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Pode tirar foto? Veja regras de comportamento para praia de nudismo do Rio

Frequentadores da praia de Abricó, na zona oeste do Rio de Janeiro, jogam peteca - Zulmair Rocha/UOL
Frequentadores da praia de Abricó, na zona oeste do Rio de Janeiro, jogam peteca Imagem: Zulmair Rocha/UOL

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

17/11/2014 06h00

No mesmo mês em que “peladonas” e “peladões” chamaram atenção em todo o Brasil ao caminharem pelas ruas de Porto Alegre e Brasília, uma lei municipal, sancionada no último dia 6, reconheceu oficialmente o naturismo na praia de Abricó, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro, que já era usada para o nudismo há décadas. Mesmo nas áreas em que é permitida, como na praia carioca, a prática ainda desperta dúvidas e confunde frequentadores, observa o presidente da ANA (Associação Naturista de Abricó), Pedro Ribeiro, 56. Mas o que é liberado e o que é proibido?

Adepto do naturismo há quase 30 anos, o professor de educação artística explica que, ao contrário do que pode se pensar pelo fato de as pessoas estarem "livres de suas roupas", existem normas de conduta claras que devem ser adotadas nestes locais. A FBrN (Federação Brasileira de Naturismo) tem, inclusive, um código de ética para "garantir um padrão de comportamento entre suas áreas filiadas". Atualmente, há oito praias naturistas oficias reconhecidas pela FBrN no país, localizadas em cinco Estados: Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia e Paraíba.

Praticar "atos de caráter sexual ou obscenos" nas áreas públicas, assediar outros naturistas, e fazer "propostas inconvenientes" estão na lista de restrições. Também é proibido, por exemplo, fotografar ou filmar outros frequentadores sem a permissão deles. "Você pode levar celular, câmera, mas tem sempre que perguntar a todos se pode tirar foto. Não pode fingir que está fazendo uma 'selfie' e tirar a foto dos outros", comenta o presidente da ANA.

Editora do portal e da revista Brasil Naturista, a gaúcha Carina Moreschi, que conhece todas as praias nudistas do país, entre elas Abricó, recomenda que os frequentadores sempre evitem constranger as outras pessoas que estiverem no local. "Tem que ter uma certa cautela. Não tem problema tirar foto de si próprio ou do grupo que estiver com você, mas sempre precisa cuidar do ângulo para não não mostrar outras pessoas. Se a pessoa for vista fazendo fotos às escondidas, pode ter problemas com os outros", afirma Moreschi.

Para garantir o cumprimento das normas dentro da área reservada ao nudismo na praia de Abricó, a ANA disponibiliza seguranças aos sábados, domingos e feriados, das 7h até o cair da tarde. A lei sancionada pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), de autoria da vereadora Laura Carneiro (PTB), determina que o poder público providencie segurança e ordem no local, "inibindo abusos de qualquer natureza".

Embora a lei determine que a praia inteira é de nudismo, apenas em 250 m dos 800 m de extensão da faixa de areia de Abricó solicita-se que as pessoas fiquem completamente nuas. No resto, é possível ficar vestido ou pelado. "A restrição é para evitar que se cause constrangimentos para quem vai ao local para praticar o naturismo", explica Ribeiro. Na lei recém-sancionada, o naturismo é definido como "o conjunto de práticas de vida ao ar livre em que é utilizado o nudismo como forma de desenvolvimento da saúde física e mental das pessoas de qualquer idade, através de sua plena integração com a natureza".

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Confira onde ficam

De acordo com Carina Moreschi, tanto homens como mulheres devem sempre lembrar de levar para a praia uma toalha e, principalmente, uma canga, "o traje oficial do naturista", segundo ela. "Vai servir para várias coisas: sentar na areia, apoiar em um assento público, que é usado coletivamente...", ensina. Ela também lembra da importância de usar protetor solar "com fator de proteção generoso", sobretudo em partes do corpo que não são geralmente expostas ao sol.

Entre as restrições estabelecidas pela ANA e pela FBrN, também estão o porte ou o uso de drogas e armas de fogo e a prática de algum tipo de esporte "que possa trazer riscos, incomodar ou atrapalhar na circulação das pessoas pela praia", além de exagerar na bebida e incomodar os outros frequentadores.

Naturista há 18 anos, Carina diz acreditar que ir a uma praia naturista é exatamente como ir a uma praia normal: "a única diferença é que você vai estar nu".

Imagem negativa

Segundo o presidente da ANA, nos dias de semana, quando a associação não está na praia de Abricó, acontecem vários "problemas" no local. "Não temos condições de atuar lá no meio da semana e muita gente vai para fazer sexo ou para se masturbar na frente de outras pessoas. Muita gente ainda confunde naturismo com sacanagem", afirma Pedro Ribeiro. Em Abricó, diferentemente de outras praias naturistas do país, não há restrição de entrada de homens sozinhos.

"Isso acontece constantemente e esse tipo de comportamento deturpa o que é naturismo. A praia acaba tendo uma imagem muito ruim. As pessoas combinam de ir lá para transar nas redes sociais. Eu já cheguei a denunciar, mas os próprios policiais dizem que Abricó é lugar de p...ria", conta o presidente da associação local.

Para Carina, o fato de Abricó ser a única praia "urbana", localizada em uma capital, entre as naturistas no país, contribuem para problemas como esses. Mas ela acredita que, nos dias em que há naturistas de verdade no local, esse tipo de comportamento é automaticamente inibido. "A pessoa que vai com esse intuito, já cai na real quando chega, porque encontra famílias inteiras, crianças, idosos, e percebe que está no lugar errado".