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Delegado diz que depoimento de marido de fisiculturista morta em Natal é "mentiroso"

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

04/01/2013 22h47

O delegado Frank Albuquerque, que foi designado para investigar a causa da morte da fisiculturista paulista Fabiana Caggiano Paes, 36, ocorrida no último dia 2, em um hospital particular de Natal, afirmou que o viúvo Alexandre Furtado Paes prestou depoimentos “mentirosos” à polícia nas duas vezes que foi interrogado, antes de viajar para Osasco (Grande São Paulo) com o corpo da mulher.

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A polícia aguarda a entrega do laudo com a causa da morte de Fabiana para indiciar ou não como principal suspeito o viúvo, pois há indícios de morte por esganadura e asfixia mecânica, segundo informações preliminares informadas ao delegado.

"Se o laudo apontar que ela foi morta por asfixia mecânica o empresário deverá ser indiciado por homicídio qualificado", disse Albuquerque.

O delegado afirmou que existem vários pontos em que Paes “mentiu” durante depoimento sobre os últimos momentos em que esteve com Fabiana dentro do quarto do Hotel Arituba, no bairro Tirol, em Natal, na noite do último dia 28.

Os argumentos do delegado são baseados em relatos de testemunhas e análise do local em que Fabiana teria passado mal, que foi o banheiro do quarto do hotel.

Até agora cinco pessoas que presenciaram Fabiana desacordada no chão do quarto do hotel já prestaram depoimento –entre elas dois funcionários do hotel, além de um socorrista de uma empresa que fica em frente ao hotel e hóspedes.

“O marido da jovem afirmou que eles estavam vivendo um relacionamento tranquilo, que não havia ocorrido nenhuma discussão entre o casal antes de a mulher ter desmaiado no banheiro, que ela estava molhada, tomando banho, entre outros relatos mentirosos que estão sendo desmentidos por testemunhas”, disse o delegado.

O ponto crucial ao qual o delegado afirmou que o marido da fisiculturista mentiu foi em relação a ela estar tomando banho quando passou mal, que estaria com o chuveiro aberto e o corpo dela molhado, quando ele quebrou o box do banheiro –de dentro para fora– para retirar a esposa e socorrê-la.

“Ao contrário do que ele relatou, testemunhas disseram que o corpo da jovem estava seco, os cabelos também secos e sequer viram o chão do quarto ou da parte de dentro do box vestígio de água”, disse o delegado

Albuquerque relatou ainda que observou que o vidro do box do banheiro foi quebrado e os estilhaços permaneceram intactos contrariando a história de que “Paes retirou Fabiana de dentro do box do banheiro”.

“Ele tem uma estatura bem menor que a dela, que é alta. Quanto ele teria colocado parte do corpo dela entre os braços para retirá-la de dentro do box os vidros teriam sido remexidos, estaria um caminho de pelo menos uma das pernas de Fabiana, que ele contou que foi arrastada para fora do box”, argumentou o delegado especial, que foi designado para investigar o caso porque estava de plantão na quarta-feira (2), quando recebeu uma ligação de funcionários do Itep (Instituto Técnico Científico de Polícia) informando que Paes estava tentando obter rapidamente o atestado de óbito para levar o corpo da esposa para ser cremado em João Pessoa.

“Ele disse que o desejo dela era que quando morresse fosse cremada e informou que já havia feito contato com um crematório em João Pessoa e estaria tudo certo, faltando apenas a documentação para liberar o corpo da mulher”, contou o delegado, relatando que inicialmente os médicos legistas observaram sinais de esganadura e asfixia no corpo de Fabiana e não liberaram a documentação para o corpo dela ser cremado.

“Foram observados que o corpo da mulher estava com escoriações ao redor do pescoço, além de um ferimento feito por um objeto perfurocortante na parte da nuca. Os pulmões da fisiculturista estavam como se estivessem suado sangue e a garganta também, que são características de asfixia mecânica”, ressaltou o delegado.

Segundo Albuquerque, o viúvo negou que tenha ocorrido qualquer tipo de violência contra a mulher e que ao ser questionado sobre as escoriações “ele disse que foram ocasionados devido a massagem cardíaca, além do colar cervical e pelos tubos que foram colocados para ajudar na respiração da fisiculturista”.

“Todos os argumentos dele já foram derrubados pela equipe médica do hospital da Unimed, que atendeu Fabiana, na noite do dia 28. Se toda massagem cardíaca, colar cervical e entubação causasse aquilo todo mundo que necessita de socorro similar teria também morrido. Uma massagem cardíaca não deixa o pulmão ‘suado’ e se tivesse ocorrido uma pancada teria uma hemorragia porque é uma região bastante vascularizada”, ressaltou.

Relacionamento conturbado

Hóspedes do hotel relataram a polícia que escutaram o casal discutindo e a família de Fabiana, tanto a mãe, quanto a irmã, informaram ao delegado que a fisiculturista havia descoberto que Paes estava com um relacionamento extraconjugal.

“A mãe e a irmã dela tem mensagens enviadas do celular de Fabiana lamentando que o casamento estava conturbado, com muitas brigas, principalmente porque Paes havia arrumado uma amante, que é advogada”, disse Albuquerque.

Como a família de Fabiana mora em São Paulo o delegado solicitou ajuda da 1ª Delegacia de Polícia de Osasco para transcrever por carta precatória as mensagens que Fabiana enviava para a família reclamando da ausência do marido, contando sobre o relacionamento extraconjugal que Paes vinha mantendo.

“Também serão colhidos depoimentos da família e de hóspedes que moram em São Paulo e presenciaram algumas discussões do casal no hotel.”

A polícia informou que Paes pretende obter uma ordem judicial para que seja realizada outra necropsia no corpo de Fabiana para contestar os argumentos dos médicos legistas do Itep de Natal.

A reportagem do UOL tentou contato com Alexandre Paes para comentar as afirmações do delegado Frank Albuquerque, mas não obteve resposta até o momento da publicação.