Prefeito, pai de Fufuca pagou R$ 9,7 mi a empresa de apoiadores do ministro

Uma empresa de engenharia criada há seis anos que teve três proprietários consecutivos com idade igual ou inferior a 25 anos fechou pelo menos R$ 9,7 milhões em contratos com a Prefeitura de Alto Alegre do Pindaré (MA), governada pelo pai do ministro André Fufuca, o prefeito Fufuca Dantas (PP). Dois dos donos da empresa são ex-funcionários de campanha do ministro dos Esportes. Os acordos foram firmados entre 2019 e 2023. André Fufuca nega qualquer conflito ético no caso (leia mais abaixo).

O que aconteceu

A Projeplan foi criada em 2018 com um capital social de R$ 600 mil. Este era o valor mínimo necessário para a empresa começar a operar. Um ano depois, a companhia começou a firmar contratos com a Prefeitura de Alto Alegre do Pindaré.

Empresa fechou contratos com verba federal. A Projeplan firmou com o município contratos que incluem obras de manutenção de prédios municipais, construção de unidades habitacionais e melhorias nas estradas da região.

São pelo menos 12 contratos e 4 aditivos assinados no período. O aditivo mais recente foi fechado em 29 de dezembro de 2023 e teve como objetivo prorrogar por mais um ano as obras de construção de 33 unidades habitacionais no município.

O número de contratos pode ser ainda maior. Isso porque no Portal da Transparência do município constam dois contratos que aparecem duplicados, com mesmo objeto e valor e que não foram considerados neste levantamento.

Atual proprietário é investigado pela PF. O atual dono da Projeplan é Caio Rubens Vieira da Silva, que completa 24 anos neste mês. Ele é alvo de uma investigação da PF do Maranhão por suspeita de compra de votos para o hoje ministro dos Esportes.

Caio virou alvo após ser flagrado com santinhos de Fufuca e um saco de dinheiro nas vésperas da eleição de 2018. Além disso, a PF também encontrou em seu celular conversas em que ele negocia voto em Fufuca em troca de dinheiro. A investigação da PF se arrasta desde 2018 e ainda não foi concluída.

Contrato sob suspeita com verbas da Codevasf

De todos os contratos firmados com a Prefeitura de Alto Alegre do Pindaré, há quatro que utilizam verbas do Fundeb e um com verbas da Codevasf. Este último tem suspeita de irregularidades.

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O convênio sob suspeita foi firmado com verba de uma emenda parlamentar de R$ 2,87 milhões indicada à Codevasf por André Fufuca em 2020. Na época, ele era deputado federal, e os recursos seriam direcionados para melhoria de estradas na região.

Contrato sob suspeita teve aditivo de 46%. A suspeita de irregularidade foi apontada pela própria Codevasf em ofício encaminhado à Prefeitura após ser revelado pela imprensa que o município assinou, em abril do ano passado, um aditivo que reajustava o valor inicial do contrato com a Projeplan de R$ 1,9 milhão para R$ 2,87 milhões.

O reajuste foi assinado sem autorização da Codevasf. Por meio do convênio, a companhia repassou todo o valor para a Prefeitura, que depois precisa prestar contas do que foi feito. A Codevasf então enviou ofício a Fufuca Dantas no dia 25 de março deste ano cobrando explicações em 45 dias.

Comunicamos que, após o decurso do prazo estipulado neste ofício, sem que haja saneamento das pendências apontadas no convênio, o concedente procederá, de ofício, ao envio de comunicação aos Ministérios Públicos Federal e Estadual, bem como à Advocacia-Geral da União.
documento enviado a Fufuca Dantas, assinado pelo Superintendente da 8ª Regional da Codevasf, que atende o estado do Maranhão, Clóvis Luiz Paz Oliveira.

Codevasf diz que município ainda não se explicou. Em nota enviada ao UOL, a Codevasf informou que ainda não recebeu nenhuma explicação da Prefeitura de Alto Alegre do Pindaré e que o município tem até o dia 17 de maio para responder ao ofício.

Bolsa Família e os donos da Projeplan

A Projeplan mudou de dono duas vezes em três anos. Dos três proprietários que a empresa teve, todos recebiam auxílio-emergencial durante a pandemia de covid-19 (um acabou devolvendo os recursos à União).

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Apesar de o capital social inicial da Projeplan ser de R$ 600 mil, ela foi fundada por uma beneficiária do bolsa-família do interior do Maranhão. Seu nome é Ramilla da Silva Targino, que recebeu o benefício de 2013 a outubro de 2019 e também recebeu auxílio-emergencial na pandemia nos meses de abril, maio, julho e dezembro de 2020, totalizando R$ 6 mil. Na época em que a empresa foi fundada ela tinha 25 anos.

Em dezembro de 2020, a empresa foi transferida para um jovem de 23 anos. Matheus Henrique de Souza Silva, o novo dono, também recebeu auxílio emergencial, entre maio de 2020 e outubro de 2021, no valor total de R$ 4.950.

Em novembro de 2021, Matheus transferiu a empresa para Caio Rubens Vieira da Silva, que tinha somente 21 anos na época. Assim como os donos anteriores da empresa, ele também recebeu verba de auxílio-emergencial do governo federal, entre dezembro de 2020 e outubro de 2021, mas posteriormente devolveu os recursos, como consta no Portal da Transparência.

Jovens atuaram para a campanha de André Fufuca em 2022. Em 2022, Matheus e Caio trabalharam para a campanha eleitoral de Fufuca. Os dois receberam R$ 10 mil cada um, segundo a prestação de contas de Fufuca entregue à Justiça Eleitoral.

Em 2022, mesmo ano em que Caio e Matheus participaram da campanha de Fufuca, a Projeplan registrou lucro de R$ 728,3 mil. A informação consta no balanço da companhia.

Fufuca diz não ter relação com contratos firmados por Prefeitura do pai

Procurada pelo UOL, a assessoria do ministro Fufuca afirmou que apesar de os empresários citados na matéria terem trabalhado em sua campanha, isso não configura relação de trabalho com eles.

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"O registro de prestadores de serviços contratados por um comitê eleitoral é ato obrigatório da prestação de contas das campanhas aos órgãos fiscalizadores e à Justiça Eleitoral. O que não pode ser traduzido em uma relação direta entre o candidato e o fornecedor do serviço. O ministro do Esporte, André Fufuca, reitera que as pessoas citadas nunca trabalharam como seus funcionários", diz a assessoria.

Questionado se não vê nenhum problema ético no fato de a Prefeitura comandada por seu pai firmar contrato com colaboradores de sua campanha, o ministro respondeu, via assessoria, que não cabe a ele opinar sobre as atividades do município maranhense.

Também questionado sobre o fato de indicar emendas parlamentares para a Prefeitura comandada pelo pai, Fufuca disse que uma de suas atribuições como parlamentar era "indicar projetos que tragam melhorias para estados ou municípios de sua base de atuação política".

A eleição pelo voto direto de duas pessoas da mesma família não pode ser argumento utilizado para prejudicar a população de um município, privando-a de melhorias através do repasse de recursos federais.
ministro Fufuca, via assessoria de imprensa

Prefeitura e donos da Projeplan não responderam

O UOL tentou contato com todos os citados na reportagem.

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A reportagem enviou email para a Prefeitura em 25 de abril e tentou contato por telefone nos números disponíveis no site da Prefeitura, mas sem sucesso.

O advogado de Caio Rubens Vieira da Silva não retornou as tentativas de contato. A Projeplan, procurada por email, também não se manifestou.

A reportagem também ligou para os outros dois ex-proprietários da Projeplan, mas ninguém atendeu o telefone ou respondeu as mensagens encaminhadas por email.

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