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Onda de violência está ligada a aumento de chacinas na Grande São Paulo, dizem especialistas

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

25/04/2013 20h12

Especialistas em segurança pública divergiram nesta quinta-feira (25) sobre a explicação ao aumento dos casos de violência em São Paulo no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2012. Crimes violentos como homicídios dolosos (com intenção de matar), latrocínios (roubos seguidos de mortes) e estupros não só cresceram no período como ajudaram os três primeiros meses deste ano a se firmarem como o trimestre mais violento nos últimos três anos.

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Para o cientista político e especialista em segurança pública Guaracy Mingardi, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o avanço dos homicídios é fenômeno que se observa pelo menos desde o ano passado e que, dadas as chacinas na capital e na Grande São Paulo desde ano passado, se assemelham aos picos de violência que marcaram o final dos anos 1990 na capital e na região metropolitana.

“Tivemos uma queda nos casos durante 11 anos, a partir do ano 2000, depois do pico e mortes em 1999. Não sabemos ao certo por que houve a queda, mas a guerra velada entre o PCC [Primeiro Comando da Capital] e a polícia vem desde o ano passado e pode ser que continue", disse.

Segundo o sociólogo, um dos sintomas de que a onda d assassinatos teria voltado na proporção de décadas anteriores é o indício de as chacinas possam ter sido cometidas por grupos de extermínio compostos também por policiais militares –possibilidade negada pelo governo do Estado.

“Os grupos de extermínio tinham praticamente acabado, mas voltaram ano passado Depois que essas organizações se constituem e ganham uma autonomia que não era esperada –para vingar mortes, por exemplo --, fica muito difícil l parar com esse fenômeno”, avaliou.

Mingardi defendeu que o órgão responsável pelas investigações dos homicídios, o DHPP (Departamento de Homicídios e proteção à Pessoa) tenha equipes específicas para apurar assassinatos nos quais os suspeitos de autoria sejam policiais.

"O Estado precisa investir em mais gente que investigue esses casos e treinar essas equipes. Se a PM mata em média 200 pessoas por ano na cidade, não se pode simplesmente transferir a investigação dessas mortes ao DHPP sem dar a ele sustentação, pois ali já são investigados os demais homicídios", declarou.

Para ONG, número de roubo é "alarmante"

Já a coordenadora do núcleo de análise de dados do instituto Sou da Paz, Ligia Rechenberg, afirmou que, apesar do aumento dos crimes contra a vida em comparação a trimestres passados, os índices “vêm caindo paulatinamente”.

“Não se sabe de fato o porquê da queda dos índices de violência até começo do ano passado; ocorre que os dados sinalizam, porém, que as chacinas ainda acontecem na Grande São Paulo”, disse.

A pesquisadora se refere ao fato de o número de mortos em homicídios dolosos ser maior que o de casos. É considerada chacina, por exemplo, ocorrência de homicídio com pelo menos três vítimas.

Ao todo, foram 1.189 homicídios dolosos em todo o Estado, nos três primeiros meses de 2013, e 1.276 vítimas –cerca de 10% a mais que o registrado nos três primeiros meses de 2012.

“Houve um pico de chacinas na capital entre setembro e dezembro de 2012, mas em números muito mais baixos que os da onda de violência do final da década de 90 e começo dos anos 2000. Em 2013, por exemplo, São Paulo teve 305 homicídios no trimestre; em 2002, foram 1.200”, citou.

“O que nos chama a atenção é que, de dezembro para cá, na Grande São Paulo as chacinas parecem ter não só continuado, como crescido –porque os registros de homicídios na região caíram, mas os de vítimas subiram”, completou.

A pesquisadora também alertou para a quantidade de roubos registrados –59.260 ocorrências no Estado; 28.123, só na capital –e a relação com os latrocínios, que, ainda que em menor número (101 no Estado, no trimestre, e 40 na capital), subiram percentualmente (82% na cidade de São Paulo, em relação ao primeiro trimestre de 2012).

“Latrocínio é uma estatística que varia muito; 40 casos em São Paulo é um número alto, mas se imaginarmos que esse crime é o roubo ‘que não deu certo’ e terminou com morte, saber que houve tantos roubos na cidade e no Estado é algo alarmante”, considerou a pesquisadora.

 

Onda de ataques e grupos de extermínio

Além da proposta de alterações no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), porparte do governador Geraldo Alckmin (PSDB), a fim de aumentar o rigor contra menores de idade envolvidos em crimes violentos , outro contexto para o aumento dos índices de violência na capital paulista são as chacinas recentes em cidades da Grande São Paulo e os ataques incendiários a ônibus.

Na noite dessa quarta (24), por exemplo, um ônibus foi incendiado após assalto no Jardim Cumbica, em Guarulhos. Ninguém ficou ferido.

Também nessa quarta, os chefes das polícias Civil e Militar no Estado afirmaram, em entrevista coletiva, que ao menos dois PMs de Osasco (Grande SP) estão presos administrativamente suspeitos de participar de chacinas na cidade e em Carapicuíba, em fevereiro e abril deste ano.

Além dos PMs, dois vigilantes noturnos são investigados e foram, junto com os policiais, alvos de pedido de prisão temporária à Justiça hoje (25).