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No RS, empresário rebatiza torta "nega maluca" de "afrodescendente"

Torta "afrodescendente", vendida em Rio Grande (309 km de Porto Alegre) - Divulgação
Torta "afrodescendente", vendida em Rio Grande (309 km de Porto Alegre) Imagem: Divulgação

Lucas Azevedo

Do UOL, em Porto Alegre

06/05/2015 16h56

A preocupação de um pequeno empresário pelo politicamente correto se mostrou uma bela peça de marketing. Como intuito de rebatizar em sua padaria a tradicional torta "nega maluca", Gilberto Ponce Dias arriscou. Trocou o nome para "afrodescendente".

Desde então, vê o movimento no seu comércio, localizado na Praia do Cassino, na cidade de Rio Grande (309 km de Porto Alegre), no sul do Rio Grande do Sul, aumentar. 

Ele disse que a troca do nome do doce não se deu pensando em propaganda, mas como uma maneira menos pejorativa de se referir ao quitute. "Há uns cinco anos, quando começou a engrossar essa onda do politicamente correto, decidi transformar o nome." 

Dias afirmou que o novo nome foi recebido com simpatia pela maioria dos fregueses. "Alguns acham engraçado, outros questionam se não é falta de respeito. Recebo bastante questionamentos, mas nunca críticas. Para mim é correto essa maneira de chamar. Não estou usando nenhum termo pejorativo."

Desde então, sua padaria faz cada vez mais negas malucas, ou melhor, afrodescendentes, que já se tornaram carro-chefe do comércio. "Acabou ajudando nas vendas porque virou assunto. Saímos do comum", disse o empresário.

Além da "nega maluca", o "doce negrinho", como é chamado no RS, também foi rebatizado em sua padaria. Agora na padaria de Dias só se encontra brigadeiro, como é conhecido na maior parte do país. 

Para o coordenador de formação politica do MNU (Movimento Negro Unificado) do RS, Antonio Matos, a nova nomenclatura sugerida por Dias não é ofensiva.

"Não vejo grandes problemas. O nome 'nega maluca' vem de um um tempo em que a ironia e o desprezo em relação à negritude eram muito latentes. Aqui no RS, por exemplo, chamamos os doces de 'negrinho' e 'branquinho', algo que não ocorre nos outros Estados."

Para o ativista, o politicamente correto também não pode ser encarado como uma "moda". "As generalidades preconceituosas vão surgindo pelas relações da sociedade. Temos é que avançar no respeito ao outro."