Cuidado com o portunhol: veja lista de palavras que causam confusão
Fortes semelhanças entre o português e o espanhol geram muitas vezes palavras definidas como sendo do "portunhol". Veja aqui a lista que estamos preparando...
Aguinaldo: No Brasil, é um nome próprio masculino. Na Argentina, sinônimo do 13º salário. Fica divertido para um brasileiro quando aqui trabalhadores erguem faixas dizendo: "Queremos aguinado" ou "Nosso aguinaldo está atrasado" ou ainda "Queremos aguinaldo completo".
Borracho: em espanhol é alguém que bebeu demais. E em português também é ébrio. Mas para nós brasileiros é mais comum, hoje, o uso de "bebado" ou "bebum". Soube de argentinos que riram quando leram a nossa 'borracharia' no Brasil. Imaginaram ser lugar de encontro de 'borrachos'. Em tempo: para eles, a nossa 'borracharia' é 'taller' (leia-se tajer) ou ainda 'taller mecánico' (leia-se tajer mecânico).
Borrachera: bebedeira, borracheira. Mas como no caso do "borracho", que está no dicionário Aurélio, como nos alertou uma leitora da Colômbia, é muito mais comum usarmos bebedeira quando alguém bebe demais no Brasil. No popular, "encheu a cara".
Corpiño: (leia-se 'corpinho') Não é como falamos no Brasil uma pessoa esbelta. Mas 'sutiã'. Um amigo brasileiro disse em Buenos Aires para uma garçonete bonitona. "Você tem trinta anos, mas com 'corpinho' de vinte". E ela, argentina, pensou que ele se referia ao tamanho de seu busto e não ao seu corpo perfeito.
Cubiertas: se você pedir uma "cubierta" porque está sentindo frio, ninguém vai entender nada. Cubierta é pneu de automóvel.
Cubiertos: não é uma coberta ou cobertor. São talheres. E a nossa coberta? Para eles, é 'frazada'.
Embarazada: grávida
Exquisito: essa palavra nos confunde porque trata-se de um "falso amigo" - mesma palavra e signficado totalmente diferente nos dois idiomas. Em português, "esquisito" é sinônimo de algo estranho, excêntrico. Em espanhol, o adjetivo é empregado para definir uma pessoa ou um prato, por exemplo. Delicioso e gostoso à mesa. E pessoa com grana ou influente, como indica o título do livro do escritor argentino Adolfo Bioy Casares - "Diccionario del argentino exquisito".
Fuego: em português é 'fogo'. Mas essa é só uma das palavras que ajudam a fortalecer a inevitável existência do portunhol. É ampla a lista para as palavras nas quais temos apenas que trocar 'o' por 'ue'. Outro exemplo, a nossa 'roda' para eles é 'rueda'.
Gran barata: Não é uma barata (cucaracha) grande. Mas uma baita liquidação (liquidación) em alguma loja.
Groso: (leia-se grosso). Para nós, brasileiros trata-se de uma pessoa sem classe, um bruto. Para os argentinos, o adjetivo é sinônimo de alguém "poderoso" ou "genial". Assim, uma mulher "grosa" é poderosa.
Mala: em português é o que usamos para levar roupas e outros objetos em uma viagem. A palavra é também associada a uma pessoa chata, insuportável. Na Argentina, mala é uma pessoa má. 'Una mala persona'. E o que para nós brasileiros é 'um mala', para eles é alguém 'pesado' (chato). Para eles, argentinos, quando alguém é chato demais é, então, 'muy pesado' - sinônimo do nosso 'muito mala'.
Pan dulce: é como os argentinos (e outros do idioma espanhol) chamam o que para nós é o panetone.
Pelado: para nós, brasileiros, é uma pessoa sem roupa - pelado, pelada. Para nossos vizinhos, é sinônimo de 'careca'. E para eles quando alguém tira a roupa toda está 'desnudo' ou 'desnuda'. No Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras, 'pelada' é também um jogo de futebol entre amigos. 'Vamos jogar uma pelada'.
Picada: para os brasileiros, a palavra é logo associada a 'picada de mosquito'. Para os argentinos, ela pode ser uma 'picada' de automóveis - quer dizer, para nós brasileiros, 'um pega'. Para nossos vizinhos, 'picada' é também sinônimo de pedir uma entrada de queijos e outros frios para acompanhar um vinho ou uma cerveja em um bar ou restaurantes. Poderia ser quase o nosso, 'vamos beliscar' alguma coisa.
Presunto: palavra comum para nós brasileiros, na hora de preparar o sanduíche, presunto é "jamón" (leia-se ramón) em espanhol. Causa surpresa quando vemos nos jornais ou na tela da TV quando escrevem aqui na Argentina: "Presunto violador" preso pela polícia. Quer dizer, suposto violador. Para nós brasileiros, uma pessoa também pode "virar presunto" (cadáver). Mas a frase é pouco elegante.
Saco: casaco. Para um brasileiro costuma ser, no mínimo, estranho ouvir quando eles perguntam se "ese saco es suyo" (leia-se: esse saco é sujo?). Quer dizer, se o casaco é seu. É comum que pensem outra coisa, mais maldosa. Mas é só mais uma das armadilhas do portunhol.
Sorbete: (leia-se sorvete). Significa canudo. E nosso sorvete é "helado".
Suciedad: aos nossos ouvidos brasileiros a palavra pode ser confundida com "sociedade". Mas em espanhol sociedade é também sociedade. E "suciedad" significa algo muito menos nobre: sujeira.
Tarado: em português, a palavra é empregada para definir um homem louco por sexo e, neste sentido, perigoso e sem escrúpulos. Em espanhol, um tarado é simplesmente um bobo, imbecil ou idiota.
Vaga: no Brasil, é uma vaga na garagem, no estacionamento (playa) ou para matricular o filho na escola. Mas para os argentinos, é uma pessoa preguiçosa.
E por quê o português e o espanhol são tão parecidos?
Camila do Valle, do Rio de Janeiro, com doutorado em lusofonia, estudiosa do portunhol, ex-presidente da Fundação Centro de Estudos Brasileiros, em Buenos Aires:
“Até o século XIII era um só idioma (na Península Ibérica). Mas o maior fantasma de Portugal sempre foi a Espanha, que era o reino de Castela. Portugal tinha muito medo de ter que submeter a sua coroa à coroa de Castela. Para se diferenciar da Espanha, Portugal começou a fortalecer toda a sua história, que foi escrita do jeito que as pessoas falavam dentro daquela fronteira de Portugal. Foram contratados cronistas dos reis para escrever um idioma como aquele povo falava. Eles começaram a produzir uma diferenciação da língua entre o português e o que era falado na Espanha. A língua foi chamada de galego português”.
Vem daí o portunhol?
“Claro. A língua é o uso e há muita chance de o portunhol de fato começar a se desenvolver, porque existe este histórico que vem do século treze e de idiomas que têm raízes próximas. Se formos mais atrás ainda, vamos parar no latim. Sendo que o português veio do latim vulgar, vulgo, vulgar, no sentido do povo. Era o povo que falava esse latim errado gramaticalmente e que se tornou o português. No século treze, por exemplo, ‘fror’ era a forma correta de falar ‘flor’. Mas como as pessoas não sabiam falar “fror” e falavam “flor” erradamente o que se estabeleceu, depois, foi “flor”. O idioma é vivo, democrático. E o portunhol algo a ser levado a sério”.
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