Spa de luxo frequentado por celebridades pede falência e deixa clientes na mão
"Fiquei passada!" Esta foi a reação da executiva Solange Beletatti, 51 anos, cliente do Hara Spa há mais de dez anos, ao descobrir que o local tinha fechado as portas e que o pacote de 20 sessões de drenagem linfática, ao preço de R$ 2.360, havia sido perdido. O valor pago foi promocional e a oferta foi feita pela própria dona do negócio, a fisioterapeuta Ana Luisa Massardi, conhecida como Ana Hara, em dezembro do ano passado. “Havia uma placa na recepção exigindo pagamento à vista até o dia 23 de dezembro e a Ana insistiu para que eu comprasse dizendo ser imperdível”, conta a cliente. Neste pacote, o valor de cada sessão passou de R$ 240 para R$ 116.
Todos os tratamentos da casa; como esfoliação, massagem com pedras quentes ou drenagem facial; tinham o valor avulso de R$ 240, mas cada cliente comprava várias sessões para combinar tratamentos e obter resultados mais satisfatórios.
Para comprar o pacote promocional, era necessário fazer o pagamento até o dia 23 de dezembro em dinheiro ou em cheque à vista. A médica Viridiana Iavelberg, cliente do spa há dois anos, pagou R$ 3.560 por 40 sessões, mas só conseguiu receber duas massagens. Ela diz que tentou agendar os demais atendimentos para janeiro, mas foi informada de que a agenda só seria aberta no início do ano, após o recesso programado entre os dias 30 de dezembro e 5 de janeiro. "Achei estranho, mas nunca imaginaria que uma casa que existe há 20 anos fecharia as portas", lamenta.
Famoso entre artistas e empresários, o Hara Spa, que ficava localizado na avenida Europa, no bairro dos Jardins --região nobre da capital paulista--, já atendeu globais como Thiago Lacerda e Ellen Roche, e apresentadoras como Ana Maria Braga e Hebe Camargo, que assinou o prefácio do livro sobre a dona do spa. A publicação intitulada "Vá se Drenar!", da Matrix Editora, virou motivo de trocadilhos entre as clientes que pagaram pelas drenagens que não vão receber.
Viridiana acredita que Ana Hara "agiu de má fé ao potencializar as vendas com uma promoção às vésperas do fechamento do spa". Além do prejuízo financeiro, ela lamenta perder um espaço que, além da estética, tinha uma preocupação com a saúde e a espiritualidade das clientes. "A atitude da Ana Hara é totalmente contraditória com os valores de respeito ao próximo que ela pregava", afirma a cliente.
A proprietária do Hara Spa enviou um e-mail a algumas clientes, no dia 3 de janeiro, na qual utiliza a terceira pessoa para falar de sua trajetória no mercado de spa urbano e atribuiu o fracasso do negócio a clientes e funcionários, parceiros e prestadores de serviço a quem chama de incompetentes e gananciosos. Além de se colocar como vítima de desvios de dinheiro e clientes, a empresária também cita o “susto da renovatória da locação abusiva” do imóvel onde o spa funcionava; aumento que teria recebido sem repassá-lo para os clientes.
No fim da mensagem, Ana agradece aos colaboradores e clientes honrados dizendo sentir a “mesma dor de quem perde uma filha”. E que segue adiante com novos desafios e “sempre firme ao propósito de semear e proporcionar ao próximo bem estar e respeito”. Antes de assinar o e-mail, Ana Hara acrescenta a palavra "Namastê"; uma saudação em sânscrito muito usada por praticantes de ioga que significa "a divindade que há dentro de mim reconhece a divindade que também habita em você". Leia a íntegra do e-mail.
Nesta sexta-feira (10), as clientes receberam outra mensagem do Hara Spa. Desta vez ,a proprietária diz que, se pudesse, devolveria cada centavo a quem pagou sem ter recebido o serviço, mas "infelizmente o golpe levado foi grande demais". Ela afirma que "pessoas entraram na casa e levaram tudo" e diz que nunca subiu os preços das massagens para evitar que seus clientes pagassem valores mais baixos diretamente às funcionárias para atendimento à domicílio. Ela se desculpa e pede aos clientes que "drenem a mágoa e a maldade". Leia íntegra da segunda mensagem enviada pela dona do spa.
Clientes buscam Justiça
A administradora Sabrina Zacharias, 34, frequentava o spa desde 2010 e teve o cheque de R$ 3.650 depositado na conta pessoal da proprietária ainda em dezembro. "Recebi a notícia da falência no dia 2 de janeiro, através de uma fisioterapeuta com quem tinha contato. Tentei entrar no site e na página do Facebook do Hara Spa, mas eles já haviam sido desativados. Também não era atendida por telefone e só acreditei ao ir até o local e perceber que estava abandonado ".
Sabrina e outras clientes que pagaram pelo pacote promocional recorreram ao site Reclame Aqui para divulgar o golpe. Além disso, elas criaram uma comunidade no Facebook e um grupo de diálogo pelo aplicativo de celular WhatsApp para trocar informações sobre o caso. Algumas já registraram boletins de ocorrência e prometem mover ações judiciais contra a empresa.
A assessora técnica do Procon-SP Fátima Lemos considera o caso delicado. Embora o Hara Spa tenha entrado com o pedido de autofalência no valor de quase R$ 3 milhões, a Justiça ainda não a decretou, portanto a empresa ainda está ativa e com suas obrigações em aberto tanto com os clientes quanto com os funcionários e fornecedores", diz Fátima.
Ela orienta os clientes a levarem o problema ao Procon com urgência, munidos de microfilmagens de cheques e outros documentos que comprovem o estelionato. "O Procon vai tentar acionar a empresa, mas não pode dar esperança a esses consumidores. É preciso ver como o caso vai se desdobrar na prática", alerta a assessora técnica.
Em novembro de 2013, o Hara Spa realizou outra promoção em parceria com o site Peixe Urbano com cinco procedimentos de massagem e almoço por R$ 390. De acordo com o site, o preço deste pacote sem o desconto seria de R$ 1.000. Quem comprou a promoção teria até agosto de 2014 para usufruir dos serviços. O Procon afirma que, neste caso, o site Peixe Urbano pode ser acionado e, por ter oferecido a promoção, é também responsável pelo reparo aos clientes que não conseguiram utilizar os serviços.
Funcionárias surpreendidas
"O verão é a época do ano em que as pessoas mais procuram tratamentos estéticos e o Hara Spa estava muito movimentado", garante uma funcionária que não quis se identificar. De acordo com ela, mais de seis mil clientes passaram pelo spa mensalmente desde julho de 2013. E foi uma surpresa chegar ao local de trabalho no dia 6 de janeiro e descobrir que as portas estavam fechadas.
"Pessoas que trabalham em uma loja de automóveis na frente do spa, contaram que um caminhão parou no fim de semana de recesso e levou tudo". A massagista que trabalhava na casa há quatro anos diz que nunca deixou de receber seu salário.
Outra colaboradora relatou a uma cliente que Ana Hara havia "dado calote" nas funcionárias. "Acredito que tenha sido tudo premeditado, pois bloqueou os funcionários do Facebook dela. Fez todos trabalharem até o dia 27 de dezembro, inclusive vendendo pacotes promocionais para as clientes, e no dia 28 encostou um caminhão para fazer mudança", relatou a massagista que também não quis ser identificada.
Um advogado que frequentava o spa ofereceu atendimento paras as funcionárias. Fábio Miranda, que coordena os processos trabalhistas do escritório Saito Associados, afirma que 31 funcionárias já assinaram uma procuração para a entrada da ação judicial contra o Hara Spa.
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