Bicheiro vai a júri popular acusado de mandar matar dono de jornal em 2002 em Cuiabá
O bicheiro João Arcanjo Ribeiro será julgado por um júri popular nesta quinta-feira (24), em Cuiabá (MT), a partir das 8h, pela morte do fundador do jornal "Folha do Estado", Domingos Sávio Brandão, em 30 de setembro de 2002. Na época, o crime causou comoção, pois Brandão era filho de família tradicional.
Comendador Arcanjo, como é conhecido em Mato Grosso, era o chefe do crime organizado no Estado, com atuação no jogo do bicho, exploração de cassinos, dono de hotéis e factorings, nas quais operava dinheiro para pessoas físicas, o que é proibido pelo BC (Banco Central).
O julgamento terá um esquema de segurança que contará com pelo menos 60 homens, entre guardas penitenciários e policiais militares e será realizado no Fórum Criminal de Cuiabá, no Centro Político Administrativo, onde estão localizados órgãos dos três poderes. Arcanjo está preso na unidade de segurança máxima federal em Campo Grande (MS).
Com escolta especial do Sistema Penitenciário de MT, Arcanjo chegou na madrugada desta quarta-feira (23), em Cuiabá, e está isolado em uma cela da PCE (Penitenciária Central do Estado).
O promotor João Augusto Veras Gadelha é quem vai atuar na acusação. A assistência vai ser conduzida pelo advogado Clóvis Simione, contratada pela mãe do empresário, Josephina Brandão.
Gadelha está isolado desde o início da semana e não falou com a imprensa sobre a estratégia que pretende adotar no júri. Simione também não quis revelar a estratégia.
O advogado de defesa, Zaid Arbid, também não quis falar sobre a estratégia que vai utilizar para tentar absolver seu cliente.
Na terça-feira (22), Arbid perdeu recurso no Tribunal de Justiça. O desembargador Rui Ramos Ribeiro negou liminar para suspender o tribunal do júri.
Também foi negada a solicitação de transferência do julgamento para uma Comarca próxima a Cuiabá. A TV Justiça vai transmitir ao vivo o julgamento. O juiz Marcos Faleiro, juiz diretor do Fórum, vai presidir o julgamento.
A TV Justiça vai transmitir ao vivo o julgamento.
O crime
Arcanjo foi preso em Montevidéu, capital do Uruguai em abril de 2003, mais de um ano depois de fugir de sua “fortaleza” no bairro Boa Esperança, região nobre de Cuiabá, horas antes de a PF (Polícia Federal) desencadear a operação Arca de Noé.
Sávio Brandão morreu em frente da sede do jornal que estava sendo construída.
Na madrugada de 5 de dezembro do mesmo ano, com ordem da Justiça Federal e sob o comando do então procurador da República, Pedro Taques, hoje senador, a PF invadiu a casa de Arcanjo, que tinha a vigilância de policiais civis armados com metralhadoras, que foram presos.
Arcanjo desapareceu de forma misteriosa. Vizinhos dizem que um helicóptero desceu no quintal de sua casa e o levou. Depois de ser preso com documento falso em Montevidéu, Arcanjo foi trazido para Cuiabá em 2004 e depois transferido para Campo Grande.
O contraventor, conforme consta no processo, mandou matar Sávio Brandão porque o jornal do empresário veiculava notícias contra ele. Numa das edições, do "Folha do Estado" o periódico chamava Arcanjo de “Al Capone de Mato Grosso”.
Arcanjo contratou os policiais militares Celio Alves da Silva e Hércules Araújo Agostinho.
Com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a polícia monitorava os pistoleiros, mas não conseguiu prendê-los por causa da demora na emissão de prisões preventivas. Sávio Brandão foi morto com seis tiros de pistola disparados por Agostinho.
Pelo crime, Silva foi condenado a 17 anos e Agostinho a 18. No entanto, a dupla cometeu outros assassinatos, o que lhe rendeu 80 anos de sentença para cada um. Arcanjo também cumpre prisão de 50 anos por crimes de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.
Antes de Arcanjo ser preso, a PF fez levantamento e estimou o patrimônio dele em cerca de R$ 800 milhões, dinheiro este adquirido por meio de jogatina, jogo do bicho, empréstimos extorsivos e empreendimentos agropecuários, hotéis nos principais municípios de Mato Grosso e até em Miami.
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