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Quatro em cada dez usuários acham que transporte coletivo em São Paulo é "ruim" e vai piorar

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

31/01/2012 13h17Atualizada em 31/01/2012 17h49

Ao menos quatro em cada dez moradores da capital paulista e da região metropolitana consideram ruim a qualidade do transporte coletivo e são pouco otimistas em relação à melhoria do sistema para os próximos quatro a cinco anos –é dentro desse prazo que eles acham que vão piorar, por exemplo, os crescentes problemas de lotação.

O dado integra uma pesquisa realizada pelo instituto Toledo & Associados sob coordenação da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), sobre a imagem que o usuário tem em relação ao sistema público de transporte, e foi divulgada nesta terça-feira (31) –exatamente quando ao menos 2 milhões de usuários de ônibus foram afetados por uma paralisação de três horas de motoristas e cobradores.

A pesquisa foi patrocinada pelas empresas de transporte público de São Paulo e teve os dados –coletados por entrevistas feitas na casa dos entrevistados– apresentados pela ANTP na Setpesp (Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de São Paulo), na Bela Vista, área central de São Paulo.

Segundo os dados apurados, 41% acham "ruim" a qualidade do transporte coletivo em São Paulo, 18% avaliaram que o serviço é "bom", e 41% classificaram o serviço como "nem bom, nem ruim".

A análise compreende etapas qualitativa, com separação dos entrevistados por sexo, rendimento e grau de instrução, e quantitativa. Na média geral, o usuário de transporte coletivo em São Paulo é formado principalmente por mulheres (51%), pessoas de 41 anos, integrantes da classe C (47%) e com ensino primário completo ou fundamental incompleto (39%). A renda familiar média é de R$ 2.070 mensais; a renda pessoal média, de R$ 1.110.

Ao todo, foram feitas 1.333 entrevistas em São Paulo e 1.054 em municípios da região metropolitana nos meses de outubro e novembro do ano passado. Segundo o instituto que coletou os dados, a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. É o 25º ano que o levantamento é feito.

Segundo os coordenadores do estudo, a queda de percepção de qualidade se deu a níveis mais acentuados entre os usuários de ônibus municipais na capital. É nesse sistema de transporte em que foram mais presentes queixas de lotação, tempo de espera longo e pouca rapidez, em função do trânsito e da falta de mobilidade urbana.

“O transporte público é o que garante a sobrevivência de desenvolvimento das cidades. Acredito que São Paulo vai acabar ainda chegando a medidas já adotadas em cidades europeias, do Japão e dos Estados Unidos como proteção de algumas áreas contra o tráfego, como pedágio urbano, por exemplo, e escalonamento de horários. Isso não é nenhuma anomalia”, afirmou Rogério Belda, um dos fundadores da ANTP e coordenador da pesquisa.

Percepção de problemas que vão “piorar”, “melhorar” e acidentes

Entre os principais problemas que para os entrevistados vislumbram piora, estão, além da lotação (41%), o tempo de espera (32%), a rapidez (velocidade) da viagem (26%) e comportamento do usuário (26%).

 Já entre os aspectos que tendem a melhorar, na opinião dos entrevistados, estão uso de um único bilhete em todos os meios (para 54%), alcance e abrangência das linhas (50%), uso pelas pessoas com deficiência (49%), adoção de faixas e corredores exclusivos (48%) e conforto em geral (41%).

Por outro lado, a percepção em relação aos acidentes é o de que eles aumentaram de 2010 em relação a 2011 –especialmente quanto a micro-ônibus da capital (39%) e ônibus municipais (38%). A percepção de diminuição de acidentes foi maior entre usuários de metrô (36%).

Avaliação dos transportes

A pesquisa avaliou também que nota os usuários dão para o transporte coletivo na cidade, em uma escala de um a cinco. De nove tipos analisados, seis tiveram queda de avaliação em 2011, em comparação com 2010 –entre os quais ônibus e micro-ônibus municipais, ônibus metropolitano e de outras cidades, e Metrô.

A avaliação sobre o serviço da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) não sofreu alterações de um ano a outro, assim como os ônibus do corredor São Mateus/Jabaquara. Já a avaliação do serviço do corredor Expresso Tiradentes aumentou.

Pelo ranking, as notas mais baixas ficaram com os serviços de micro-ônibus na capital e de ônibus em outras cidades (3,0); ônibus municipal (3,1); ônibus metropolitano, nos corredores da capital e CPTM (3,3). A nota mais alta, mas menor que os 3,9 de 2010, foi a de 3,7 atribuída aos serviços de metrô.

Acidentes e violência

Outros aspectos de avaliação que ganharam destaque na apresentação da pesquisa --cuja versão mais detalhada, segundo o instituto, será fornecido às empresas para avaliação e adoção de medidas --dizem respeito à percepção em relação à quantidade de acidentes e às situações de violência presenciadas no transporte coletivo.

Sobre acidentes, por exemplo, o percentual de quem acha que eles têm aumentado é maior (39%) sobre micro-ônibus na capital, seguido de ônibus em São Paulo (38%) e na região metropolitana (27), trem metropolitano (17%) e metrô (14%).

Já entre causadores das situações de violência predominam aspectos relacionados a atitudes e valores dos usuários, com 64%, especialmente bate-bocas, aspectos ligados aos próprios meios de transporte (52%), sobretudo superlotação, e aos funcionários dos funcionários (6%), como despreparo e stress.

"O usuário relata brigas e mais casos de falta de educação de outros usuários como decorrentes de comportamento, mas muitos desses casos têm origem na própria superlotação do sistema”, disse a diretora de planejamento do instituto de pesquisa, Maria Aparecida Toledo.

Segundo a diretora, as entrevistas apontaram que, de um modo geral, os usuários apresentaram uma relação bastante próxima entre qualidade de vida e qualidade dos serviços de transporte coletivo. "Depender do ir e vir com transporte coletivo gera um desgaste e uma insatisfação com o sistema", citou, enfatizando que "basicamente tempo, com 67%, e mobilidade, com 37%, são os aspectos básicos para qualidade de vida elencados pelos entrevistados".