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Criticada, PM envia spam para explicar ação no Pinheirinho

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

26/01/2012 20h11

Após receber críticas pela forma como conduziu a reintegração de posse da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), a Polícia Militar de São Paulo enviou spams via e-mail para explicar a operação e dar a sua versão do fato. O mesmo procedimento já havia sido adotado em outubro do ano passado, após a ação da PM na desocupação da reitoria da USP (Universidade de São Paulo).

A reportagem do UOL localizou quatro pessoas que receberam a comunicação da PM. Todas estranharam ter recebido o spam, já que nunca se cadastraram no site da corporação para receber e-mails.

  • A Arte elaborada pela PM sobre a ação no Pinheirinho

O texto saúda o destinatário com um “Caro(a) amigo(a) da PM” e vem acompanhado de uma arte didática explicando passo a passo o antes, o durante e o depois da operação segundo a versão da PM.

Na arte, a PM justifica a operação afirmando que a reintegração possibilitará que o pagamento do prejuízo dos antigos trabalhadores da Selecta, embora ainda não haja um destino certo para o terreno que abrigava o Pinheirinho.

PM rebate críticos

A ação da PM foi criticada por representantes do governo federal, como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, por parlamentares, como o senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente (PSOL), entidades sindicais e dos direitos humanos além dos próprios moradores.

A relatora para o Direito à Moradia da ONU (Organização das Nações Unidas), a brasileira Raquel Rolnik, encaminhou à organização um relatório apontando violação de direitos humanos na ação. Vídeos que circularam na internet mostram a PM jogando bombas de efeito moral perto de mulheres e idosos. Outro vídeo mostra um homem negro sendo agredido com cassetetes por um policial. O secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência, Paulo Maldos, foi atingido por uma bala de borracha durante a ação.

No e-mail, a PM afirma que a ação transcorreu “sempre dentro da legalidade e com respeito incondicional aos direitos humanos e às pessoas”. “Caso algum fato pontual tenha se desviado dessa orientação, será rigorosamente apurado”, diz a corporação.

A PM rebateu no texto o que chamou de “declarações falaciosas”, “propaladas por pessoas descomprometidas com os reais valores democráticos”, que “tentam macular a ação legítima realizada pelos policiais militares.”

No encerramento, a corporação se autointitula uma “instituição legalista”, que “em seus 180 anos de existência sempre trabalhou em consonância com o ordenamento jurídico e balizada em três princípios básicos, que são: respeito integral aos direitos humanos, filosofia de polícia comunitária e gestão pela qualidade”, afirma o texto.

"Ação de transparência"

Segundo o capitão Sanches, da comunicação social da PM, o envio dos e-mails é uma “ação de transparência” da corporação para “esclarecer informações desencontradas” que circulam em redes sociais.

O policial afirmou que a PM tem um mailing fechado, com pessoas que se cadastraram no site. Ele não soube explicar como os e-mails chegaram a destinatários não cadastrados, mas disse que internautas que já enviaram algum e-mail à PM também podem ter sido incluídos no mailing.