Na Rio+20, Vaticano critica "ameaça à família", sem mencionar aborto nem "direitos reprodutivos"
Na manhã desta sexta (22), o representante do Vaticano na Rio+20, o cardeal brasileiro dom Odilo Scherer, defendeu em seu discurso "direitos a favor da vida humana". Sem usar o termo "direitos reprodutivos", ele criticou o que chamou de "ameaça à família".
Também sem mencionar a palavra aborto, dom Odilo repudiou "uma sentença de morte imposta sobre vidas humanas mais vulneráveis, ou seja, aquelas que estão no santuário mais seguros, que são os úteros de suas mães". "Não pode, sob nenhuma hipótese, ser apresentada com a nomenclatura de cuidados da saúde ou simplesmente saúde", disse. A íntegra do discurso de dom Odilo foi divulgada pelo site da Arquidiocese de São Paulo.
O rascunho da final da Rio+20 suprimiu os direitos reprodutivos por pressão da Igreja Católica, o que gerou críticas ao governo brasileiro por parte de movimentos sociais e de líderes de outros países.
Esta questão, que provocou muita polêmica na conferência, reconhece o direito da mulher de decidir se quer ter filhos ou não, em que momento e com quem, sem discriminação ou violência, mas muitos países o vinculam ao controle pré-natal e ao aborto.
Não é "saúde"
Dom Odilo afirmou que é preciso prestar "justa solidariedade" às gerações futuras, "incluindo os que ainda estão por nascer". Por mais de uma vez, ele se referiu à "dimensão ética" que se impõe nas escolhas a serem feitas nos tempos atuais e reforçou que é preciso levar em conta "os direitos a serviço da pessoa humana", lembrando que o "desenvolvimento de todas as fases da vida [referindo também ao período da gestação] está a serviço da vida".
Na concepção dele, os direitos "estão a serviço da pessoa humana de maneira toda especial". Para ela, existe "risco de obscurecer essa relação justa" no caso do direito à saúde.
Antes dele, a secretária de Estado Hillary Clinton, dos Estados Unidos fez uma defesa ampla aos direitos reprodutivos. Na manhã de ontem, a presidente Dilma havia feito também um discurso em que defendia os direitos reprodutivos -- sem citar a retirada do termo do rascunho final da Rio+20. Criticada por outras líderes estrangeiras, Dilma retomou a palavra ao final do evento e justificou a redação do documento.
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