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Conselho recebeu pelo menos 20 denúncias de assaltos um dia após dentista ser queimado em SP

Fachada do consultório invadido por dois criminosos que atearam fogo no dentista Alexandre Peçanha Gaddy, em São José dos Campos (SP) - Janaina Garcia/UOL
Fachada do consultório invadido por dois criminosos que atearam fogo no dentista Alexandre Peçanha Gaddy, em São José dos Campos (SP) Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

29/05/2013 19h11Atualizada em 29/05/2013 19h22

Mais de 20 denúncias de assaltos a consultórios odontológicos foram encaminhadas ao Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo (Crosp) no dia seguinte ao ataque que deixou gravemente ferido o dentista Alexandre Peçanha Gaddy, 41, em São José dos Campos (97 km de SP), na última segunda-feira (27). Desse montante, porém, apenas 30% foi encaminhado à polícia para realização de boletim de ocorrência --etapa inicial e essencial à investigação.

A subnotificação dos casos foi apresentada nesta quarta-feira (29) pelo presidente do Crosp, Cláudio Miyake, ao secretário de segurança pública do Estado, Fernando Grella Vieira, e ao diretor-geral da Polícia Civil no Estado, Luiz Maurício Blazek. Eles se reuniram para discutir medidas que garantam segurança aos dentistas, atemorizados, segundo o Crosp, após dois profissionais terem sido incendiados em um período de pouco mais de um mês –em 25 de abril, o ataque matou a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza em São Bernardo do Campo (Grande SP).

“Estamos tentando estimular que nossos profissionais relatem essas ocorrências à polícia, sejam elas assaltos realizados ou tentados. Desses mais de casos que recebemos, a maioria, na capital e Grande São Paulo, boa parte não virou B.O. porque a vítima não quer ficar horas esperando em uma delegacia, ou acha que, se fizer isso, será um caso perdido”, explicou.

De acordo com o presidente do Crosp, as autoridades de segurança disponibilizaram os canais para que as denúncias sejam feitas –no caso, nomes do Deic (departamento que investiga o crime organizado), na capital, e das DIGs (Delegacias de Investigações Gerais), às quais, no interior, estão subordinadas as delegacias seccionais.

Aplicativo com “botão de pânico” e manual de segurança serão lançados

Na próxima semana, disse Miyake, o Crosp vai disponibilizar a seus quase 100 mil inscritos em todo o Estado um aplicativo que, baixado no celular do profissional, terá uma espécie de “botão de pânico” pelo qual situações de perigo poderão ser avisadas a uma rede de até 12 pessoas próximas. O aviso é pela internet.

“O Crosp solicitará uma senha para baixar o aplicativo”, disse.

Outra medida debatida na reunião é a confecção de um manual de segurança com itens e medidas que, na avaliação do conselho, precisam ser adotados nos consultórios em função dos casos recentes de violência nas clínicas.

“São itens como alarmes e câmeras, e iniciativas como cuidados no cadastramento dos pacientes, na solicitação de informações prévias, e no agendamento de pacientes novos em horários em que a agenda está mais vazia”, elencou.

Band acompanha perícia em consultório

Em São José dos Campos, segunndo a polícia, Gaddy foi abordado por uma dupla de assaltantes por volta das 21h, em seu consultório, quando não fazia mais atendimentos. Nada foi levado, mas os criminosos jogaram álcool no dentista e teriam usado um isqueiro para incendiá-lo. 

O dentista está internado na Santa Casa de São José dos Campos em estado grave. Ele teve pelo menos 60% do corpo atingido por queimaduras graves, e, conforme a direção do hospital, corre risco de morte.

Celular de dentista é periciado

Uma testemunha revelou em depoimento prestado na noite dessa terça-feira (28) à Polícia Civil em São José dos Campos que Gaddy pode ter sido atacado por criminosos após retirar um celular do próprio bolso. Para a polícia, a ação pode ter sido interpretada pelos bandidos como reação à tentativa de assalto.

O aparelho foi encaminhado para perícia. Segundo o delegado que chefia as investigações pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais), Osmar Henrique de Oliveira, a medida tentará buscar as degravações das ligações mais recentes --feitas e recebidas.

"Queremos saber se há alguma conversa recente que ajude a explicar a autoria desse ataque", disse Oliveira na tarde desta quarta (29).

Nessa terça (28), o delegado havia adiantado ao UOL que não estava descartada a hipótese de o dentista ter sido atacado após reagir à ação, já que o incêndio ocorreu após os bens terem sido separados pela dupla de assaltantes, que não os levou.

Também hoje, o chefe da Delegacia Seccional da cidade, Leon Nascimento Ribeiro, disse que a testemunha que relatou a conversa com a vítima é uma enfermeira vizinha ao consultório, no bairro de Tatetuba (zona leste), primeira pessoa a encontrar Gaddy após o crime.

Onde fica São José dos Campos

Segundo o delegado, a mulher disse ter entrado ao ouvir gritos de socorro vindos da clínica. Lá, encontrou o dentista agonizando, já com as roupas completamente queimadas, e teria ouvido dele que os bandidos jogaram álcool e o incendiaram quando ele retirava o celular do bolso.

“Ela disse que ele conversou rapidamente e contou que dois homens encapuzados tentaram violar o consultório. Relatou também, segundo a testemunha, que retirou o celular do bolso e os homens vieram com uma garrafa de álcool e o incendiaram –mas não disse por que tirou o celular do bolso”, afirmou Ribeiro.

Tanto o celular de Gaddy quanto um notebook, aliança e outros bens que seriam levados pelos criminosos, segundo a polícia, foram deixados em sacolas depois do incêndio.

A enfermeira foi uma das quatro testemunhas consideradas chave ouvidas na noite dessa terça pela polícia para se chegar à autoria e à motivação do crime. Além dela, também depuseram o polidor Mauro Duarte, 36, morador da vizinhança e que ajudou no socorro ao dentista, junto com a outra vizinha; a mulher da vítima e a secretária do consultório.

“Os depoimentos não trouxeram nada que nos ajudasse sobre a motivação para esse crime”, concluiu o delegado, segundo o qual outras pessoas serão ouvidas ainda esta semana.

Os policiais também estão em busca de imagens de câmeras de segurança das proximidades que mostrem os suspeitos –uma vez que as câmeras da clínica não estavam funcionando. Uma operação realizada durante a noite não localizou o carro que teria sido usado pela dupla na fuga.

Uma nova perícia deverá ser pedida pela DIG na clínica de Gaddy. Ontem, uma varredura no local encontrou uma garrafa de álcool a 92% --diferente do utilizado pelo dentista --e um isqueiro preto.  

Além da DIG, policiais da capital também estão ajudando nas investigações com equipes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e do Deic (Departamento de Investigações Criminais).

Até a noite desta quarta, ninguém ainda havia sido preso.