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Ex-comandante de UPP acusado de matar Amarildo é transferido para presídio de Bangu, no Rio

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

18/10/2013 16h33

O major Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, ex-subcomandante da unidade, foram transferidos no início da tarde desta sexta-feira (18) para a Cadeia Pública Bandeira Stampa, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro. Os dois estavam presos desde a semana passada com outros oito policiais militares da UPP acusados da tortura e morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, no BEP (Batalhão Especial Prisional), em Benfica, na zona norte da cidade.

A transferência foi determinada na noite desta quinta (17) pela Justiça do Rio. A decisão foi baseada no pedido do MPE (Ministério Público Estadual), que apontou a influência dos militares sobre os outros agentes presos no BEP. O MPE alegou ainda que os militares poderiam atrapalhar as investigações.

"A pressão do major sobre todos os demais policiais é inequívoca. Ele tem um domínio sobre eles e eles têm um temor reverencial ao major Edson inequívoco. Disso não há dúvidas. Ele precisa ser afastado destes outros indiciados. Ele continua exercendo grande influência sobre os policiais militares. Seria essencial para a normal coleta de provas que ele fosse transferido", afirmou a promotora Carmen Elisa Bastos de Carvalho, nesta quarta (16).

Nesta semana, mais um policial militar prestou depoimento ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público e confirmou as informações prestadas por um colega. Ambos precisaram para o MP o local exato onde Amarildo foi torturado.

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"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro"

Nesta área, uma perícia da Divisão de Homicídios encontrou vestígios de sangue com auxílio de luminol, um produto químico especial. As amostras serão confrontadas em laboratório com o DNA de familiares do pedreiro para confirmar se são mesmo de Amarildo, conforme sustenta o policial militar.

Mais de dez outros policiais devem ser denunciados pelo Ministério Público numa segunda leva de responsáveis pelo sumiço de Amarildo. Estes PMs receberam ordens do tenente Luiz Felipe de Medeiros para que ficassem dentro de um contêiner, segundo os depoimentos recentes colhidos pelo Gaeco. De lá, eles ouviram gritos, ruídos de agressões, asfixia e choque elétrico, tortura a que Amarildo teria sido submetido.

O MP afirma que mesmo esses agentes que não tiveram atuação direta no crime terão sua responsabilidade avaliada pela Justiça.

Relembre o caso

Para a Polícia Civil, Amarildo foi torturado e morto depois de ter sido levado por policiais para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade, um dia depois de a PM realizar a operação Paz Armada, que investiga o tráfico de drogas na Rocinha.

De acordo com o delegado, que coordena a investigação, as pessoas que se disseram vítimas de tortura de policiais da UPP da Rocinha foram ouvidas de março a julho deste ano para revelar detalhes do esquema do tráfico de drogas no local.

Todas as 22 testemunhas que narraram mecanismos de tortura apontam homens comandados pelo major Edson Santos (ex-comandante da UPP afastado no mês passado após ser denunciado pelo caso Amarildo) como agressores. Pela linha de investigação da polícia, Amarildo seria a 23ª vítima do grupo - e a única que foi morta.

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos "castigos" aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó, onde, segundo a polícia, Amarildo foi sequestrado.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.