Médico que fez hidrolipo em mulher que morreu tem 22 processos: 'Pesadelo'
O cirurgião plástico Josias Caetano dos Santos, que realizou a hidrolipo em Paloma Lopes, 31, morta na terça-feira (26), já responde a pelo menos 22 processos por erros médicos na Justiça de São Paulo.
O que aconteceu
Ao menos 22 mulheres entraram com processo contra o médico por dano estético. De acordo com o advogado José Beraldo, que representa as vítimas, há casos, inclusive, de mulheres mutiladas. "Essas mulheres foram procurar beleza, pagaram por um sonho, no fim restou um pesadelo. Eles se sentem monstras, muitas têm vergonha de usar biquínis em praias e estão abaladas emocionalmente", afirmou.
Maioria dos casos ocorreu entre 2018 e 2021. Beraldo explica que além dos processos criminais, também fez denúncias no Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), mas disse que a maioria dos casos no Conselho foi arquivado. "Se a Justiça e o Cremesp tivessem atendido aos meus pedidos, para que ele ficasse suspenso de realizar cirurgias, não teria acontecido a morte de Paloma, uma moça que foi buscar beleza e acabou nessa tragédia anunciada", declarou o advogado.
O advogado explica que todos os processos estão em andamento na Justiça de São Paulo. As denunciantes estão na fase da perícia judicial. As audiências, agendadas para 2025, serão realizadas no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo para provar os danos decorrentes dos procedimentos.
Mulher perdeu os mamilos após uma cirurgia de redução de mama. Sônia Maria Costa, 63, contou ao UOL que uma ONG indicou o médico Josias Caetano dos Santos para realizar o procedimento. Ela procurou o profissional em 2020 e pagou cerca de R$ 8 mil pela cirurgia. "Meus mamilos necrosaram, ele fez duas cirurgias e não falou que isso iria acontecer, a gente sabe que há riscos, mas eu me cuidei com enfermeiras, e ele não deu suporte. Meus seios ficaram um maior do que o outro, é um trauma".
"Até hoje me dói muito ver meus mamilos", diz Sônia. Ela diz detalha que o médico a fazia pensar que o problema teria ocorrido por causa dela. "Ele falava que era culpa minha", lamentou. A mulher entrou com um processo contra o médico em 2023 após ver uma entrevista de outra vítima na TV. "Eu fui para as redes sociais e encontrei várias mulheres que já tinham sofrido algo parecido comigo. O processo está em andamento, a minha perícia está agendada para abril do ano que vem".
O advogado do médico afirmou que Josias não foi condenado por esses casos. "Em relação a processos, vivemos em um estado democrático de direito, onde todos podem buscar a justiça quando se sentirem lesados. Informo que o doutor nunca foi condenado por erro de procedimento médico, que na nossa posição ocorre quando é verificado um erro de procedimento na cirurgia plástica", informou o advogado Lairon Joe.
"Além do erro médico, pode haver erro de informação, que é quando não se é informado, de maneira devida, as possíveis intercorrências, sendo que melhoramos todos os dias os nossos termos para não haver impugnação quanto a isso", acrescentou o advogado.
Na terça (26), uma mulher atendida por Josias Caetano morreu após uma hidrolipo em uma clínica no Carrão, em São Paulo. A polícia investiga o caso, que é tratado como morte suspeita.
Mulher de 31 anos morreu após passar mal em hidrolipo
Paloma Lopes Alves, 31, sofreu uma parada cardiorrespiratória minutos após o procedimento. Ela se submeteu a uma cirurgia na clínica Maná Day na manhã de ontem para remover gordura da região das costas e abdômen.
Médico diz que fez massagem cardíaca e entubou Paloma enquanto esperava o Samu. "Ela estava com angústia respiratória, muita falta de ar. Piorou muito e ficou inconsciente. Foi coisa de segundos", afirmou o cirurgião Josias Caetano à TV Globo.
O BO aponta embolia pulmonar como a provável causa da morte. A polícia aguarda o resultado do laudo do IML.
Marido fala em negligência. Everton Reigota estava na recepção da clínica e não foi informado sobre a emergência. "A clínica falou que era um procedimento tranquilo, é uma clínica bonita, luxuosa, mas não tinha os equipamentos necessários para dar suporte se tivesse alguma coisa", afirmou ele à imprensa após o sepultamento de Paloma.
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Quero receberEle diz que a clínica demorou muito para prestar socorro à esposa. "Vi o pessoal ali com uma cara diferente, não entendi o que estava acontecendo. Exigi ver minha esposa e quando entrei na sala, ela não estava lá. O médico veio falar comigo, tentando explicar, mas já era tarde".
Everton contesta a versão da clínica, que disse que Paloma saiu de lá com vida. "Reanimaram ela dentro do Samu, não dentro da clínica. Eles não tinham suporte nenhum". Antes de chegar ao Hospital do Tatuapé, Paloma sofreu uma segunda parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Se eu soubesse antes, eu tinha chamado o Samu, teria feito isso antes. Não demoraria tanto essa negligência deles.
Everton Reigota
Clínica não tinha licença sanitária
A clínica estética Maná Day foi interditada pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde, da Prefeitura de São Paulo. O local não tinha licença sanitária para realizar procedimentos invasivos.
Local também foi autuado por exercer atividade irregular, segundo a SMS (Secretaria Municipal da Saúde). "Não foi identificada licença sanitária junto à vigilância sanitária municipal ou mesmo solicitação de licenciamento sanitário protocolado", diz nota enviada pela pasta. A clínica fica localizada na Avenida Conselheiro Carrão, zona leste de São Paulo.
Paloma pagou R$ 10 mil pelo procedimento. Ela contratou a hidrolipo pela clínica Maná Day, que conheceu pela internet, e foi atendida por Josias Caetano, que atua como prestador de serviços médicos no local. A hidrolipo é uma alternativa mais simples à lipoaspiração convencional.
Os próximos passos da investigação
Médico Josias Caetano prestou depoimento e declarou que Paloma tinha plenas condições de saúde. Ele foi intimado a depor na 31º DP (Vila Carrão). O marido de Paloma, Everton, será ouvido como testemunha.
Polícia vai checar licenças da clínica e o registro do médico. Eles também vão verificar se a clínica Maná tinha suporte para atender situações de emergência.
Em nota, o Cremesp diz que soube dos fatos pela imprensa e apura o caso. "As investigações tramitam sob sigilo determinado por Lei".
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