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Não somos diferentes por morar aqui, dizem jovens de bairro de vítimas de chacina

Grafite no muro externo da EMEF Cidade de Osaka, distrito de São Rafael, onde viviam jovens que morreram em recente chacina em São Paulo - Guilherme Azevedo/UOL
Grafite no muro externo da EMEF Cidade de Osaka, distrito de São Rafael, onde viviam jovens que morreram em recente chacina em São Paulo Imagem: Guilherme Azevedo/UOL

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

11/12/2016 06h00

A frase do título desta reportagem pertence ao trabalho de conclusão de curso de um grupo de alunos do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Professor Isaac Schraiber, no Parque São Rafael, extremo leste da capital paulista, onde moravam cinco jovens que foram encontrados mortos em Mogi das Cruzes (SP), no dia 6 de novembro último.

O trabalho se intitula "Periferias do Brasil" e procura mostrar que grande parte dos problemas da população periférica, como a criminalidade e o consumo de drogas, está associada à falta de emprego e de educação de qualidade e não a uma predisposição natural de caráter. Não se nasce criminoso, querem dizer os alunos.

Outra preocupação dos alunos foi enfatizar que a periferia é também feita de coisas boas, de uma juventude como qualquer outra, que sonha e busca um futuro baseada no esforço. "Não somos diferentes por habitar uma região como essa", afirmam na introdução do trabalho.

São Rafael - Zanone Fraissat/Folhapress - Zanone Fraissat/Folhapress
O distrito de São Rafael abriga grandes sonhos do jovem de periferia
Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress
Os estudantes dos nonos anos da Escola de Ensino Fundamental Cidade de Osaka, no Parque São Rafael, conversam no intervalo da encenação de uma peça sobre o racismo. O enredo do drama "Vista Minha Cor, Sinta Minha Dor", escrito pelos próprios alunos, é esperançoso. A filha de um casal branco e rico tem uma doença rara que só o filho da empregada pode salvar. O menino é negro e doa um rim à menina. Termina adotado.

A reportagem do UOL ouviu desses garotos que o futuro até os amedronta, mas não pode impedir seus sonhos. E com que sonham esses meninos e meninas entre 14 e 16 anos?

Pensam em quais profissões vão ter, indo desde modelo e jogador de futebol a advogado criminal e engenheiro civil, "para consertar o mundo todo", conforme diz uma garota. "Só dependo da minha força de vontade", comenta outra.

Querem fazer coisas novas, ajudar as pessoas e combater o preconceito. Mas desejam também pedidos mais simples, como ter uma família ou "uma casa enorme, com piscina".

"A gente vai crescendo e tem mais responsabilidade. Quando se é criança, a gente não precisa limpar a casa", diz uma jovem que tem afazeres domésticos com as duas irmãs.

"Não gosto de pensar no futuro, só gosto do presente. Quando penso no futuro, sinto um frio na barriga", comenta outra garota.

O sinal anuncia o fim das atividades na escola. O futuro é deles.