Homicídios derrubam em mais de 1 ano e meio a expectativa de vida dos negros no país
Na véspera do Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira (20), um estudo apresentado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela o efeito devastador dos homicídios sobre a expectativa de vida dos negros no Brasil. O homem negro perde, na média do país, 1,73 ano de vida --o equivalente a 20 meses-- por causa dos assassinatos. Entre não negros, o índice é de 0,81 ano, menos da metade da perda.
O artigo “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, de Daniel Cerqueira, do Ipea, e de Rodrigo Leandro de Moura, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), divulgado nesta terça-feira (19), toma como base dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística). O estudo mostra que Alagoas é o Estado onde o peso dos homicídios sobre a perda da expectativa de vida entre os negros é maior: chega a 4,08 anos.
Pouco abaixo, estão Espírito Santo e Paraíba, com perdas de 2,97 e 2,81 anos respectivamente. Norte, Nordeste e Centro-Oeste são as regiões em que os homicídios resultam em perdas maiores na expectativa de vida dos negros.
Levando em conta outras mortes violentas, como acidentes com transportes --inclui trem, avião, barco e veículos-- e suicídios, os negros perdem 3,49 anos de expectativa de vida no país, sendo que em Alagoas a perda passa de 6 anos. Mas o efeito dos acidentes é bem menor que os homicídios. Enquanto estes reduzem em 1,73 ano a expectativa de vida dos negros brasileiros, os desastres diminuem 0,97 ano.
Entre os não negros, acontece o inverso. Os acidentes com transporte pesam mais (0,99 ano) que os homicídios (0,81 ano) na redução da expectativa de vida ao nascer. Considerando somente os homicídios, a maior perda para os não negros é verificada no Paraná (1,75 ano). Em Alagoas, Estado com efeitos mais devastadores para os negros, os homicídios reduzem a expectativa de vida dos não negros em apenas 0,29 ano.
“Os resultados trazem à tona uma grande ferida aberta desde a abolição da escravatura, ainda não fechada nos dias atuais”, afirmam os autores do artigo.
Mulheres
Entre as mulheres, os efeitos das mortes violentas sobre a expectativa de vida são bem mais baixos. Entre as não negras, esse tipo de causa de mortalidade reduz a expectativa de vida ao nascer em 0,74 ano, com peso maior dos acidentes com transportes (0,28). Os homicídios reduzem a expectativa dessas mulheres em 0,11 ano.
Entre as negras, os homicídios têm um peso maior (0,16 ano), mas o efeito do total das mortes violentas, que incluem acidentes e suicídios, é menor (0,65).
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