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Delegado diz que jovem acusado de agredir motorista no Rio arrasou a própria vida

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

03/04/2013 20h35Atualizada em 04/04/2013 09h33

O delegado do 21º DP (Bonsucesso), José Pedro Costa da Silva, classificou a suposta ação de Rodrigo dos Santos Freire, 25, universitário acusado de agredir o motorista do ônibus que caiu de um viaduto na avenida Brasil, na terça-feira, no Rio de Janeiro, como “impensada”, e afirmou que o universitário é “um jovem que arrasou com a vida dele”.

Veja o local onde o ônibus caiu

  • Arte/UOL

Segundo o titular do distrito policial, Freire declarou em depoimento informal não se lembrar nem da agressão nem do momento em que entrou no veículo. Na versão da Polícia Civil, o suspeito teria se irritado depois de o motorista não parar no ponto em que ele deveria descer –o estudante estaria atrasado para uma aula.

“Temos que ver esse lado emotivo também. Infelizmente, um jovem que arrasou com a vida dele numa ação impensada. O motorista também poderia estar melhor preparado para a condução do veículo. É fruto dessa nossa sociedade onde a agressão é a palavra de ordem”, disse o delegado.

“Ele [Freire] não se recorda do que aconteceu. Ele alegou que sequer se lembra de ter adentrado ao veículo. Ele não se recorda de ter entrado no veículo, não se recorda de ter brigado, não se recorda de nada”, completou.

O universitário e o motorista, este último identificado como André Luiz Oliveira, serão indiciados por homicídio doloso (quando há a intenção de matar). Silva afirmou que solicitará a prisão preventiva de ambos, que, caso a Justiça aceite os pedidos, ficariam presos sob custódia, uma vez que estão hospitalizados em decorrência de ferimentos provocados pelo acidente.

“Entendo que devam ser presos e responder presos ao processo criminal”, concluiu o delegado.

Silva tentou ouvir a versão do motorista em duas oportunidades, porém o mesmo se encontra em “estado transitório de insanidade”, segundo o seu advogado, Eduardo Vicente da Silva, e diz não se lembrar dos fatos.

“Ele não se recorda do acidente. Não está com a memória recente. Eu conversei com os médicos e eles falaram que isso é possível por conta do choque, de todo o trauma que ele passou. Ele não se recorda, mas certamente a memória dele vai retornar e ele vai dizer o que aconteceu”, declarou.

Delegado justifica indiciamento de motorista: “Ele deveria ter parado o ônibus”

Para o delegado, o motorista teve culpa no acidente envolvendo um ônibus na avenida Brasil –sete pessoas morreram depois de o veículo tombar de um viaduto--, pois deveria, segundo ele, ter parado e buscado ajuda policial no momento em que começou a discutir com um passageiro --apontado como o universitário Rodrigo dos Santos Freire, 25. Ambos, que estão internados em hospitais do Rio de Janeiro, serão indiciados por homicídio doloso.

“Um profissional no volante tem que estar preparado para esse tipo de problema. Pode haver insatisfação do passageiro. Então, qual é o papel correto do condutor de um veículo? É parar o veículo e buscar auxílio policial. Se ele quiser manter a discussão, que esteja com o veículo parado”, disse.

“Ele [motorista] não pode de forma nenhuma conduzir um veículo em cima de um viaduto discutindo e brigando com um passageiro. Ele vai responder por essa ação. Agindo dessa forma, ele também assumiu o risco de produzir esse resultado”, completou o delegado.

Na versão da Polícia Civil, Freire começou a discutir com o motorista depois que o mesmo não parou o veículo no local em que o estudante queria descer. O jovem teria pulado a roleta e agredido o condutor com chutes no momento em que o ônibus subia o viaduto Brigadeiro Tromposwki, no sentido Ilha do Governador. André Luiz Oliveira perdeu a direção e o ônibus despencou de uma altura de cerca de 20 metros.

Inquérito

O delegado da 21ª DP disse ainda que o inquérito será longo –ele tem prazo de 30 dias para encaminhá-lo ao Ministério Público--, porém considera o mesmo já praticamente encerrado. “Eu preciso só terminar com as oitivas das vítimas nos hospitais. Está praticamente encerrado. Eu tenho a autoria e a materialidade”.

Para Silva, não há dúvidas quanto ao suposto ato de violência atribuído ao estudante de engenharia: “Tenho testemunhas que reconheceram o Rodrigo como sendo o agressor e a pessoa que estava discutindo com o motorista”.

Polícia solicitou imagens das câmeras da CET

A Polícia Civil solicitou as imagens das câmeras de trânsito da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego) a fim de tentar elucidar as circunstâncias do acidente. O material ainda não foi encaminhado, segundo declarou o delegado José Pedro Costa da Silva na noite desta quarta-feira (3). Em relação ao processo de investigação, o policial disse considerar que o vídeo em questão não será decisivo para a conclusão dos trabalhos.

Já as imagens da câmera interna do ônibus, que seriam decisivas para comprovar se houve, de fato, a agressão do universitário, não estão à disposição da polícia. “Não tenho as imagens. Acho que vai ser muito difícil, pois os equipamentos se esfacelaram. O chip está sumido. Não consegui encontrá-lo”, disse.