Delegada conclui inquérito e indicia sete por estupro coletivo no Rio
A delegada da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima), Cristiana Bento, apresentou nesta sexta-feira (17) a conclusão do inquérito do caso do abuso sexual coletivo de uma adolescente de 16 anos em uma favela da zona oeste do Rio de Janeiro. Sete pessoas foram indiciadas por crimes como estupro de vulnerável e produção e divulgação de imagens referentes ao ato. Dois deles já estão presos. Os demais são considerados foragidos da Justiça.
Os indiciados são Raí de Souza (estupro, produção e divulgação de imagens), Raphael Assis Duarte Belo (estupro e produção de imagens), que já estão presos; e Sérgio Luiz da Silva Júnior, o "Da Russa" (estupro), Moisés de Lucena (estupro), Michel Brasil da Silva (divulgação de imagens), Marcelo Miranda Correa (divulgação de imagens) e um adolescente identificado como Perninha. As penas para os crimes são de 15 anos de prisão por estupro de vulnerável, oito por produção de imagens da vítima e seis pela divulgação dessas imagens.
Segundo Cristiana, será aberto um segundo inquérito para investigar outros possíveis acusados de participar do estupro coletivo, mas considerou "pouco provável" este número chegar a 33, como relatado pela vítima no primeiro depoimento à polícia. "A polícia de baseia em provas materiais e só as encontramos, até o momento, contra estes que foram indiciados. Espero que a Justiça estabeleça penas exemplares", disse.
A polícia solicitou à Justiça um mandado de busca e apreensão contra Perninha. Por esse motivo, ele ainda não é considerado foragido, já que ainda não houve determinação judicial. Cristiana explicou que ele é morador da favela e tem passagens anteriores pela polícia, todas por fato análogo ao tráfico de drogas.
Das sete pessoas responsabilizadas, a polícia concluiu que cinco participaram do estupro em si --Raí de Souza, Raphael Assis Belo Duarte, Moisés Lucena e Perninha, que tiveram contato direto com a vítima, e Da Russa, apontado como chefe do tráfico no morro da Barão, que teria consentido com o abuso coletivo. Para a delegada Cristiana Bento, "nada acontecia na favela sem o conhecimento" do suspeito. "Ele tem o domínio final do fato", disse.
Perninha ou Jefinho?
Segundo a delegada, a apreensão do celular de Raí, localizado na residência de um amigo, foi vital para a investigação. A perícia no aparelhou mostrou que Raí havia mentido em depoimento. À polícia, ele havia afirmado que um traficante conhecido como "Jefinho" teria sido o responsável por gravar imagens da vítima na cena do crime. No entanto, o verdadeiro apelido do suspeito é "Perninha", informou Cristiana, um adolescente de 17 anos envolvido com o tráfico de drogas e com várias passagens pela polícia.
A cultura do estupro sempre pretende colocar a culpa na vítima ou até despenalizar o agressor. Ah, ele é um doente, um psicopata. Acho que é um alerta que se faz. As pessoas vão ter mais cuidado
Delegada Cristiana Bento
A chefe da DCAV explicou ainda que os áudios recuperados em um aplicativo instalado no celular de Raí mostram que ele combinou a versão apresentada à polícia com o suspeito Raphael Assis Duarte Belo. Na conversa, Raí orienta o seu interlocutor a confirmar para os investigadores o nome "Jefinho". "Ele insinua que esse Jefinho 'não vai aparecer' porque 'deve cadeia' [em referência a trechos do diálogo]. Mas com a apreensão do celular, ficou provado que o Jefinho não existe", disse ela.
Para chegar à casa onde estava escondido o celular de Raí, Cristiana afirmou que a polícia fez uma varredura nas redes sociais, analisando informações em mais de 2.000 perfis no Facebook e no Twitter. Além do aparelho eletrônico, no mesmo local, os agentes da DCAV também encontraram a bermuda que Raí utilizou no dia do crime, o que ajuda, segundo ela, a desconstruir a versão da defesa de que ele deixou a cena do crime antes do estupro coletivo.
"A mulher não é uma coisa"
Cristiana afirmou que a apuração e a repercussão do estupro coletivo da jovem carioca "vai fazer história no país", pois revela o caráter "hediondo" do crime e fez com que a sociedade começasse a "pensar sobre o conceito e a cultura do estupro". "Também é um alerta para a própria comunidade [em referência ao comunidade do Barão, em Jacarepaguá, local do crime]. Os próprios agressores não têm essa consciência de que era um estupro", declarou. A mulher não é uma coisa. Ela tem que ser respeitada."
A delegada disse ainda não ser possível avaliar, a partir das informações e das provas coletadas, a quantidade exata de pessoas que participaram do abuso. A investigação foi desmembrada e continuará com inquéritos em duas delegacias diferentes. A DCAV seguirá investigando o adolescente identificado como Perninha. Já a apuração quanto à participação de outros traficantes da comunidade da Barão ficará com a Delagacia de Combate às Drogas.
Um dos primeiros suspeitos, o jogador de futebol Lucas Perdomo, não teve qualquer participação no caso, de acordo com a polícia. Com isso, ele não foi citado na conclusão do inquérito. A reportagem tentou contato com os advogados de Raí e de Lucas, mas não obteve retorno. (Com Estadão Conteúdo)
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