Vítima da Kiss ainda vive vaivém em hospitais
"Espero uma solução positiva." É dessa maneira simples e concisa que Leonel Amaral Nunes aguarda que os responsáveis pela tragédia da boate Kiss, em 27 de janeiro, em Santa Maria (286 km de Porto Alegre), sejam apontados e julgados. Assim como ele, centenas de familiares das 241 vítimas fatais e outras dezenas das que foram hospitalizadas aguardam o anúncio do encerramento do inquérito policial que investiga as circunstâncias do incêndio.
PERGUNTAS A SEREM RESPONDIDAS
A boate poderia funcionar com apenas uma saída de emergência? | Por decreto não poderia. Mas então por que o Corpo de Bombeiros concedeu o alvará de funcionamento? |
Onde estão as imagens do sistema de segurança? | Os primeiros depoimentos dão conta de que a gravação não estaria funcionando |
Os seguranças impediram os clientes de sair da boate sem pagar a comanda? | As informações iniciais dizem que isso pode ter ocorrido antes de eles se darem conta de que estava acontecendo o incêndio |
A reforma recente na boate pode ter contribuído para causar o incêndio? | O teto pode ter sido rebaixado, o que colocaria o material pirotécnico mais próximo de um isolamento acústico altamente inflamável. O delegado que chefia as investigações disse que a casa noturna havia feito reformas "ao arrepio de qualquer fiscalização, por conta e risco dos proprietários" |
Por que os extintores não funcionaram? | A polícia diz que os extintores podem ter sido falsificados |
A iluminação de emergência funcionou corretamente? | Polícia investiga hipótese de as pessoas terem ficado presas no banheiro por não conseguirem enxergar a saída por falta de sinalização adequada e excesso de fumaça |
Donos permitiram a superlotação? | O local, segundo os bombeiros, comportaria 691 pessoas. Mas polícia estima que mais de mil estavam presentes na hora do incêndio. Os donos da boate, porém, dizem que não havia mais de 650 pessoas |
Nesta sexta-feira (22), o relatório das investigações, apontando responsáveis na ótica policial, será entregue à Justiça. Enquanto o anúncio estiver sendo feito, Nunes estará no hospital com o filho.
Homem de origem humilde e de pouca fala, Nunes viu sua vida mudar naquela madrugada de domingo. Seu filho, Maike Adriel dos Santos, 20, estava na boate Kiss na hora do incêndio.
Intoxicado pela fumaça e ferido nos braços e na perna direita com sérias queimaduras, o estudante de desenho industrial da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) ficou 28 dias hospitalizado, 14 deles na UTI, indo e vindo por três hospitais.
Agora, Nunes encara uma via crucis com o filho no trajeto de 286 km entre Santa Maria e Porto Alegre.
O rapaz fez enxerto de pele. Porém, os ferimentos no joelho direito tiveram uma piora. Por isso, nesta quinta-feira (21) ele viajou para a capital para fazer uma consultar.
Voltou para Santa Maria sabendo que, na próxima semana, volta para Porto Alegre para um novo implante.
Assim como Maike, um rapaz e uma moça também terão de ser novamente internados no Hospital Cristo Redentor para tratamento.
A dúvida das famílias é como se manter na capital para acompanhar seus pacientes.
"A gente fica lá com eles, mas não está ganhando almoço e nem sabe onde vai ficar [hospedado]. Semana que vem o Maike vai ficar três dias lá [em Porto Alegre] e eu junto com ele. Mas a preocupação é onde ficar."
Segundo Nunes, há apoio da prefeitura de Santa Maria para o transporte dos pacientes, mas essa ajuda não tem ido muito além.
Nesta sexta-feira, enquanto a polícia apresentar suas conclusões, Nunes, assim como dezenas de outros pais, continuarão na mesma rotina iniciada nos dias finais de janeiro: acompanhar seu filhos sobreviventes que, por muito tempo, necessitarão de cuidados especiais por causa das diversas sequelas daquela noite.
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