"Tenho nove irmãos. Imagina como será meu Natal", diz refugiado em São Paulo
O Natal é um feriado cheio de tradições em que costumamos fazer uma boa ceia e rever os parentes que não vimos o ano todo em uma festa cheia de alegria. Porém, para aqueles que deixaram seu país de origem, a festa pode não ser tão tradicional.
Refugiados que escolheram o Brasil como segunda casa contam que o espirito natalino traz saudade das origens e da família e amigos queridos. A data, contudo, também traz gratidão pela nova chance.
Natal com espiritualidade e novos amigos
"Sou cristão, gostaria de passar o Natal com minha família, com nossas tradições. Mas estou bem aqui, será um Natal bom", diz Égide Nshimirimana, 26, que veio do Burundi, na África, em 2015.
O Burundi passa por uma violenta crise política desde o ano passado.
Égide conta que tem insuficiência renal e não conseguia tratamento, precisava atravessar a fronteira semanalmente para fazer hemodiálise. "Gastava muito e com as viagens não tinha como trabalhar, saí do país para conseguir me tratar". Hoje ele mora em São Paulo e busca alunos para dar aulas particulares de inglês e francês.
Como não conhecia ninguém no Brasil, seu primeiro Natal no país foi solitário. "Não teve festa, eu fui à Igreja."
Porém, este ano Égide participou de um programa da Adus (Instituto de Reintegração de Refugiados) e foi convidado a passar o Natal na casa de uma voluntária. "Eu acostumei a fazer festa em casa, com a família, tenho nove irmãos, imagina! Vai ser bom ver como será a festa aqui", conta.
Finalmente um Natal em família
Para Omana Ngandu Petench, 51, da República do Congo, este Natal será especial. Depois de dois anos passando a data sozinho, ele conseguiu trazer a família para o Brasil e promete festa para comemorar.
Pai de cinco filhos, Petench era perseguido por militar em favor de mulheres e crianças. "Tinha uma ONG para combater violência sexual contra mulheres e contra o aliciamento de crianças pelas milícias locais", conta.
Homens armados invadiram sua casa e chegaram a atirar em Petench, mas ele sobreviveu e fugiu para o Brasil em 2013. "Fiquei um ano sem saber da minha família, mas um amigo conseguiu achá-los e em abril deste ano nos reencontramos em São Paulo".
"Sou cristão presbiteriano e esse Natal será especial para mim, já que consegui reunir minha família. Agora estamos unidos e vamos comemorar a felicidade de morar juntos no Brasil", afirma Petench, que abriu a ONG Língua Francesa e Cultura Africana do Brasil, para preservar sua cultura e apoiar refugiados, especialmente mulheres e crianças.
Aprendendo a celebrar o Natal
O refugiado sírio Talal Altiwani, 43, e sua família deixaram a cidade de Damasco e vieram morar em São Paulo no fim de 2013. O Brasil foi o país escolhido por abrir as portas para sírios que viajam sem documentos.
"Sou muçulmano, então não comemorava o Natal. Às vezes caminhava pela região que era onde cristãos moravam em Damasco para ver como eles celebravam a festa, as luzes, mas a data não era especial para mim", conta Talal Altiwani.
Desde que chegou ao Brasil, o refugiado e sua família passam a data com brasileiros.
"É uma reunião, levo comida síria para participar do evento. Fico muito feliz que o brasileiro respeita minha religião. No Islã, não se pode beber nada alcoólico ou comer carne de porco. Em todas as festas que fui convidado a família não colocou nada disso na mesa, me respeitaram".
E com certeza as comidas árabes fizeram sucesso na ceia. A família síria inaugurou este ano um restaurante de comidas típicas, com ajuda de uma campanha de financiamento coletivo na internet.
"Fico pensando que tenho saudade da Síria. Minha família e a da minha esposa ainda está lá. Mas não volto com guerra. Posso visitar, mas para morar acho difícil."
Nostalgia natalina
Boileau Edy-Benson, 25, saiu do Haiti e veio sozinho para o Brasil no final de 2015. Além das condições precárias que o país ficou após o terremoto que matou mais de 200 mil pessoas em 2010, atualmente o Haiti enfrenta crise política e econômica.
"Sou católico, e o Natal para os haitianos é um momento de felicidade e para aprender a dividir", conta ele. "Aqui não tenho muitos amigos, fico nostálgico nessa época do ano e pensando em voltar para ver minha família quando terminar de estudar", diz Edy-Benson.
Estando longe da família, Edy pensou em viajar este ano, para conhecer mais da cultura do país em que mora. "É importante para um estrangeiro conhecer outros Estados e ver como o brasileiro é animado."
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