Colorados e gremistas juntos: 'Ex-lateral do Grêmio me resgatou em jet-ski'

O apartamento do fotógrafo Lucas Cavalheiro, 39, estava cheio: 13 pessoas esperavam o melhor momento de deixar o local, após as enchentes que arrasaram Porto Alegre e outros municípios do Rio Grande do Sul. A água —na rua que virou rio— já chegava à altura do pescoço quando a família avistou um barco.

Resgatados, foram levados a uma outra embarcação —e a surpresa foi ver quem estava no comando do jet-ski que puxava o barquinho: Edilson, ex-lateral-direito do Grêmio, ajudava no resgate. "Torço para o Internacional e, mesmo de times adversários, vou ser eternamente grato ao que ele fez."

Ao UOL, Lucas conta sua história.

'Rua virou rio'

"Moro no bairro de Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, uma das regiões isoladas pelos alagamentos. Meu sogros vivem em São Leopoldo [na região metropolitana] e, quando a casa deles começou a enfrentar o risco de alagamento, eles vieram ficar na minha. A deles, de fato, alagou no dia seguinte.

No meu apartamento estavam 13 pessoas: eu, minha mulher, minhas três filhas, de 8, 6 e 4 anos, e mais oito pessoas que vieram de São Leopoldo. Como moro no quarto andar, acreditava que minha casa não estava correndo risco de alagamento.

Mas a água começou a subir no meu bairro também. O que era uma rua no sábado tinha se tornado um rio na terça-feira.

Ficamos sem água, sem energia e a situação começou a se tornar preocupante, principalmente em relação à segurança. Estavam rolando muitos arrombamentos e assaltos aos barcos que passavam por ali. Decidimos que era melhor abandonar o prédio.

Água na altura do pescoço'

Na manhã de terça (7), vimos um barco chegando na frente do nosso condomínio. A água já estava na altura do pescoço. Entramos na embarcação da Polícia Civil com oficiais de Santa Catarina. Eles nos levaram até um primeiro ponto seco, ainda na zona norte de Porto Alegre. A partir daquele local, seguiríamos em outro barco, ajudados por outra equipe.

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O segundo barco que pegamos estava sendo puxado por um jet-ski pilotado por Edilson, ex-lateral-direito do Grêmio. Não o reconheci na hora. Fiquei tentando puxar na memória, porque sabia que o rosto era familiar. Lembrei quem ele era quando alguém gritou: 'E aí, meu lateral!". Nem tirei foto, foi muito rápido. E a saída do barco é sempre confusa para ninguém se perder.

Edilson em 2022, atuando pelo Grêmio
Edilson em 2022, atuando pelo Grêmio Imagem: Lucas Uebel/Gremio FBPA

Eu torço para o Internacional, mas moro muito próximo à Arena do Grêmio. Acredito que mais jogadores estão fazendo esse serviço e ajudando as pessoas da região. E, mesmo de times adversários, vou ser eternamente grato ao que ele fez. A gente agradece pelo ser humano que o Edilson é. Ele está ali, preocupado com as pessoas."

Ajuda de jogadores e surfistas

Edilson não é o único atleta que se voluntariou para ajudar no resgate. Jogadores de futebol e surfistas profissionais viraram ponto de apoio para o trabalho de resgate de pessoas isoladas em suas casas. Isso ocorre porque as forças de resgate ligadas às autoridades não têm sido suficientes para salvar todos os atingidos pela tragédia, informou a Folha de S.Paulo.

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Imagens de jogadores de futebol no trabalho de resgate circularam nas redes sociais, nos últimos dias. O centroavante do Grêmio Diego Costa, por exemplo, cedeu motos aquáticas em Eldorado do Sul, e o goleiro titular do Internacional Sergio Rochet ofereceu ajuda aos voluntários com o preparo de refeições. O goleiro Caíque, do Grêmio, também assumiu a linha de frente: imagens nas redes sociais mostram o atleta em uma embarcação resgatando pessoas em um prédio envolto por água.

Veja mais imagens dos resgates no RS

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Membro da Marinha do Brasil resgatando criança de helicóptero no bairro Mathias Velho, em Canoas, Rio Grande do Sul, Brasil, em 5 de maio de 2024
Membro da Marinha do Brasil resgatando criança de helicóptero no bairro Mathias Velho, em Canoas, Rio Grande do Sul, Brasil, em 5 de maio de 2024 Imagem: AFP

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