia da linha 2 para a linha 4, onde até as esteiras automáticas --que deveriam agilizar o fluxo de passageiros-- precisam ser desligadas para evitar acidentes.
“É que, se a gente não desliga, as pessoas que chegam ao final vão se amontoando umas às outras”, explicou uma agente da linha 4, à reportagem, indagada sobre o fato de todos os dias, no pico, as duas esteiras destinadas a quem segue para a plataforma, vindo da Consolação, estarem paradas.
A sensação de tempo desperdiçado não é para menos: há pouco mais de um mês com horário estendido até a meia-noite, a linha 4 nesse tempo não só anotou a abertura das estações Luz e República como ainda viu saltar para cerca de 500 mil usuários/dia sua demanda. Só na Paulista, segundo a concessionária, está um quinto de todo esse volume.
O percurso da Chácara Klabin à Faria Lima, segundo o simulador disponível no site da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP), tem como opção mais rápida a viagem em 17 minutos. A reportagem levou em média, nos cinco dias, 21 minutos de tempo total –sete deles apenas no trânsito entre as plataformas.
No trecho Santos Imigrantes/Faria Lima, pelo simulador, são 20 minutos no percurso mais ágil. A equipe do UOL Notícias levou 34 minutos, novamente, sete deles dedicados ao enfrentamento do fluxo das linhas 2 para a 4. Neste caso, o tempo médio ficou em 28 minutos, oito deles gastos nas transferências.
A série de reportagens será publicada a partir desta segunda (31) até a próxima sexta-feira (4).
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