Mulher foi colocada na mala porque havia armas no banco, diz defesa de PM
O advogado Jorge Carneiro, que representa o subtenente da Polícia Militar Rodney Miguel Arcanjo, disse nesta quarta-feira (19) que seu cliente colocou Claudia da Silva Ferreira no porta-malas do carro porque o banco traseiro estava ocupado com fuzis e coletes à prova de bala. Juntamente com o subtenente Adir Serrano Machado e o sargento Alex Sandro da Silva Alves, Arcanjo foi preso, acusado de colocar a mulher baleada no porta-malas e arrastá-la quando ele se abriu.
“Os fuzis dos PMs e os coletes de balística estavam no banco traseiro. Eles não podiam, naquela pressa, colocar a moça em cima dos fuzis. Naquela hora, fazer o transporte do fuzil para a mala era perder tempo", disse o advogado. "E é um risco ficar mexendo com fuzil no meio da comunidade, com um monte de gente em volta.”
Durante o trajeto para o hospital, o porta-malas se abriu e Claudia foi arrastada por dezenas de metros na rua. Segundo o advogado, os policiais não se preocuparam em verificar se a porta estava fechada, porque queriam levá-la para o hospital o mais rápido possível.
“As pessoas da comunidade ficavam forçando para entrar na viatura, a fim de ir junto com ela para o hospital. A viatura não podia carregar ninguém. Eles estavam no afã de salvar a dona Claudia", disse. "Eles queriam sair dali o mais rápido possível para levá-la para o hospital. Eles baixaram a tampa e pensaram: 'está fechada'. Só que no meio do caminho, com a sirene ligada, não deu para perceber que a tampa abriu."
De acordo com Carneiro, os três policiais militares não participaram da operação policial, que terminou com a morte de Claudia e de um homem. O advogado explicou que eles foram chamados para dentro da comunidade apenas com o objetivo de socorrer a mulher. Acrescentou que seu cliente está “muito triste” com o desfecho do socorro.
Polícia abre inquérito sobre morte de mulher arrastada
Rodney tem 30 anos de Polícia Militar e, segundo Carneiro, planejava entrar com o pedido de aposentadoria na última segunda-feira (16), um dia depois do tiroteio que resultou na morte de Claudia. Ele é citado em cinco ocorrências de auto de resistência, quando há mortos em confronto com a PM (com seis mortos).
Os três policiais estão presos em Bangu 8, por determinação da própria PM. Eles vão prestar depoimento hoje na Delegacia de Madureira (29ª DP), que investiga o caso.
Ações por mortes
Dois dos três policiais militares que estão presos por terem arrastado a auxiliar de serviços gerais constam como envolvidos em 62 autos de resistência (mortes de suspeitos em confrontos com a polícia). Pelo menos 69 pessoas morreram em supostos tiroteios dos quais os PMs participaram desde 2000.
O subtenente Adir Serrano Machado é o recordista, com envolvimento em 57 registros de autos de resistência (com 63 mortos). O subtenente Rodney Miguel Archanjo aparece em cinco ocorrências (com seis mortos). Já o sargento Alex Sandro da Silva Alves não tinha participação em nenhum auto de resistência até o último domingo, quando um adolescente de 16 anos, suspeito de envolvimento com o tráfico, morreu durante a operação no Morro da Congonha, em Madureira, zona norte, onde Claudia morava - e foi baleada no pescoço e nas costas.
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