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Programa de despoluição de praias do Rio já começa com atraso

Leme é a primeira praia a ser despoluída, com obras previstas para terminar em fevereiro de 2014 - Estefan Radovicz/Agência o Dia/Estadão Conteúdo
Leme é a primeira praia a ser despoluída, com obras previstas para terminar em fevereiro de 2014 Imagem: Estefan Radovicz/Agência o Dia/Estadão Conteúdo

Mariana Sant´Ana

Do UOL, no Rio

24/01/2014 07h00

O Programa Sena Limpa, projeto com investimento previsto de R$ 150 milhões e conduzido pela Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) do Rio de Janeiro, foi lançado em 2012 e já tem atraso na primeira etapa. A despoluição da praia do Leme estava programada para ser concluída em agosto de 2013, mas a data de entrega foi revista para fevereiro de 2014.

No Leme, a Prefeitura do Rio ainda não terminou de instalar redes de coleta de esgoto e fazer retificação das galerias. Quando essas obras forem concluídas, o esgoto que vinha das comunidades do Chapéu-Mangueira e Babilônia deve deixar de chegar à praia.

“As comunidades de maneira geral têm sistema de esgoto deficiente, o que contribui para a maior poluição do mar”, explica Gelson Serva, subsecretário do ambiente do Rio e coordenador do Programa Sena Limpa. Segundo Serva, o fenômeno ocorre por conta do crescimento desordenado das favelas da cidade e do desgaste nos sistemas de bombeamento de esgoto nessas regiões.
 

Veja as condições das praias do litoral brasileiro

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Segundo Serva, o atraso na conclusão aconteceu em razão de empecilhos que sugiram no decorrer das obras. A rede de esgoto no bairro, segundo ele, era muito antiga. Ao sugerir que intervenções urbanas estão sempre sujeitas a alterações no cronograma, defende que o prazo de fevereiro será cumprido.

Biólogo considera que ação deveria ser normal, não um algo "tratado com pompa"

O biólogo Mario Moscatelli, defensor do ambiente no Rio de Janeiro, critica a escolha do momento para a realização do programa. “É muito bem-vinda a ação do governo do Estado, mas o programa deveria ser um procedimento normal, e não tratado com pompa”, afirma.

Mocatelli defende que as autoridades façam um trabalho permanente de fiscalizar e multar responsáveis por ligações clandestinas de esgoto que poluam as praias e as lagoas do Estado, e não tratar uma ação desse tipo como algo excepcional. “O problema de esgoto nas praias é antigo, tem no mínimo 80 anos”, afirma.

O biólogo também critica o atraso da entrega da primeira etapa da obra, que ele considera corriqueiro. “As obras de saneamento sempre atrasam. Não me lembro de nenhuma que tenha terminado no prazo prometido, e algumas nem são concluídas”, diz. Para ele, o atraso é um desrespeito não só com o turista, que visita o Rio em busca de belas praias, mas também com o contribuinte.

Próximas etapas estão concentradas na zona sul e na Ilha do Governador

Em parceria com o Inea (Instituto Estadual do Ambiente), a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), a Rio Águas e a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), a Secretaria de Estado do Ambiente pretende despoluir seis das principais praias da zona sul do Rio e da Ilha do Governador: São Conrado, Leblon, Ipanema, Leme e Urca, na Zona Sul, e da Bica, na Ilha do Governador. A verba vem da Secretaria de Estado do Ambiente e do programa Morar Carioca, da Prefeitura.

Depois do Leme, o programa deve concluir as ações na praia da Urca, onde está sendo feita a modernização do sistema de esgoto sanitário. O cronograma original de entrega prevê o fim das obras em setembro deste ano.

O prazo seguinte é novembro, para as intervenções na Praia da Bica, na Ilha do Governador, e em São Conrado. Na primeira, a maior parte das obras está a cargo da Cedae, que fará a melhoria do sistema de esgotamento sanitário.

Já em São Conrado as obras incluem a modernização do sistema de esgoto e a substituição das duas linhas que bombeiam os esgotos da Estação Elevatória de São Conrado para a Estação Elevatória do Leblon.

Completando a primeira fase do programa, estão previstas para o fim do ano as intervenções nas praias de Ipanema e do Leblon. Lá o projeto conta com o auxílio de uma tecnologia nova.

“Os robôs-espiões fazem parte do programa”, afirma o subsecretário, em referência ao equipamento que vem sendo usado para identificar o despejo clandestino de esgoto em galerias de águas pluviais no bairro de classe alta da zona sul

O subsecretário admite, porém, que os prazos talvez não sejam cumpridos. “Atrasos podem acontecer em obras que exigem licitação pública. O processo da licitação pode demorar ou pode ser questionado pelo Tribunal de Contas do Estado, e tudo isso altera o cronograma inicial”, justifica.

Mas Serva garante que os turistas que visitarão o Rio de Janeiro durante a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos podem ficar despreocupados em relação à balneabilidade das praias. “Nessa época do ano”, ele explica, “a qualidade da água costuma estar boa. Como há menos chuvas no inverno, há menos poluição sendo levada para as praias”.