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Prisões no Brasil são medievais e seria melhor morrer do que ficar preso por anos, diz ministro

O ministro da Justiça disse que prefere perder a vida a passar anos num presídio brasileiro - Martin Alipaz/Efe
O ministro da Justiça disse que prefere perder a vida a passar anos num presídio brasileiro Imagem: Martin Alipaz/Efe

Do UOL, em São Paulo

13/11/2012 16h40

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), classificou nesta terça-feira (13) como “medievais” as condições das prisões brasileiras. "Se fosse para cumprir muitos anos na prisão, em alguns dos nossos presídios, eu preferiria morrer". Ele diz ainda que “os presídios brasileiros precisam ser melhorados. Entre passar anos num presídio brasileiro e perder a vida, eu talvez preferisse perder a vida. Os seres humanos quando não são tratados como humanos eles se sentem injustamente violentados", afirmou ao responder se apoiava a adoção da pena de morte e da prisão perpétua no Brasil, em entrevista coletiva após evento sobre segurança, organizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo.

Cardozo diz ser contrário a ambas penas, explicando que é necessário melhorar o atual sistema prisional, ao invés de adotar essas medidas. "Não é uma postura de governante, é uma postura de cidadão que acha que a pena de morte não é solução para nada”.

O ministro também afirmou que o crescimento do crime organizado é possível apenas em associação com algum nível de corrupção no Estado. “Não existe crime organizado que cresça sem desmando, sem corrupção. A violência gerada por organizações criminosas dificilmente se enraíza sem um certo grau de corrupção no Estado. Isso não é no Brasil, é no mundo."

Ministro diz que prefere morrer a ficar preso no Brasil

“Não há crime organizado que funcione sem a corrupção. E falo corrupção no sentido amplo, não só do agente público, mas também do mundo privado que às vezes gosta de dar um jeitinho. Quando você paga uma propina para um guarda não te multar você está movendo engrenagem muito maior do que você pensa, você está viciando costumes, e pode estar criando braços da criminalidade que vai te matar mais tarde”, disse.

Onda de violência

A palestra do ministro em São Paulo ocorre em meio a uma onda de violência que matou 93 policiais desde o início do ano, com a suspeita de que a ordem para assassinatos e ataques a ônibus tenham partido de dentro dos presídios por membros do grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital). Na segunda-feira (12), Cardozo selou um acordo de cooperação com o governo do Estado para a colaboração no combate à escalada da violência.

No evento desta terça-feira (13), o ministro defendeu a parceira entre União e governos estaduais contra a criminalidade. "É chegada a hora de parar de fazer o jogo do empurra, em que um empurra para o outro. É muito mais fácil dizer que a culpa é do Estado e não da responsabilidade da União, mas me recuso a dizer isso", afirmou.

O ministro voltou a afirmar que o governo federal poderá oferecer informações de inteligência policial, verbas para projetos de segurança e vagas em presídios federais de segurança máxima para a transferência de presos. Cardozo, no entanto, evitou comentar qual a avaliação do ministério sobre o poderio do PCC, alegando que não poderia comentar “informações de inteligência”, como as eventuais ramificações do grupo em outros Estados.

“Não vou falar de organização criminosa específica. Organização criminosa tem que ser enfrentada com energia e vontade política, baseada em inteligência e planificação. O Estado brasileiro jamais deve temer organizações criminosas. O Estado brasileiro é muito mais forte do que qualquer organização criminosa”, disse.

Como causas da violência, o ministro apontou, além da corrupção, a impunidade e a exclusão social, onde incluiu o preconceito e a violência contra as mulheres. Embora a exclusão pela pobreza seja apontada pelo ministro como um dos fatores que impulsionam a criminalidade, Cardozo afirma que a melhoria da distribuição de renda não levou necessariamente a uma redução dos índices de violência em algumas cidades. (Com Estadão Conteúdo)