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Perito criminal é 1º testemunha de defesa a ser ouvida no caso Gil Rugai e encerra 2º dia de júri

Ana Paula da Rocha e Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

19/02/2013 19h57Atualizada em 19/02/2013 23h32

O perito criminal Alberi Espíndula foi a primeira testemunha a depor, por parte da defesa do ex-seminarista Gil Rugai, 29, no júri popular que entrou nesta terça-feira (19) em seu segundo dia no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. O depoimento durou cerca de 1h30 e encerrou o dia.

O autor do crime, que a defesa vem prometendo apresentar desde o início do julgamento em entrevistas à imprensa, ainda não foi divulgado em nenhum momento do julgamento.

A decisão de elegê-lo como o primeiro a depor, em uma lista de nove nomes que traz de contadores a repórter de TV, foi anunciada por volta das 19h40, minutos após o depoimento de cerca de seis horas do delegado do caso, Rodolfo Chiareli, última das cinco testemunhas arroladas pela acusação.

Pouco antes de depor, o perito passou mal e a defesa disse que ia poupá-lo de muitas perguntas em respeito à sua saúde.

Natural do Distrito Federal e dono de uma empresa privada, Espíndula é perito criminal desde 1996 e logo no início da inquiração feita pelo juiz do caso, Adílson Simoni, disse não conhecer nem a casa onde o casal assassinado morava, em Perdizes, na zona oeste de SP, tampouco as vítimas ou mesmo o réu.

Vídeo causa confusão

Ele também foi diretor de divisão de perícias externas do IC (Instituto de Criminalística) do DF e presidente da Associação Brasileira de Criminalística. Espíndula disse ter vindo a pedido da defesa, com despesas às custas dele próprio.

Um dos primeiros pontos abordados pela defesa à testemunha foi sobre imagens do circuito interno de câmeras do shopping Frei Caneca, onde Gil Rugai afirma que estava no momento dos assassinatos. A suposta ida ao local é o principal álibi do réu.

Antes, em depoimento de quase seis horas, o delegado do caso, Rodolfo Chiareli, havia dito à defesa que as imagens não foram periciadas porque, por questões técnicas de armazenamento no HD, haviam sido apagadas com novas imagens gravadas sobre elas. O perito, no entanto, disse que o correto teria sido a polícia ficar com este equipamento.

Os questionamentos dirigidos ao perito foram, em sua maioria, voltados a uma foto que integra a perícia que mostra dois projéteis alinhados onde a porta da sala de TV teria sido arrombada. Espíndula não conseguiu comprovar se a porta estava fechada ou não.

A defesa também utilizou parte do tempo para apresentar a qualificação técnica da testemunha.

Cinco homens e duas mulheres decidirão se o ex-seminarista é culpado ou inocente das acusações dos assassinatos do pai, Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino, em São Paulo, em março de 2004.

Segundo dia de júri

O segundo dia do julgamento teve, além de Espíndola, o depoimento, por cerca de seis horas, do delegado do DHPP (Departamento de Homicídio de Proteção à Pessoa) de São Paulo, Rodolfo Chiareli, que disse ter certeza de que Gil Rugai é o assassino do pai e da madrasta.

Conforme Chiareli, o pai do réu foi assassinado de joelhos, ou, no mínimo, caindo --sem chance alguma de defesa.

Pela manhã, o instrutor de voo Alberto Bazaia Neto disse ter ouvido de Luiz Carlos Rugai, morto com a esposa em 2004, que a vítima tinha "medo" do filho depois de descobrir supostos desvios de dinheiro na empresa.

Segundo a acusação, o crime foi motivado por Gil Rugai depois de ser afastado da empresa do pai, a Referência Filmes.

Ao questionarem a testemunha, os advogados de defesa Marcelo Feller e Thiago Anastácio mostraram documentos indicando apreensão de drogas no Aeródromo de Itú (SP) --onde fica o aeroclube em que Bazaia Neto é instrutor de voo.


Defesa e acusação se dizem satisfeitos com depoimentos

"A acusação sai extremamente feliz, uma vez que a primeira testemunha fez uma série de relações entre a vítima e o filho. Na sequência veio o delegado. Ele contou todos os passos de uma forma bem didática. Ele concluiu que a única linha de atuação era Gil Rugai", disse o promotor do caso, Rogério Leão Zagallo, em entrevista concedida após a sessão desta terça-feira.

Por outro lado, a defesa também interpreta com otimismo o segundo dia do julgamento. "A avaliação é excelente pela defesa. Acabaram de ser ouvidas todas as testemunhas da acusação e, por incrível que pareça, todas favorecem mais a defesa do que a acusação", declarou o advogado de defesa, Marcelo Feller.

Entenda o caso

Gil Rugai é acusado de tramar e executar a morte do pai e da madrasta. O casal foi encontrado morto a tiros na residência onde morava no bairro Perdizes, zona oeste de São Paulo.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos.

Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.