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Condomínios do RJ e de SP alertam contra falsos funcionários de TV paga

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Ribeirão Preto

14/08/2015 22h16

Um velho golpe com nova roupagem tem sido usado por ladrões interessados em roubar condomínios, especialmente os de alto padrão, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os criminosos têm se utilizado de dados cadastrais de clientes da empresa de telecomunicações NET, além de crachás e uniforme de funcionários da empresa, para entrar nos prédios, rendendo depois os donos das casas e roubando pertences de valor.

Na versão mais refinada do golpe, uma pessoa que se identifica como funcionário da NET entra em contato com o cliente e fornece os dados cadastrais dele. Depois que o morador confirmar, o golpista informa que a empresa irá fazer uma visita para realizar alguns procedimentos na rede. Outras vertentes incluem o envio de cartas e panfletos em nome de empresas de TV a cabo avisando sobre a manutenção.

Golpe Net - Divulgação - Divulgação
Administradora alerta sobre falsos instaladores de TV a cabo que assaltam prédios
Imagem: Divulgação

Sem desconfiar da farsa, o morador autoriza a entrada na portaria. O golpista chega ao local com um veículo adesivado da empresa e uniformizado, portando inclusive crachás. Dentro do prédio, geralmente em parceria com outro criminoso, eles acessam os apartamentos, rendem a família e roubam os apartamentos. Em alguns casos, dirigem-se a casas vizinhas e também roubam os pertences da família.

Várias administradoras de condomínio alertassem os condôminos sobre o golpe. "Muitas administradoras, individualmente, já alertaram seus condôminos, e nós estamos preparando um material. Esse tipo de golpe só pode ser prevendo com atenção", afirmou o diretor de Condomínio da Aabic (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), Omar Anauate.

Ele esclarece ainda que o golpe também é realizado com outras empresas, como Correios e companhias de eletricidade. "Os golpes são cíclicos, e a NET é a nova moda. Mas é preciso ter cuidado sempre, em todas as vertentes, para evitar problemas", disse.

Marchand

No mais notórios dos casos recentes envolvendo o tipo de golpe, ocorrido em 7 de agosto, dois homens armados invadiram um prédio de luxo na avenida Vieira Souto em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, e assaltaram o apartamento do marchand e antiquário Arnaldo Brenha. A família efetivamente esperava a visita de técnicos da NET, mas em outro horário.  Ao ver os bandidos disfarçados, o porteiro não chegou os crachás e liberou a entrada dos criminosos.

Dentro do condomínio, eles se dirigiram ao apartamento de Brenha, renderam três empregados e a mulher do marchand, Fabiana Tapajós. Os criminosos exigiram que ela abrisse os cofres onde o marchand guardava as joias. Os ladrões levaram o conteúdo dos cofres e fugiram. Até o momento, ninguém foi identificado. O valor do prejuízo não foi divulgado.

Cuidados

Para evitar que casos similares ao que ocorreu no Rio de Janeiro se repliquem pelo país, especialistas em segurança ouvidos pelo UOL afirmam que é preciso investimento. "Segurança é um tripé, precisa de treinamento de funcionários, conscientização dos condôminos e equipamentos”, disse Anauate.

Posição parecida tem o Secovi (Sindicato da Habitação) em São Paulo, De acordo com Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios da entidade, os condôminos precisam assumir a função de checar as informações e só liberar a entrada de pessoas que efetivamente forem fazer serviços em suas residências.

"Uma medida que deve ser tomada por todos é ligar para a prestadora e confirmar a realização de qualquer serviço e a identidade dos técnicos que irão ao local", disse. "Sem isso, o condômino não deve liberar a entrada", disse. "Da mesma forma, os porteiros devem ser treinados para consultarem as empresas e verificar a identidade dos técnicos independente do aval do morador", disse.

Responsabilidade

Embora os condomínios e entidades do setor façam o possível para garantir que golpes do tipo se proliferem, o Judiciário brasileiro tomou uma posição que pode ajudar a minorar os problemas do tipo.

Em decisão datada no início desse ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a NET ao pagamento de danos materiais e morais a clientes que tiveram o apartamento invadido por falsos funcionários da empresa. Eles portavam uniformes e crachás, além de se deslocarem em carro com o logotipo da empresa. A empresa foi condenada a pagar R$ 5 mil de dano moral e arcar com os custos de todos os bens roubados.

Segundo o desembargador Mário Silveira, a empresa merece a condenação por não ser diligente na proteção dos dados dos clientes. "Caberia à ré agir com diligência fornecendo os dados dos técnicos que visitarão a residência do consumidor", disse, ressaltando que os bandidos "além de se identificarem como funcionários da NET, possuíam informações" sobre o cliente, incluindo o número de contrato, o que "levou os autores a acreditarem que se tratava de visita técnica normalmente realizada pela NET, sendo que nenhuma das afirmações se mostra incongruente.

No processo, a NET sustentou que não poderia ser responsabilizada, uma vez que não tem qualquer relação com as pessoas envolvidas no roubo. Procurada através de sua assessoria de imprensa, a empresa não se pronunciou sobre nenhuma das questões até o fechamento da matéria.