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Corpo de vítima dos "crimes de maio" de 2006 é exumado em Santos

Corpo de gari supostamente assassinado por um grupo de extermínio foi exumado nesta quarta em Santos - Gustavo Delacorte/UOL
Corpo de gari supostamente assassinado por um grupo de extermínio foi exumado nesta quarta em Santos Imagem: Gustavo Delacorte/UOL

Gustavo Delacorte

Do UOL, em Santos

13/06/2012 19h46

O corpo do gari Edson Rogério Silva dos Santos, supostamente assassinado em 15 de maio de 2006 por um grupo de extermínio, foi exumado na tarde desta quarta-feira (13), no Cemitério da Areia Branca, em Santos, no litoral de São Paulo (a 72 km da capital paulista). Essa é a primeira vítima da sequência de mortes que ficaram conhecidas como “crimes de maio” a ter o corpo desenterrado para novas investigações. O gari, que trabalhava para uma empresa que prestava serviços para a Prefeitura de Santos há quase sete anos, deixou um filho. Na época, Edson tinha 29 anos.

A exumação, solicitada pelo Ministério Público à Justiça, visa encontrar a bala que teria matado o rapaz, que ficou alojada em seu corpo, para ser periciada, fato que não aconteceu em 2006. Segundo Débora Maria da Silva, mãe da vítima, ele foi enterrado com o projétil no corpo em razão de o IML (Instituto Médico Legal) não ter, na época, instrumentos que possibilitassem a retirada da bala. “Nós precisamos saber a verdade. Se o projétil não for encontrado, será uma prova de que foi um erro deixar de retirar a bala do corpo dele, e isso só aconteceu porque os instrumentos do IML estavam quebrados na época”, afirma Débora Maria.

Para o defensor público Antonio Maffezoli, que acompanhou a exumação, não houve cuidado suficiente na retirada dos restos mortais. A opinião do defensor público é compartilhada pelo deputado federal Adriano Diogo (PT-SP) e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, que também presenciou a exumação a convite da família. “Embora o médico legista tenha se esforçado, poderiam ter mais cuidado ao mexer nos restos mortais. Tinha muita lama em volta do invólucro do caixão e não havia uma iluminação adequada na hora. Mas isso não quer dizer que o laboratório não consiga examinar tudo corretamente”, relatou.

O médico legista Rogério Bernardo explicou que todo o processo de exumação foi dificultado por conta do tempo que se passou desde que a vítima foi enterrada. “Tudo o que foi recolhido será devidamente analisado. O tempo que se passou desde então dificulta a investigação. De tudo o que recolhemos, só restou uma fina camada de terra. Garimpamos o local e não vimos nenhum projétil, mas analisaremos tudo. Se houver, estará no material”. Os estudos devem estar prontos entre dez e 15 dias.

O deputado Adriano Diogo disse que, na última segunda-feira (11), os membros da Comissão Nacional da Verdade, que visa investigar violações dos direitos humanos ocorridas no país, trataram do tema fora da pauta do encontro. “Isso é muito importante, pois demonstra que há uma preocupação com o caso. O Brasil precisa saber que esse tipo de coisa ainda acontece”.

"Crimes de maio"

Os “crimes de maio”, sequência de assassinatos que aconteceram em maio de 2006 na Baixada Santista, Guarulhos e em São Paulo, completaram seis anos no último dia 12 de maio sem que qualquer solução.

De acordo com o Movimento Mães de Maio, fundado por Débora, entre os dias 12 e 20 de maio de 2006, pelo menos 493 pessoas foram assassinadas quando grupos de extermínio revidaram ataques de uma facção criminosa que atua no Estado de São Paulo, o PCC (Primeiro Comando da Capital).

O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) condenou o Estado em novembro de 2011 a indenizar os familiares do gari em R$ 165 mil. A decisão judicial foi a primeira em relação aos “crimes de maio”.