"Meus clientes são 'boi de piranha'", diz advogado de PMs do Carandiru
O advogado Celso Vendramini, que representa 15 policiais acusados de matar oito presos no Pavilhão 9 do Carandiru em 1992, afirmou nesta segunda-feira (17) que seus clientes são "boi de piranha" -- expressão popular para "bode expiatório".
As declarações foram prestadas antes do início da terceira etapa do julgamento, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, do episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru. Ao todo, o massacre -- assim classificado pela OEA (Organização de Estados Americanos) no ano 2000 -- teve 111 mortos e 84 policiais denunciados.
Vendramini afirmou que diversos depoimentos que constam do processo dão conta de que, antes de a polícia entrar na casa de detenção, já havia diversos mortos e muitos disparos de armas de fogo.
"Meus réus não mataram ninguém. O Estado está forçando uma condenação", disse.
O advogado disse ainda que o Estado foi omisso ao não fazer um exame de balística no local. "O Instituto de Criminalística, na época, disse que não tinha aparelhagem para fazer a perícia. Foi pedido um equipamento caríssimo que teria de ser importado dos EUA, e isso não foi feito."
"Os réus vão ser absolvidos por negativa de autoria", disse.
Vendramini afirmou que, entre os réus, estão três coronéis, sendo um da ativa, e vários praças.
Ele disse ainda que vai arrolar como testemunha de defesa um ex-secretário de Segurança Pública, um desembargador e agentes penitenciários.
Outra versão
Vendramini também deu uma nova versão para o tumulto que teria desencadeado a rebelião e o posterior massacre.
De acordo com ele, o tumulto não começou com uma briga após um jogo de futebol, conforme a versão oficial.
"As informações que constam do processo dizem que haveria um levante na Penitenciária de Guarulhos e que um preso de nome Benedito teria denunciado para os carceiros que armas seriam enviadas para aquela prisão. A briga foi por isso. Por 'caguetagem'", afirmou.
Segundo Vendramini, se a polícia não tivesse entrado para conter a rebelião, o massacre de presos poderia ter sido ainda maior.
"Era preso matando preso", afirmou ele.
Julgamento foi divido em etapas
Por envolver grande número de réus e de vítimas, o julgamento foi desmembrado em quatro etapas, de acordo com o que aconteceu em cada um dos quatro andares do Pavilhão 9.
Nesta etapa, 15 policiais serão julgados pela morte de oito presos que ocupavam o quarto pavimento (ou terceiro andar) da antiga Casa de Detenção Carandiru. Eles também respondem por duas tentativas de homicídio.
A expectativa é que o júri, presidido pelo juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, dure uma semana.
O julgamento teve início nesta manhã com pouco mais de 1h30 de atraso, com o sorteio de sete pessoas que vão compor o Conselho de Sentença. Em seguida, além das testemunhas de acusação, serão ouvidos cinco testemunhas de defesa e os réus.
Foram divulgados os nomes de três testemunhas de acusação: Marco Antônio de Moura -- que chegou a ser baleado no massacre e hoje é servente de pedreiro--, o perito Osvaldo Negrini Neto e Moacir dos Santos, que era diretor de segurança e disciplina do presídio na época e hoje está aposentado por invalidez.
Outras três testemunhas não foram localizadas pelos oficiais de Justiça.
Na primeira etapa do julgamento, em abril do ano passado, 23 policiais foram condenados a 156 anos de reclusão cada um pela morte de 13 detentos.
Na segunda etapa, em agosto de 2013, 25 policiais foram condenados a 624 anos de reclusão cada um pela morte de 52 detentos que ocupavam o terceiro pavimento do Pavilhão 9.
O massacre
O Massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando 111 detentos foram mortos e 87 ficaram feridos durante operação policial para reprimir uma rebelião no Pavilhão 9 do presídio. (Com Agência Brasil)
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