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Após desastre, até produção de leite no Vale do Rio Doce tem queda de 10%

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

23/11/2015 10h00

Milhares de produtores de leite dos 102 municípios que compõem a região mineira do Vale do Rio Doce, sobretudo os proprietários que criam o gado à beira do rio que atravessa a região, os chamados “ribeirinhos”, reduziram a produção por conta da lama que tomou a calha do rio Doce, após o desastre das barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), no último dia 5.

A estimativa da Cooperativa Agropecuária do Vale do Rio Doce, que reúne 1,5 mil produtores de leite, é de que a produção média de 2,5 milhões de litros de leite por dia tenha tido uma retração em torno de 10%, com os produtores deixando de produzir algo próximo de 250 mil litros de leite por dia.

“Em média, a produção de leite na região está cerca de 10% menor. O problema é que essa queda, na maior parte, é de ribeirinhos, que dependem do rio Doce para o gado beber água e fazer a captação para a irrigação do sorgo e milho, os principais alimentos do rebanho”, afirma o presidente da Cooperativa Guilherme Olinto Resende.

“Alguns simplesmente pararam de tirar o leite. Perderam tudo”, afirma Resende. O produtor explica que ainda não há um balanço do número de animais que morreram na tragédia. “Não foram muitos animais mortos. Mas, agora que a flora e a fauna do rio acabaram, como será o futuro?”

A Cooperativa do Vale do Rio Doce parou por três dias, após o acidente, e teve de suspender a produção diária de 60 mil litros de lácteos, achocolatados e cremes, para disponibilizar a água utilizadas nessas linhas para a população de Governador Valadares (MG), que ficou sem abastecimento de água captada no rio Doce.

“Não é brincadeira. Como são embalagens de 200 ml, deixamos de produzir algo em torno de 3 milhões de unidades desses produtos”, afirma o presidente da cooperativa.

O presidente do Sindicato Rural de Governador Valadares (MG), Afonso Bretas, também diz que ainda não há como estimar a perda da produção e de dinheiro. “Os produtores, principalmente os ribeirinhos, estão sendo mais afetados com relação ao animais, que não podem usar a água do rio”, diz Bretas.

Ele lembra que os produtores que dependem do uso da água para irrigação, principalmente os que têm pivô central e plantio programado sequencialmente, estão no prejuízo. “Ninguém trabalha sem água. Todos são afetados. O prejuízo será grande”, afirmou.

Tratamento diferenciado

Nesta sexta-feira (20), o IMA (Instituto Mineiro de Agropecuária) disse que vai dar tratamento diferenciado aos produtores rurais atingidos pelo rompimento da barragem, possibilitando o completo recadastramento do rebanho bovino para quantificar as perdas por morte de animais, além de auxiliar também na comprovação da vacinação contra febre aftosa do gado.

O IMA informou ainda que vai disponibilizar o cadastro com dados oficiais dos produtores da região atingida, para definir o cenário anterior, o que vai contribuir com a definição de políticas públicas de atendimento aos produtores rurais da região, de acordo com o órgão.

“Será disponibilizado a cada produtor um histórico completo de seu rebanho e movimentações, em documento oficial denominado Ficha Sanitária, que é a comprovação aceita por instituições financeiras para análise de solicitações de empréstimos e financiamentos, como no caso do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)”, informa o órgão.

Dificuldades à vista

Os produtores rurais nos municípios no entorno da bacia hidrográfica do rio Doce vão ter enormes dificuldades para manter a produção agrícola e pecuária com a atual situação da água do rio.

A avaliação é da coordenadora técnica da Faemg (Federação da Agricultura de Minas Gerais), Aline Veloso. Segundo ela, a região é ocupada por proprietários de pequeno porte e agricultura familiar. “São produtores de frutas, verduras e leite, que abastecem o mercado local”, diz a coordenadora técnica.

A especialista explica que a produção agrícola e pecuária na extensão dos 90 quilômetros, entre Mariana (MG) e o município de Rio Doce (MG), praticamente acabou com a produção agrícola e pecuária dos municípios de Barra  Longa (MG), Ponte Nova (MG), Santa Cruz do Escalvado ( MG), além da própria Mariana e também de Rio Doce, que dependem exclusivamente do rio Doce.

“Não temos números ainda. A coisa ainda está acontecendo, mas nesses municípios que já foram atingidos, os prejuízos ainda incluem imóveis rurais, benfeitorias e animais”, afirma Veloso.

Veloso lembra que haverá necessidade de políticas públicas e intervenção estatal para levar ajuda a esses produtores. “Boa parte deles, perdeu tudo. Temos de tentar manter essas pessoas nesses locais, criando condições para que eles possam fazê-lo por um período que não sabemos quanto vai durar”.