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Delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo admite "mudança brutal" no número de homicídios

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

12/11/2012 18h36

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro, admitiu nesta segunda-feira (12) que a onda que violência que atinge o Estado alterou significativamente o número de homicídios registrados. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), por outro lado, tem insistido na tese de que a situação está “sob controle”.

O último fim de semana foi o mais violento desde que se intensificou a onda de crimes, no dia 26 de outubro. Entre a noite de sexta (9) e a noite de domingo (11), ao menos 25 pessoas foram mortas na Grande São Paulo, sendo 17 apenas de sábado para domingo.

Questionado sobre os números, Carneiro falou em “quebra de padrão”.

“Houve essa quebra de um padrão. No Estado de São Paulo são 42 milhões de habitantes. Em média, nos estávamos com 10 a 12 mortos por dia [média de homicídios em todo o Estado em 2011]. Infelizmente houve essa mudança brutal, e a polícia está investigando”, disse Carneiro.

As declarações foram dadas após a assinatura do acordo de cooperação entre governo do Estado e Ministério da Justiça, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Em 2011, o Estado de São Paulo registrou 4.403 homicídios, média de 12 casos por dia. Como a população do Estado é de aproximadamente 42 milhões de habitantes, a taxa de homicídios, em 2011, foi de 10,4 mortes para cada 100 mil habitantes, patamar próximo ao que a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera não epidêmico: 10 mortes para cada 100 mil habitantes por ano.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador Alckmin, que assinaram o documento, se esforçaram em dizer que já estão "trabalhando de forma integrada" para conter o avanço da violência. As autoridades, no entanto, não souberam dizer quando a população poderá sentir os efeitos imediatos das medidas.

"Nós estamos trabalhando em ritmo aceleradíssimo, de forma integrada. O que eu posso dizer é o seguinte: as ações de inteligência já estão em desenvolvimento e seguramente surtirão efeito. Essa é a nossa intenção. Eu não posso prever datas para a situação, mas posso prever muito trabalho e ajuda integrada", disse o ministro Cardozo.

Como exemplo, Alckmin citou a transferência do acusado de mandar matar seis PMs, Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, da Penitenciária de Avaré para o presídio federal de Porto Velho (RO).


Acordo

O documento assinado hoje por Alckmin e pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, estabelece que o acordo de cooperação começa hoje e vai até o dia 31 de dezembro de 2014, podendo ser prorrogado conforme o interesse das partes.

De acordo com Cardozo, o primeiro repasse de recursos do governo federal para o estadual será de R$ 60 milhões, que serão destinados à criação do Centro de Comando e Controle do Estado.

“O governo federal liberará, para a criação do Centro de Controle, R$ 60 milhões. O Estado também terá uma contrapartida forte. É isso que estamos fazendo. Projetos são definidos e, a partir de cada projeto, estudamos o recurso [financeiro] lado a lado”, disse Cardozo.

Para o ministro, a criação desse centro é "muito importante para São Paulo e para o Brasil", pois vai "reunir todas as forças que atuam na área da segurança pública, permitindo um diálogo rápido para intervenções". Segundo Alckmin, a ideia é o que centro esteja “em pleno funcionamento” antes da Copa do Mundo de 2014. 

Entre as outras medidas previstas pela parceria estão a remoção de líderes de facções para presídios federais fora de São Paulo e o fortalecimento do IC (Instituto de Criminalística), para pesquisar o "DNA" da droga que sustenta o crime organizado. O acordo, porém, descarta o envio de tropas do Exército ou da Força Nacional de Segurança para São Paulo.

'Execução intolerável'

Alckmin classificou como “intolerável” a morte do servente Paulo Batista Nascimento, 25, ocorrida no último sábado na capital. Um vídeo amador exibido na edição de ontem (11) do "Fantástico", da TV Globo, desmentiu a versão da Polícia Militar sobre o caso.

"Nós tivemos um caso de execução de um preso por parte de um PM, e isso é intolerável. A Polícia Militar já prendeu toda a equipe. Poucas horas depois da descoberta do fato cinco policiais foram presos e responderão a processo. Aqueles que forem responsabilizados serão expulsos da polícia. Não há nenhuma tolerância", disse o governador.