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Rodoviários param 100% da frota em Natal; TRT libera uso de força policial

Aliny Gama

Do UOL, no Recife

25/06/2014 11h45Atualizada em 29/08/2014 20h11

Os rodoviários de Natal radicalizaram a greve, que já dura 14 dias, e não retiraram nenhum ônibus das garagens nesta quarta-feira (25). O Sintro (Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Natal), filiado à CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), protesta contra o resultado do julgamento do dissídio coletivo da categoria, que ocorreu na terça-feira (24), no TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Os rodoviários querem que os empresários não descontem os dias da greve.

A Justiça determinou que empresários concedam reajuste de 7,32% nos salários dos rodoviários, aumento de R$ 10 no tíquete alimentação e que os trabalhadores encerrem a greve imediatamente. O novo salário dos motoristas de ônibus será de R$ 1.557,48, retroativo a 1º de maio.

Em seguida, o presidente do TRT-RN, desembargador José Rêgo Júnior, autorizou que as empresas de ônibus façam uso da “força policial” para garantir a circulação dos ônibus em Natal.

A decisão atende ao pedido do Seturn (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Natal), que ingressou com o pedido de liminar no fim da manhã. Segundo o sindicato, as garagens estão obstruídas por manifestantes, impedindo a entrada e saída de veículos. O desembargador proibiu também que os rodoviários realizem manifestações que fechem vias públicas ou depredem ônibus.

Sem ônibus

A Justiça recebeu hoje relatório da Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana) informando que "nenhum veículo saiu para operar em nosso sistema de transporte, deixando de atender a população. Ressaltamos que a fiscalização se deu nas garagens da empresa desde o início do dia".

Em caso de descumprimento, o TRT informou que os empresários podem demitir os rodoviários que não trabalhem a partir desta quarta e considerou o movimento abusivo. A Justiça também estipulou a multa de R$ 150 mil se a greve não terminar.

Reclamações

Natal possui uma frota de 620 ônibus e atende a 530 mil usuários por dia. Moradores reclamaram que foram pegos de surpresa com a greve.

Durante o período da greve, o transporte coletivo está sendo feito com o reforço de micro-ônibus, vans e táxis-lotação que se cadastraram na prefeitura para fazer o transporte alternativo. Apesar da liberação do transporte alternativo, a oferta do transporte não conseguiu atender a alta demanda.

A falta de transporte gerou reclamações. “Há meia hora e nada de ônibus. O usuário que não tem nada com essa briga e é prejudicado mais uma vez”, afirmou a estudante Rebeca Alves.

“Greve dos ônibus e Natal está completamente parada. Aí você olha os milhares de carros e percebe que a maioria leva apenas o motorista”, disse o historiador Tyego Franklim, destacando que as pessoas deveriam criar o hábito de dar caronas para acabar a dependência com o transporte público.

O servidor público Gustavo Lucena também reclamou da paralisação dos rodoviários. “Essa greve dos ônibus em Natal é um festival de absurdos.”

A falta de transporte coletivo prejudicou as aulas do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte) e a direção do Campus Natal Central suspendeu as aulas por tempo indeterminado. Segundo o diretor geral José Arnóbio, os alunos não estão conseguindo chegar ao IFRN. "As turmas estão chegando com cinco, seis alunos, por isso optamos pela suspensão", disse. 

A greve

Rodoviários entraram em greve no último dia 12, no dia da abertura da Copa do Mundo, o que afetou cerca de 530 mil pessoas por dia, entre moradores e turistas de Natal, que é uma das cidades-sede do Mundial.

O Sintro pleiteava o reajuste de 16% nos salários e no tíquete alimentação, de R$ 197,35 para R$ 450. Na semana passada, a categoria recusou a proposta de aumento de 6,5%, baseado na inflação, dada pelo Seturn (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal). No último dia 12, o Sintro já havia recusado a proposta da classe patronal de 5,68%, seguindo o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

O prefeito de Natal, Carlos Eduardo (PDT), reuniu-se com rodoviários na segunda-feira (23), no Palácio Felipe Camarão, para dialogar com a categoria, mas sem sucesso. A possibilidade de aumento de R$ 0,10 na tarifa não está descartada. A passagem custa R$ 2,20.

O Sintro já acumula a dívida de R$ 250 mil em multas por descumprimento da frota de ônibus mínima durante a greve.