Possível envolvimento do Bope faz família de Amarildo temer retaliação
A notícia de que o Ministério Público pretende investigar a participação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) no desaparecimento de Amarildo de Souza deixou a família do ajudante de pedreiro em estado de alerta. Amarildo sumiu após ser abordado por PMs da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, há dois anos.
“O nosso medo é que eles se sintam ameaçados e façam alguma coisa contra a nossa família”, afirma a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda. “Era algo que já tínhamos falado [que o Bope poderia estar envolvido no caso], então nos sentimos ouvidos, mas ao mesmo tempo muito assustados. O Bope entra a hora que quiser em qualquer lugar, a Polícia Militar ao menos precisa de um mandado.”
Além disso, segundo Michele, a família também teme que a mudança dificulte ainda mais a recuperação dos restos mortais do pedreiro. “Eles são profissionais, a elite da polícia, não o esconderiam em qualquer lugar. Se o Bope participou disso vai ser muito difícil encontrar o corpo do meu tio.”
O comando-geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro determinou nesta terça-feira (23) a abertura de um IPM (Inquérito Policial Militar) para que a Corregedoria investigue um suposto envolvimento do Bope no caso. Na segunda-feira (22), imagens de câmeras de segurança obtidas pelo Ministério Público e divulgadas pelo "Jornal Nacional", da "TV Globo", mostraram que quatro caminhonetes do Bope foram até a comunidade na noite do dia 14 de julho de 2013, última vez em que a vítima foi vista.
Ao deixar a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), no alto da favela, um dos carros transportava volume suspeito, que, segundo análise pericial do MP, pode ser o corpo de Amarildo. Além disso, o dispositivo de geolocalização, que possibilita o monitoramento do trajeto percorrido, foi desligado em circunstâncias ainda não esclarecidas. O equipamento ficou quase uma hora sem funcionar.
A promotoria do Ministério Público informou que continuará trabalhando no sentido de aprimorar a qualidade dessas imagens, que devem ser anexadas ao processo em curso na Justiça. De acordo com a denúncia do MP, Amarildo foi torturado e morto dentro da base da UPP Rocinha.
No total, 25 policiais militares foram denunciados pelos crimes de sequestro, homicídio e ocultação de cadáver. Entre eles está o ex-comandante da UPP, major Edson Santos, preso atualmente no BEP (Batalhão Especial Prisional).
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